MUDANÇA

Pastor será nomeado diretor do Departamento de Patrimônio Imaterial do Iphan

Atual diretor recebeu a notícia de sairá do cargo. Foi publicada nesta sexta-feira (4/12), no Diário Oficial da União, a cessão do pastor, que é também professor da UFRN

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) irá trocar o diretor do Departamento de Patrimônio Imaterial (DPI), colocando um pastor evangélico no cargo. Tassos Lycurgo Galvão Nunes, que é também professor do programa de pós-graduação em design na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), irá assumir o posto. A mudança está gerando críticas internas.

A alteração ainda não saiu no Diário Oficial da União (DOU), mas foi publicado no documento desta sexta-feira (4/12) a cessão de Lycurgo. O Iphan confirmou que ele deve ser nomeado, mas não informou o motivo da mudança, tampouco os critérios usados para a escolha. A reportagem apurou que o atual diretor, Hermano Fabrício Oliveira Guanais e Queiroz, foi informado que seria removido do cargo e, em seguida, a cessão saiu no DOU.

Queiroz é bem avaliado internamente. Ele é advogado, mestre em Preservação do Patrimônio Cultural pelo Iphan, tendo passagem como diretor de Projetos, Obras e Restauro no Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (Ipac) da Bahia, em 2015; e diretor de Preservação do Patrimônio Cultural, no ano seguinte.

Tassos Lycurgo também é advogado, mas, apesar do longo currículo, não possui nele referências na área do DPI. É pós-doutor em apologética cristã pela Universidade Oral Roberts (EUA) e em sociologia jurídica pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPB). Tassos é doutor em educação — matemática/lógica pela UFRN; mestre em filosofia analítica pela Universidade Sussex, na Inglaterra; e especialista em direito material e processual do trabalho pela Universidade Anhanguera (Uniderp), instituição do Mato Grosso do Sul.

Em seu currículo, ele ainda inclui graduação em liderança avançada (Instituto Haggai, Tailândia), ministério pastoral, pela Universidade RBT (EUA), e estudos bíblicos pela mesma instituição. Ainda sobre o seu histórico, ele ressalta que já publicou nove livros, sendo o mais recente: "Job. Betrayed by God? Delivered to the Devil?" (Jó. Traído por Deus? Entregue ao diabo?)

Escolha ideológica

A mudança é vista como mais uma escolha ideológica no governo. A diretoria em questão é importante, quando cuida de políticas de salvaguarda do patrimônio imaterial, o que envolve celebrações e formas de expressão de comunidades tradicionais, quilombolas e indígenas, por exemplo. O órgão vem sofrendo mudanças questionadas por especialistas, servidores e ex-servidores do Iphan. 

Professor de arquitetura brasileira na Universidade de Brasília (UnB), Andrey Schlee, que atuou como diretor do patrimônio material e fiscalização do Iphan de 2012 a 2019, diz que a exoneração do especialista Hermano Queiroz “fecha um ciclo”. “Agora temos paraquedistas, blogueiros, vendedores de pacotes turísticos e até um pós-doutor em apologética cristã, quando só necessitávamos de algum especialista na defesa do Patrimônio Cultural”, afirmou.

Tassos é pastor em uma comunidade chamada Defesa da Fé, e escreve textos para o site. Em um deles, publicado em 2017 e republicado pelo perfil das redes sociais da comunidade Defesa da Fé em 2018 e 2019, ele defende que crianças não devem comemorar o Halloween, que ele chama de “festa pagã”, “porque os princípios e conceitos que são celebrados naquela festa são contrários à palavra de Deus”. No início, ele ressalta entender que quem é o responsável pela criança que “deve saber o que é melhor para o seu filho”.

“O Halloween é uma excelente oportunidade para ensinar aos nossos filhos como se comportar nesses tempos de influência diabólica. Creio que podemos utilizar a oportunidade para ensiná-los que eles têm um papel importante no mundo, que é o de influenciar as pessoas positivamente, criando oportunidades para isso”, pontuou.

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