Aliado do presidente Jair Bolsonaro, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), lançou nesta quinta-feira (3/12), em caráter experimental, a rede 5G da empresa chinesa Huawei para o agronegócio no município de Rio Verde. O sinal foi ligado pela operadora Claro, e a instalação, em dois pontos da cidade, é vista como a primeira executada no campo no país no âmbito de testes. A intenção é usar em tecnologias como “prova de conceito” — ou seja, a aplicação de um conceito na prática a fim de demonstrar o que é possível fazer com o 5G no agro.
A decisão de Caiado, de embarcar nos testes da nova tecnologia, ocorre em meio a diversos questionamentos sobre a segurança de dados da empresa vindo de dentro do governo federal, que segue a linha do atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Recentemente, o filho do presidente Jair Bolsonaro, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), iniciou uma crise diplomática entre o Brasil e a China ao acusar o país de espionagem via 5G.
Em uma série de tuítes, que ele depois apagou, Eduardo disse que “o Brasil apoia o projeto dos EUA para o 5G e se afasta da tecnologia chinesa", e que o governo de Bolsonaro já “declarou apoio à aliança Clean Network, lançada pelo governo Donald Trump, criando uma aliança global para um 5G seguro, sem espionagem da China". Depois disso, a China emitiu uma dura nota criticando o parlamentar. Por sua vez, o Itamaraty enviou uma carta criticando a postura da embaixada chinesa no Brasil em sua resposta a Eduardo.
Caiado, aliado de Bolsonaro — com quem rompeu brevemente no início da pandemia do novo coronavírus — minimizou situação ao ser questionado sobre de que forma o lançamento do 5G da Huawei em Rio Verde (GO) impacta na relação entre ele e o Palácio do Planalto. “Esses poucos fatos, eles são acessórios diante do principal”, disse. E ressaltou: “O que nós estamos discutindo aqui é ciência, é pesquisa, é cada vez mais renda para o agricultor, é desenvolvimento (...) E que Goiás tem, mais do que nunca, ao menos no meu governo, se inserido no que tem de mais moderno”.
Escolha certa
Questionado pelo Correio, o presidente da Huawei no Brasil, Sun Baochegn, disse que o Brasil é um país “jurídico", e que acreditava que as críticas advindas do governo brasileiro não teriam nenhum impacto à empresa no país, por acreditar que o mercado brasileiro é um mercado livre, sem discriminação. O presidente frisou acreditar que o governo federal fará a escolha correta.
“A Huawei já está aqui há 22 anos e nunca aconteceu nenhum acidente de segurança cibernética, e as críticas dos EUA têm falta de evidência. Então, não vai impactar a Huawei no Brasil”, disse.
O evento teve a presença de autoridades locais e dois deputados federais goianos. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), havia confirmado presença, mas não foi. Apesar de convite a diversos ministérios, apenas a pasta das Comunicações enviou um representante, o coordenador de Políticas de Investimento, Marcelo Romão Manhães.
Parceria
A parceria foi firmada entre o governo de Goiás e a Huawei, conforme apurado pela reportagem. A Claro foi, então, procurada há cerca de um mês pela chinesa para que fizesse a ativação do sinal no Centro de Excelência em Agricultura Exponencial (Ceagre), dentro do Parque Tecnológico do IF Goiano, um instituto de ensino em Goiás, e em uma fazenda de Rio Verde, tida como “fazenda modelo”. Antes de ativar, a operadora obteve licença de uso experimental com validade de seis meses e prorrogáveis por mais seis.
Deixando de lado as regras de distanciamento, a visista ao Parque Tecnológico fez com que ficasse lotado o espaço, que é uma espécie de galpão com duas entradas do mesmo lado.
5G no Agro
A ideia é usar o 5G para coletar de dados de áreas de plantio de forma acelerada e usar inteligência artificial para gerir ações. Foi demonstrado na fazenda modelo como funcionará o drone e o smart rover, a fim de apresentar a viabilidade tecnológica com o 5G.
O drone fará imagens de plantações, enviará as informações à "nuvem", e a inteligência artificial (IA) irá identificar e classificar a erna daninha. A intenção é, futuramente, fazer com que a IA dê o comando do que deve ser feito — como já aplicar pesticida, ou mandar o trator executar algum trabalho.
No caso do smart rover, é um veículo autônomo que faz imagens em 360º da parte inferior da plantação, identificando pragas. A ele pode ser dada uma missão, e ele a executa, desviando de obstáculos, ou é possível controlá-lo remotamente. Já se estuda a possibilidade de incluir sensores de temperatura e umidade, por exemplo, no equipamento.