O DEM teve pouco tempo de paz interna, apesar das diversas vitórias nas urnas em novembro. O plano do presidente Jair Bolsonaro, de rachar o partido, para tentar evitar que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), lidere a própria sucessão no Parlamento está em curso e começa a tomar corpo. Nos bastidores, espalha-se, por exemplo, a avaliação de que Maia criou uma “lambança” e terminou por tirar a reeleição de Davi Alcolumbre (DEM-AP), considerado pule de dez para continuar no comando do Senado, caso houvesse essa possibilidade.
Em conversas reservadas, não são poucos os deputados que fazem essa conta. Porém, são raros os que acusam Maia abertamente. “Rodrigo agiu de maneira personalista e egocêntrica e não deixou nenhuma candidatura crescer. E terminou por prejudicar Alcolumbre. Agora, vai ser difícil”, afirmou o deputado Arthur Maia (DEM-BA) ao Correio.
A avaliação de Arthur Maia, porém, é rechaçada pelo grupo de Rodrigo. O presidente da Câmara, justiça seja feita, jamais se colocou abertamente como postulante à reeleição. E, com tantos pré-candidatos, o democrata tentou evitar que houvesse uma antecipação do processo, de forma a fazer desandar a boa convivência entre os partidos. Até porque, dentro do PP de Arthur Lira — candidato à Presidência da Câmara —, Rodrigo Maia preferia que o concorrente ao comando da Casa fosse Aguinaldo Ribeiro (PP-PB). Ao perceber que seria preterido, Lira se afastou de Maia e passou a jogar colado no governo de Bolsonaro.
Quanto ao Senado e à ação no Supremo Tribunal Federal (STF), se não fosse o PTB apresentar a petição, o grupo Muda Senado agiria no mesmo sentido, a fim de evitar a candidatura de Alcolumbre à reeleição. Logo, Maia não pode ser responsabilizado nem pelas ações dos partidos nem pela decisão da Corte.
Bolsonaro, que sempre viu Rodrigo Maia como adversário — afinal, ambos fazem política no Rio de Janeiro —, percebeu que, se o jogo com Lira desse certo, poderia usá-lo para enfraquecer o atual presidente da Câmara. Agora, que já dividiu o centro, antes ligado a Maia, o chefe do Executivo parte para dividir o DEM. Foi nesse contexto, inclusive, que recebeu Alcolumbre, visto como uma vítima de bala perdida por causa da disputa na Câmara.
A ideia de Bolsonaro é enfraquecer a perspectiva de o DEM seguir unido e com capacidade de atrair outras legendas a um projeto alternativo de poder, agora e no futuro. Hoje, é um bloco contra Lira para o comando da Câmara. Em 2022, porém, conforme avaliação do Planalto, será uma coligação contra Bolsonaro para presidente da República.
No caso da Câmara, mais urgente, a disputa promete ser acirrada, e Rodrigo Maia age para tentar evitar a divisão do partido, seja por Bolsonaro, seja por Arthur Lira. Menos de três horas depois de Lira se apresentar como candidato a presidente da Casa, ladeado por sete partidos, Maia lançou um bloco para se contrapor ao pepista. Estão nesse rol, PSL, PSDB, DEM, MDB, Cidadania e PV.
Se o jogo de Bolsonaro para dividir os democratas vai funcionar desde já, não se sabe. A votação para presidente da Câmara é secreta, porém, uma maioria deve permanecer fiel ao bloco de Maia. Afinal, a tendência, quando a crise aperta, é o DEM jogar unido para preservar todos os seus. Quanto a 2022, os cálculos são outros. O partido mantém a fidelidade ao candidato que apoia, mas nem todos seguem. Quando a eleição de governadores e de deputados está em jogo, muitos seguem o candidato a presidente da República que apresenta cheiro de vitória. Na Câmara, porém, conta a ocupação de espaços e, no grupamento liderado por Lira, o DEM não teria tanta expressão. A vice-presidência da Câmara, por exemplo, já foi oferecida ao deputado Marcelo Ramos (PL-AM), que abriu mão de concorrer à Presidência da Casa, para respeitar a opção do partido dele por Lira.
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