Considerado um articulador do Executivo com os outros Poderes, o ministro das Comunicações, Fábio Faria, rejeita o título e diz que a imagem surgiu porque chegou ao governo no momento de maior estresse entre as instituições, o que foi resolvido por vontade de todos. Ele diz não ter dúvidas de que, apesar de muitos afirmarem que o presidente Jair Bolsonaro saiu derrotado das eleições municipais, o chefe do Executivo continua forte e sua reeleição é muito provável em 2022.
No entender do ministro, não haverá tempo suficiente para que o grupo de centro-direita que saiu fortalecido das urnas construa uma candidatura com musculatura suficiente para fazer frente a Bolsonaro e a um representante da esquerda. Dos nomes citados como possíveis cabeças de chapa da direita mais moderada, Faria ressalta que o ex-juiz Sergio Moro saiu do jogo político ao migrar para a iniciativa privada e se envolver em conflitos de interesse.
Afirma que o governador de São Paulo, João Doria, desgastou-se por causa de uma sucessão de “traições”. Frisa que Rodrigo Maia é um grande articulador político, mas não tem votos, e acredita que Luciano Huck deve continuar como apresentador de tevê, pois os eleitores não querem se arriscar em uma aventura parecida com a de Wilson Witzel, eleito para o governo do Rio de Janeiro com um discurso contra a corrupção, mas que deve perder o mandato .
O ministro diz, ainda, que o governo tem o direito de apoiar candidatos para as presidências da Câmara e do Senado que defendam a agenda conservadora nos costumes e liberal na economia, hoje interditada. E um bom nome para defender os interesses do Palácio do Planalto é o do deputado Arthur Lira, do PP. Sobre o fortalecimento do Centrão nas urnas, Faria ressalta que isso não significará a volta do toma-lá-dá-cá, por meio de mais vagas no ministério.
Para Faria, a única crise que existe no governo é a “crise de palavras”, que cria uma cortina de fumaça e faz com que as entregas não cheguem na ponta. “Não tem nenhum ponto que desabone o governo. Não há uma denúncia de corrupção. Na pandemia de covid, não faltou dinheiro para estados e municípios, não faltou dinheiro para as empresas, não faltou para os desempregados. Não faltou para nada”, defende.
Sobre a polêmica que envolve o leilão do 5G, com ameaça de restrição aos fornecedores chineses, alvo de nota das operadoras do país, o ministro prefere se manter neutro. Diz apenas que ninguém do Executivo falou sobre isso, que a decisão estará contemplada no relatório da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e que o assunto será avaliado de forma técnica. “Tem muito mais de briga geopolítica nisso do que qualquer outra coisa”, afirma. Veja a seguir os principais trechos da entrevista concedida ontem no Ministério das Comunicações:
Estamos vindo de eleições municipais. Como o senhor viu o resultado das eleições e que recado as urnas deram ao governo?
O governo não recebeu nenhum recado das urnas. O próprio presidente Jair Bolsonaro pediu para que nenhum ministro, nenhum secretário participasse (do pleito). Alguns deputados participaram, mas ele próprio não foi para nenhuma cidade. Ele fez algumas lives, eu acho que quatro, e sinalizou para o eleitor conservador. Nas próprias lives, ele falava que, no máximo, alteraria de 5% a 6%. A narrativa que foi colocada de que houve uma participação e, possivelmente, derrota do presidente Bolsonaro é totalmente incorreta. Porque, se ele quisesse ter participado plenamente das eleições, teria pedido que todo o seu grupo de linha participasse. Isso não houve. Outro ponto, se olhar 2016, Bolsonaro não fez nenhum prefeito. Este ano não tem nem partido. O eleitor de direita, do Bolsonaro, votou em vários candidatos e em vários partidos que estão participando em algumas votações, votando junto com o governo. Muito difícil você ter um recado claro na eleição de 2020.
Como o senhor avalia o resultado? O eleitor não quis os extremos. Optou pelo centro.
Quem foi o candidato de extremo, do Bolsonaro, que perdeu? Russomanno (Celso Russomanno, candidato à prefeitura de São Paulo pelo Republicanos) é moderado. Crivella (Marcello Crivella, candidato à reeleição do Rio de Janeiro) é moderado. É uma leitura que ainda não consegui fazer, essa que a imprensa tentou colocar. Óbvio que, se você lê muitas vezes a mesma coisa, acaba seguindo o caminho. Mas a maioria dos partidos que compõem hoje a base do governo na Câmara e no Senado, muitos migraram e votaram. Pessoalmente, sem ser como ministro, acho que Bolsonaro mostrou que é muito forte, descolado de muita coisa. Bolsonarismo é muito mais o Bolsonaro do que um núcleo maior. Tanto que o presidente não participou. Logo depois das eleições, sai uma pesquisa na qual o presidente tem 40% de ótimo e bom. Ele disse, nas lives, que não tem hoje este poder de transferência. A pessoa vota no candidato. O fator local é muito mais forte do que o nacional. Se o candidato for bom, aquele apoio influencia um pouco, mas não altera a eleição. O principal recado que ele deu foi a sinalização para o eleitor conservador, que foi aquele que votou nele. Não quis passar 2020 batido e retribuiu, dentro do que podia fazer, para mostrar isso para o eleitor.
Mas as forças de centro saíram mais fortalecidas. Como o senhor avalia?
Acho que nada disso influencia. Se for voltar dois anos, em 2018, o Geraldo Alckmin (candidato à Presidência pelo PSDB) fez uma ampla aliança, conseguiu sete minutos de televisão e o Bolsonaro, com sete segundos, venceu. O Alckmin tinha apoio de governadores nos estados e não conseguia ir, porque eles não queriam recebê-lo. Do mesmo jeito que a eleição municipal é descolada da nacional, a presidencial também descola, é paixão. Os candidatos atraem essas paixões. No Nordeste, por exemplo, se o candidato não tiver penetração para poder se comunicar, muitas vezes a base não quer nem receber, porque atrapalha. Por isso, foi muito forte por muito tempo, porque os candidatos não queriam levar outros. O Bolsonaro quebrou isso. Hoje, temos a direita no Nordeste. Antes, ou apoiava alguém da esquerda para fazer coligação, ou fazia eleição simplesmente estadual, nem se falava sobre o presidente da República.
A avaliação que o senhor faz então é que o resultado foi bom para o governo?
O resultado não altera o governo. Esses partidos de centro estão compondo com o governo, eles precisam mostrar resultado. Eu sempre defendi e continuo defendendo. O Bolsonaro não está virando centrão. Os partidos de centro é que têm de abraçar as bandeiras do Bolsonaro, porque ele foi eleito, ele derrotou a esquerda com isso. Bolsonaro conseguiu, sozinho, com o grupo dele, sem apoio de ninguém, ganhar a eleição com a bandeira conservadora, de valores. Com o centro participando da base, o governo vai pedir que apoie essas bandeiras do presidente. Em 2022, a gente não sabe quem vai estar junto. A economia vai ditar muita coisa. Se crescer 3%, 4% no ano que vem, será que alguma frente vai ter tempo de criar outro candidato? Será que as pessoas não vão com Bolsonaro? Ou vão migrar para esquerda? Vejo um cenário muito incerto sobre isso. Até porque o Bolsonaro só seria derrotado se tivesse partido, se tivesse entrado na eleição e se tivesse enfrentado os partidos do centro. Isso não ocorreu.
O fato de o centrão sair mais forte das urnas vai fazer com que cobre um espaço maior do governo, em uma reforma ministerial, mais à frente, para se ver mais bem representado?
Primeiro, o centro se deu bem na eleição, mas o governo avalizou o centro. Começa por aí. Se o centro está compondo a base, foi avalizado pelo governo, que viu que tem 300 parlamentares. Para votar qualquer coisa, precisa do apoio do Congresso. O que precisa é o centro se entender com o governo. Porque, depois de 2018, não vai ter a volta do toma-lá-dá-cá. Isso, mesmo daqui muitos anos, a população não vai aceitar. Isso está precificado. Não acredito que vai ter pedido por ministério. A agenda é outra. Bolsonaro enfrentou isso e votou a (reforma da) Previdência sem dar nenhum ministério a ninguém. As escolhas ministeriais foram todas escolhas pessoais dele. Algumas de frente parlamentar, como a ministra Tereza Cristina (Agricultura). Mas não acredito que haja retrocesso. O centro já era forte. O Bolsonaro se elegeu pelo PSL, não teve alteração no partido. Já iniciou o governo com esses partidos com a mesma força. O que teve foi uma migração. O PSDB diminuiu um pouco. O MDB diminuiu um pouco. O PSD cresceu um pouco. Migração entre os partidos que estão no mesmo espectro. Não houve grande ascensão.
O senhor foi um grande articulador para que o centrão se aproximasse do governo. O que o governo ganhou com isso? Ou não houve ganho?
Essa informação é 100% inverídica. Quiseram colocar, primeiro, que eu tinha sido indicado pelo PSD. Foi negado pelo presidente do partido, que nem tinha sido comunicado. Depois, disseram que fui indicado pelo centrão. Foi negado isso. Eu acho que temos de mostrar que eu trabalho na Comunicação. Quem faz articulação política é a Segov (Secretaria de Governo), que é quem define partido que vai compor o governo, emenda de bancadas, emendas individuais, espaços para partidos. Eu nunca tratei disso. Então, não tinha como fazer articulação.
A sua chegada ao ministério foi em um momento fundamental para que a relação do governo com o Congresso melhorasse. Isso aconteceu.
A minha chegada ao governo ocorreu no momento de estresse máximo entre os Poderes. Ali foi num momento, no auge da pandemia, o governo estava numa briga quase que diária com o Congresso e com o Supremo Tribunal Federal. Tinha teoria da conspiração dos dois lados. Ali foi desmontada aquela briga entre as instituições. Colocou-se uma linha imaginária e se começou a conviver. Respeitaram mais o Executivo. Foi um momento em que os ânimos se acalmaram. Quem fez isso não foi a entrada de nenhum partido. Foi a decisão de líderes de instituições, que queriam a paz. E muitos que estavam querendo o conflito, porque isso seria bom para eles, continuaram tentando. Até hoje. Mas isso foge da relação política. Foram conversas entre pessoas do Parlamento, do Judiciário, que tinham interesse na pacificação. Bolsonaro foi eleito democraticamente, teve 57 milhões de votos. Ele tem direito de implementar a agenda dele, mas é preciso maioria no Congresso. Sempre disse isso. A base tem de entender que o mais importante é votar a agenda que Bolsonaro defendeu. A gente não consegue votar por decreto. Precisa do Congresso. No ano passado, ficou muito confuso. Muita gente nas redes sociais achou que o presidente poderia forçar aquela agenda. E quem fosse contra era contra o país. Não é assim. O Congresso é eleito também. É um grupo de forças políticas, vários clusters. Cada um defende sua agenda. Mas a agenda da maioria foi eleita com Bolsonaro. Quem achar ruim, reclame com a democracia. Reclame com o resultado das urnas.
Por que a agenda do Congresso, sobretudo a agenda econômica, do ministro Paulo Guedes está parada?
Eu vejo que a imprensa inteira, até mesmo a imprensa a mais radical, que é adversária do governo, ajudou na reforma da Previdência. E ajudará nas reformas, porque sabe da importância para ao país. Você só testa a base com a agenda conservadora. A base não foi testada ainda. A base realmente precisa ser testada. Acho que isso é o que mais está incomodando o eleitor do Bolsonaro. A gente quer votar. Mas todos nós sabemos que quem pauta é o presidente da Câmara.
E tem uma eleição para o cargo no ano que vem…
Bolsonaro não pode pautar a agenda da Câmara. A gente não pode colocar tudo na conta do governo. Se quiser votar no Senado, a maioridade penal, tem que pautar. Qualquer projeto que o presidente tem precisa do apoio, pelo menos de pautar, do presidente da Câmara. Por isso, o presidente Bolsonaro deve olhar mais de perto a eleição da Câmara, que ele não olhou dois anos atrás.
Ele vai apoiar algum candidato?
O governo vai olhar se o candidato tem compromisso tanto com a agenda econômica, liberal, quanto com a agenda conservadora. Os candidatos comprometidos com a esquerda fecharam uma agenda antiprivatização, contra privatização dos Correios, que é aqui do ministério, da Eletrobras e do Porto de Santos. Tributação de grandes fortunas... Tanto é que foi anunciado que o Congresso, mesmo sem a base bolsonarista, teria votos suficientes para aprovar reformas. Se está colocando PT, PDT, PCdoB, PSB votando reformas, significa que não é liberal para a economia, é socialista. Isso mostra claramente que não será essa agenda do presidente Bolsonaro. Por isso, ele terá que conversar com candidatos e tentar eleger quem tem compromisso com a sua agenda.
Não é arriscado? Quando a ex-presidente Dilma Rousseff tentou criou um candidato para enfrentar o deputado Eduardo Cunha, o resultado foi o impeachment. Corre-se o risco de uma crise se o candidato do presidente Bolsonaro for derrotado?
O impeachment da Dilma, primeiro, que o PT estava altamente desgastado, no fim de um ciclo. As pessoas já estavam indo às ruas querendo tirar o PT do poder. Enquanto o presidente Bolsonaro tem 42% de ótimo e bom (avaliação), ela tinha 7%. E se iniciava, perdendo a capacidade política, de dialogar com a sociedade, a política econômica dela estava frágil. Era um outro momento. Não vejo como comparar, com dois anos de governo Bolsonaro bem avaliado. Todo o risco, no governo, tem que ser avaliado. Devido a essa falta de agenda econômica e de valores que ele tanto defende, Bolsonaro não pode se dar ao luxo de passar quatro anos sem pautar isso. Ele precisa entrar, mesmo que não seja para participar diretamente. Mas precisa que seu núcleo político participe. Líderes do governo, deputados aliados. Ele tem que chamar esse núcleo e dizer: pessoal, não podemos deixar que vença a agenda da esquerda. Precisamos continuar avançando na nossa agenda.
O candidato seria Arthur Lira (PP-AL)?
Arthur Lira é o candidato, até agora, que juntou mais forças políticas dentro do grupo de direita. Tem apoio do PSD, do PL, do PTB. O próprio PP. Tem que ver que o candidato bom é aquele que se apresenta. O candidato dos sonhos nem sempre é o que consegue eleger, porque, senão, fica buscando nomes. O que vale é o dia a dia, é o trabalho. O deputado Arthur Lira tem feito seu dever de casa diariamente. Está em campanha há uns dois anos. Ele tem direito de se apresentar.
O presidente Bolsonaro está sem partido e precisa buscar um até o segundo semestre do ano que vem para colocar a campanha da reeleição nas ruas. O PP é o partido mais claro para o presidente? Por que ele precisa de um partido forte?
Eu não acredito que o presidente vá para o PP. Nem para um partido de centro grande. Não acredito. É minha opinião. Isso é vontade dos partidos. Não é o que o presidente busca. Ele vai por outro caminho. O Aliança do Brasil tem que ser avaliada a chance de fundação. O presidente tem um deadline, vai ter que colocar um prazo. Senão, vai ter que definir um rumo. Não cabe a mim falar sobre isso. Isso é a parte política do governo. Em nenhum momento, em nenhuma conversa que tive com ele, Bolsonaro vislumbrou uma ida para partidos maiores. Acho que isso está fora. Ele vai querer ir para um partido no qual tenha controle. Eu vejo muito mais ele indo para o Aliança ou um partido menor, que possa criar, do que uma legenda com 30, 40 deputados.
Como o senhor avalia este ano, que foi muito difícil?
Este ano foi o ano em que o mundo enfrentou o mesmo problema. A gente vai conseguir ver, depois do resultado final, comparar todos os países para ver quem acertou mais, ou errou mais. No começo, ninguém sabia de nada. Era futurologia. No mês de março, o presidente Bolsonaro foi para um caminho diferente dos governadores e dos outros presidentes. Todo mundo achou que ele estava indo para um caminho sem volta. Ele perseverou naquele caminho, disse: ‘Economia e salvar vida. Não é só salvar vida e deixar economia para trás. Temos que tratar as duas da mesma forma’. Todo mundo bateu nele. Fica em casa, economia vê depois. E chegou a um tempo que muitas economias e a própria OMS (Organização Mundial de Saúde) (viam) pessoas cavando o chão para pegar comida. O Brasil, dos maiores países, dos emergentes, vai ter a maior retomada econômica de todos eles. É o que acredito, mesmo com essa dificuldade toda de votação, avalie se tivéssemos uma agenda econômica votada a todo vapor. Foi o momento que o presidente tomou a decisão, importante para o país. Porque, se tivéssemos feito um lockdown, como fez a Argentina, poderíamos demorar quatro, cinco, seis anos para recuperar economia. A economia voltou de forma pujante. O desemprego ainda não aumentou. Estamos com uma taxa parecida com a do começo da pandemia. Isso porque as empresas receberam recursos para manter empregos. Todos os setores que acharam que iam quebrar, receberam ajuda do governo federal. Muitas empresas que não tinham a menor capacidade de chegar ao fim do ano chegaram devido ao que o governo fez. O Congresso também votou. O auxílio emergencial, que as pessoas que vivem de informalidade, ficaram sem receita, foi importante para dar cidadania. E movimentou a economia, a manteve aquecida. Governadores e secretários, todos elogiando. Infelizmente, nem todos os estados investiram tudo na pandemia, usaram para pagar salário, investir em outras coisas, fazer caixa. Mas o governo federal agiu em todas as pontas. A única crise que existe no governo é a crise de palavras. Não tem nenhum ponto que desabone o governo. Estamos em 700 dias, não há uma denúncia de corrupção. Na pandemia de covid, não faltou dinheiro para estados e municípios, não faltou dinheiro para as empresas, não faltou para os desempregados. Não faltou para nada. Aí as pessoas batem: ‘o presidente saiu sem máscara, apertou a mão, foi na padaria, disse isso, disse aquilo’. Isso é o que sobra.
Essa crise de palavras é do próprio presidente ou de outros setores?
É a única coisa que os adversários conseguem falar contra o governo. Então, como a fofoca gera mais curiosidade e a notícia ruim é mais lida que a boa, faz com que a gente tenha cortina de fumaça e as entregas não cheguem na ponta. Agora, em Natal (RN), não tem muita importância se está entregando uma barragem na Bahia. Só na Bahia. Mas, se o presidente vai à padaria, apertou o mão e coçou o nariz, vira notícia no Brasil inteiro. Então, isso faz com que o governo fique represado em entregar as boas notícias. Como a imprensa é movida a vender jornal, tem que ter clique, tem que ter acesso e as notícias de intriga geram mais acesso, fica como pauta central. O que é uma pena para o país. Temos coisas muito mais importantes para falar.
Com relação ao 5G, o seu ministério está na linha de frente? Na semana passada, as
operadoras divulgaram uma nota preocupadas com possível restrição de fornecedores de infraestrutura.
Eu falo direto com as operadoras. Sempre tenho falado. O leilão do 5G quem faz não é o ministério. É a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), um órgão regulador, que está sob nosso guarda-chuva, mas sob o qual não temos nenhuma ingerência. Ali são cinco conselheiros técnicos. Quem foi escolhido foi o Baigorri (Carlos Manuel Baigorri, diretor da Anatel), praticamente uma unanimidade no conselho, com apoio de todas as operadoras, emissoras e donos de rádios, associações. Não teve ninguém contra o nome dele. Foi escolhido como relator. O ministério tem total confiança nele. A Anatel é totalmente isenta, é igual à Anvisa em relação a vacinas. São órgãos técnicos.
Mas há uma discussão no governo sobre a inclusão da chinesa Huawei, que já está presente na infraestrutura do Brasil, e foi acusada de espionagem pelo filho do presidente, Eduardo Bolsonaro. Há restrição?
O Eduardo teve 1,8 milhão votos, o deputado mais votado do Brasil. Ele é parlamentar, tem direito a dar sua opinião. Ele é filho do presidente, mas não está no Executivo. Em relação a esse tema, o presidente não falou nada. Eu, que sou ministro da pasta, não falei nada. Da Anatel, o presidente e os conselheiros não falaram nada. Então, acho que, se esses aí, que estão mais diretamente ligados ao 5G, falassem alguma coisa, aí sim. Mas nós estamos, até agora, discutindo uma possibilidade, um “se” que estão colocando lá na frente, por conta dessa briga geopolítica. Porque tem muito mais isso do que qualquer outra coisa. Ninguém nem se aprofundou sobre o tema. Acredito que, quando sair da Anatel, da forma como acho que deve sair, totalmente técnica, as respostas estarão dentro do voto dos conselheiros. Eu não acho que teremos problemas sobre isso.
O que vai mudar no Brasil e na economia com o 5G?
Haverá uma mudança muito grande. Não é só aumento de velocidade de internet. O 5G traz novas profissões, a telemedicina, por exemplo, médico aqui de Brasília operando alguém lá no interior do meu estado. Os veículos autônomos vão funcionar mesmo. A internet das coisas (IoT) vai funcionar de fato com o 5G. Um veículo autônomo, no 4G, pode não parar a tempo de um farol fechado, provocando acidente. No 5G, a latência (tempo de resposta) é muito baixa. Então, teremos novas profissões. Muita coisa vai mudar. Nossa vida vai mudar. Por isso, falam tando do 5G. A conectividade rural, para o agronegócio é muito forte, vai impulsionar muita coisa.
Como estão as privatizações dos Correios e da Telebras?
Dos Correios, já saiu o PL (projeto de lei) daqui, está na SAJ (secretaria de assuntos jurídicos da Presidência da República). Ficou de enviar agora, pós-eleição, para o Congresso. Não acredito que, até eleição do presidente da Câmara, será designado o relator. Então, só em fevereiro será designado. Faremos nosso trabalho dentro do Congresso. Mas precisa passar pelas duas casas. Telebras não vai para o Congresso. É o TCU (Tribunal de Contas da União) que tem que aprovar. Eu não posso entrar na alçada deles. A nossa ideia é trabalhar com a privatização. A dos Correios está mais avançada.
O senhor veio para serenar as brigas. A experiência tem valido a pena?
Tem sim. Estou aqui. Todo o dia é um desafio diferente. Eu acredito muito no governo Bolsonaro. Tenho uma convivência semanal com ele. Nos falamos diariamente. Sempre fiquei muito chateado porque a imagem que passam do Bolsonaro é muito diferente da verdade. E o governo é muito diferente do que vendem. Isso me frustrava muito. Por isso, acho o maior desafio da pasta fazer com que as pessoas tenham percepção do governo. Eu acordo movido a isso. Claro, nunca vou conseguir, como gostaria. Mas temos algumas vitórias. A gente chega em alguns lugares em que está chegando mais informações positivas em relação ao governo. Agora, tudo aqui em Brasília gira em torno da próxima eleição. Está todo mundo aqui pensando no Congresso, nas eleições do Senado e da Câmara, ou em 2022. E o sucesso do governo Bolsonaro, que era para ser o sucesso do país, para muitos significa uma derrota em 2022. Então, a gente nunca vai ter uma maioria formada, porque tem o jogo eleitoral por trás. Tudo tem.
O senhor acha que o presidente Bolsonaro é o candidato mais forte para 2022?
Acho que sim. Nem o mais forte, é o natural, colocado. Bolsonaro não foi feito de um dia para o outro. Ele ficou quatro anos fazendo o nome dele. E para fazer um líder, no Brasil, não é rápido. Acho difícil, entrando em 2021, até 2022 surgir um nome para contrapor. Existe briga de direita com esquerda, que vai continuar. O Brasil tem essa rivalidade. Não sei os nomes que virão da esquerda. Mas acho muito difícil o centro fabricar um nome. Trazer um nome fora da política. Não tenho nada contra os outsiders, mas não vejo isso ocorrendo em 2022. Veja o Sergio Moro (ex-juiz da Lava-Jato e ex-ministro da Justiça), por exemplo, jogou fora todo o legado que poderia defender. Se ele combateu as empresas da Lava-Jato e a Odebrecht foi o grande exemplo, ele vai trabalhar para a empresa que tem a Lava-Jato como cliente. Abandonou a vida pública, na minha opinião, abandonou a chance de ser candidato. Tomou uma decisão que foi financeira. Nem sei, não cabe a mim investigar, mas, no meu ponto de vista, com gravíssimo conflito de interesses, moral e ético. Gravíssimo. O Sergio Moro juiz teria ficado revoltado com o Sergio Moro da Odebrecht.
E o João Doria e o Luciano Huck, neste contexto?
O Doria eu vejo com imenso desgaste em São Paulo. O problema do Doria é que as pessoas não aceitam traição. O Brasil admite a traição, mas não perdoa o traidor. O Doria teve traição muito forte contra o Alckmin. O paulista não aceitou. Depois, disse que não ia renunciar, e renunciou. Quase não se elegeu, porque o paulista se sentiu traído. Depois, ele usou o Bolsonaro. Elegeu-se com o BolsoDoria e, seis meses depois, traiu. O maior problema é que são três fatos públicos que ele não tem como ir contra. Veja como ele age na pandemia, vai ao sabor do vento. Primeiro, disse que não ia fechar nada na semana passada. Depois das eleições, decretou de novo o retrocesso para o período amarelo. O Huck eu acho que faz sucesso onde ele está. Está muito bem como apresentador, carreira longa. Não acho que pode migrar de um programa para a Presidência da República. Tem que ter uma escalada. Não quero entrar no mérito, porque acho que as pessoas têm de vir para a política para ajudar, mas é preciso experiência. Veja o que ocorreu com o Witzel (governador) no Rio de Janeiro, um juiz, prometendo tudo, anticorrupção, e foi pior do que as outras gestões. Tem que ter esse tipo de cuidado. O Huck está conversando sobre o país, mas não acredito, nem o DEM acredita, se for conversar pessoalmente com a turma.
E Rodrigo Maia? O senhor falou no nome dele associado à esquerda...
O Rodrigo Maia é um nome forte para o mercado financeiro. Nome que tem uma agenda econômica. Por isso, não pode ser candidato com a esquerda. Vai jogar o legado dele fora. Ele é um candidato liberal na economia. Se for eleito com a agenda da esquerda, vai construir tudo fora. O nome de Rodrigo Maia não é um nome forte de votos. Ele é forte como político do Congresso, player do mercado financeiro, político de peso, que deve ser respeitado, cinco anos presidente da Câmara, mas não é de votos. Ele sabe disso. Cada um tem um perfil. Ele é mais um político de bastidor. Não o vejo com perfil para disputar eleição presidencial.
Bolsonaro, então, vai disputar com ele mesmo?
Vai disputar com a esquerda. A esquerda no Brasil é forte. Tem vários candidatos. O Brasil é dividido. Tem Ciro Gomes (PDT), Guilherme Boulos (PSol), Fernando Haddad (PT), esses candidatos virão. O que eu disse é que não vai surgir um líder de direita. Não vai dar para pegar um governador de tal canto ou prefeito da capital X e, daqui para 2022, ele estará competitivo. Mas a esquerda vem.
Em relação à eleição no Congresso, que conselho o senhor daria para os grupos que querem ser candidatos?
Que esqueçam a eleição da Câmara e fechem uma agenda Brasil. Eu coloco a Câmara dividida na eleição. É o momento de pensar no país. O Rodrigo Maia tem uma agenda liberal na economia, que é importante que seja mantida. A agenda da esquerda não é, totalmente estatizante, socialista, diferente da agenda do Bolsonaro. O que converge da agenda do governo com a do Rodrigo Maia é a econômica. Então, tem tudo para que, nestes dois meses, se consiga criar uma agenda importante para o país. Porque, se for colocar a eleição em fevereiro na frente, a gente não vai votar nada.