Em política, há um ditado que diz, “fato que cria perna ninguém segura”. E, nesse contexto, o líder do PP, Arthur Lira (AL), já caminhou muito para, agora, desistir da disputa em nome de algum ministro do governo ou qualquer plano B. O grupo dele calcula conseguir 180 votos como ponto de partida. Já tem, hoje, as bancadas de PP, PL (antigo PR) e PSD, que compõem o núcleo do Centrão, e outros pequenos partidos. Nesta semana, o parlamentar começou a procurar, mais abertamente, os partidos de esquerda e ainda investe em legendas ligadas ao atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). “Não tem mais recuo” é a frase que mais se ouve entre os partidários do deputado alagoano, que se sente fortalecido e com vantagem diante da pulverização de candidaturas no grupo de Maia. A resposta de rival será tentar, ainda nesta semana, formar um bloco para segurar as siglas e evitar que o grupamento se esfarele.
Até o momento, são três forças na Casa, que ainda não têm tamanho definido nem fronteiras. A esquerda terá um nome, nem que seja apenas um deputado do PSol. Da centro-esquerda até a direita, estão Lira e a turma de Maia, que se divide em, pelo menos, cinco pré-candidatos, que se apresentaram para a disputa antes de o Supremo Tribunal Federal (STF) decidir que não haveria reeleição para o comando das duas Casas: Baleia Rossi (MDB-SP), Marcos Pereira (Republicanos-SP), Luciano Bivar (PSL-PE), Elmar Nascimento (DEM-BA) e Aguinaldo Ribeiro (PP-PB).
Desses nomes, Baleia Rossi é visto como o que tem mais chances de agregar. E ele desloca-se, silenciosamente, em busca de votos. Tem entre seus generais, nos bastidores, o ex-presidente Michel Temer, com a experiência de quem já presidiu a Câmara por três vezes. O grupo de Lira aposta que Baleia Rossi é o candidato com mais musculatura. Não por acaso, o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), tenta selar um acordo para que Baleia Rossi desista da candidatura e, com esse gesto, sirva de anabolizante para uma candidatura do MDB à Presidência do Senado. O líder do MDB no Senado, Eduardo Braga, já anunciou que sua bancada pleiteia o cargo.
Os emedebistas não toparam essa proposta. Nos bastidores, dizem que, se o Democratas governou Câmara e Senado neste primeiro biênio, por que o MDB não pode fazer isso no segundo? O problema é que, da primeira vez, no Senado, o DEM se aproveitou do movimento gerado pelos bolsonaristas e do Muda Senado contra Renan Calheiros. Agora, com o presidente Jair Bolsonaro de volta ao leito da política, os partidos que rejeitam os emedebistas não terão a mesma força para barrar um candidato da sigla no Senado.
Independente
Além de tentar cavar um impedimento para tirar o MDB da disputa na Câmara, os aliados de Lira jogam para que, quando Maia apostar em um desses cinco, os outros possam se bandear para o apoio ao pepista. Daí, o artigo publicado, ontem, por Lira, na Folha de S. Paulo, em que defende harmonia entre os Poderes, pregando independência sem isolamento. O artigo é uma resposta à entrevista em que Maia anunciou que apostará num sucessor que seja independente em relação ao governo e elencou os cinco candidatos. Não citou Lira.
As intensas conversas nos bastidores para a formação dos blocos não resultaram, ainda, em vantagem para o grupo de Lira. O PSB, que ele procurou, não tomará nenhuma decisão sem conversar com o PDT. O partido de Ciro Gomes, porém, não deseja, nem de longe, ficar ao lado de um nome do Centrão aliado a Bolsonaro. Tampouco deseja seguir totalmente alinhado ao MDB.
Enquanto esse quebra-cabeça não fecha, a maioria dos pré-candidatos age da mesma forma que o presidente do PSB, Carlos Siqueira, se posiciona em relação à disputa: “Está cedo para tomarmos qualquer decisão a respeito”, diz ele, com cara de quem vai esperar para ver quem será mesmo candidato, em meados de janeiro, ou quando da formação das chapas. O risco, porém, é demorar muito para fazer parte de um bloco e, quando chegar para conversar, as melhores vagas já estejam ocupadas.
Sem um pronunciamento oficial da legenda, integrantes da bancada vão se alinhando a alguns candidatos. Prefeito eleito de Maceió, JHC obteve o apoio de Lira no segundo turno e, agora, defenderá o aval ao conterrâneo dentro do partido. O líder do PP, no entanto, não poderá contar com o voto do prefeito, que deixa o mandato este mês, a fim de se preparar para a posse. O suplente é Pedro Vilela, do PSDB, cuja sigla é mais ligada ao grupo de Maia do que ao Centrão. Até ontem, era considerado certo no bloco em que estiver o DEM. Mas como o voto é secreto, Lira continuará apostando em rachar essas bancadas. Afinal, ele trabalha esse projeto há tempos e não vai recuar a menos de dois meses da eleição.
Bolsonaro fala em “harmonia”
O presidente Jair Bolsonaro destacou, ontem, que há uma “perfeita harmonia” entre Executivo e Legislativo. Em evento no Planalto, ele disse que o governo tem um “excelente entrosamento” com a Câmara e o Senado. A relação com o Parlamento e a aprovação de matérias apoiadas pelo governo melhoraram em meados de junho, após a aproximação com o bloco do Centrão, atual base da gestão Bolsonaro. “Realmente o governo está dando certo. Temos, hoje em dia, um excelente entrosamento com a Câmara e com o senado. Temos esse contato maravilhoso. Cada vez melhor”, afirmou. “Há pouco tempo, anos, tínhamos problemas, uma briga quase fratricida entre irmãos. Hoje, tem um perfeito relacionamento entre nós (Executivo e Legislativo), e ninguém vai destruir esse nosso relacionamento, porque nós temos como norte o Brasil acima de tudo.”
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