Eleições 2020

Reeleito, Covas prega união

Prefeito diz não haver espaço para divisões em São Paulo, promete combater as desigualdades, com olhar atento à periferia e dá alfinetadas no presidente Jair Bolsonaro. Mesmo derrotado, Boulos mostra otimismo com futuro político

A cidade de São Paulo optou por manter Bruno Covas (PSDB) como prefeito. O tucano foi reeleito com 3.169.121 votos (59,38% dos votos válidos). Ele derrotou Guilherme Boulos (PSol), que teve 2.168.109 de votos (40,62%). Com a vitória no segundo turno das eleições municipais, Covas tornou-se o primeiro prefeito paulistano a ser reconduzido ao cargo para um mandato consecutivo desde Gilberto Kassab (PSD), que governou a principal metrópole do Brasil entre 2006 e 2012.

A vitória foi festejada no diretório do PSDB na capital paulista. Apesar de ter se mantido distante do governador João Doria (PSDB) durante a campanha, sobretudo por conta da alta rejeição do chefe do Executivo paulista na cidade de São Paulo, Covas celebrou a reeleição ao lado do correligionário. Os dois, inclusive, chegaram de mãos dadas à sede do partido, que, a despeito das recomendações de distanciamento social como forma de prevenção à covid-19, ficou repleta de políticos, familiares e simpatizantes.

No primeiro discurso após o resultado das urnas, Covas adotou um tom moderado e falou em ser prefeito para todos os paulistanos. “As urnas falaram, e eu saberei ouvir o recado das urnas. São Paulo, você pode contar comigo. Agora, é agradecer a confiança. Agradecer a todos aqueles que confiaram na nossa proposta”, afirmou. “As eleições terminam hoje (ontem). Não há espaço em São Paulo para divisões. Não há espaço para o grupo A e o grupo B. São Paulo é para todos. Esse foi o nosso lema de campanha e esse será o nosso jeito de governar.”

Na avaliação do tucano, o principal desafio para a sua gestão será contornar a crise gerada pela pandemia do novo coronavírus. “Agora, começa o grande desafio de enfrentar essa crise que São Paulo, o Brasil e o mundo precisam encarar. O rumo está dado. Nós temos de combater as desigualdades. Nós temos de combater o coronavírus, temos de investir em saúde e educação e temos de fazer da nossa gestão um mantra na busca de emprego, emprego, emprego e oportunidades, em especial para os nossos jovens de periferia, que sofrem ainda mais as consequências dessa crise econômica e social”, frisou.

O discurso do prefeito também foi marcado por alfinetadas no presidente Jair Bolsonaro. Segundo Covas, “São Paulo disse ‘sim’ à democracia, São Paulo disse ‘sim’ à ciência, São Paulo disse ‘sim’ à moderação, São Paulo disse ‘sim’ ao equilíbrio”. “Restam poucos dias para o negacionismo e para o obscurantismo”, destacou.

Doria também discursou e manteve o tom crítico ao presidente. “Desde o início, o governo do PSDB, na prefeitura e no governo do estado, nunca negou a ciência nem a saúde. Não fomos negacionistas. Aqui trabalhamos para defender vidas, proteger pessoas e continuaremos a fazê-lo durante todo o período até a chegada da vacina”, ressaltou o governador.

Boulos

Das 58 zonas eleitorais da cidade de São Paulo, Covas venceu em 50. O tucano recebeu os cumprimentos de Guilherme Boulos mesmo antes do fim da apuração. Diagnosticado com covid-19, o concorrente do PSol acompanhou a apuração de casa e telefonou para o prefeito assim que os resultados preliminares projetavam a reeleição do tucano. Horas depois, em vídeo publicado nas redes sociais, Boulos mostrou-se otimista.

“Hoje (ontem), não é o fim de uma caminhada, é o começo. Apesar de a gente não ter ganho esta eleição, saímos vitoriosos. É o início de um ciclo que se anuncia”, disse. “Vou trabalhar para que o que a gente construiu aqui, em São Paulo, sirva de exemplo e inspiração. O que a gente viveu em São Paulo, nestes meses, é forte e potente. A vitória vai vir. Esse dia ainda não foi hoje (ontem), mas vai chegar”, acrescentou.

Ele desejou sorte a Covas, mas alertou que o mandato que o tucano vai assumir em janeiro “não é um cheque em branco”. “Que ele tenha sorte nos próximos quatro anos e que, acima de tudo, governe a cidade sabendo que uma imensa parcela da sociedade quer mudança, quer que a periferia seja tirada do abandono. Tem vez e voz”, destacou. “Nós vamos fazer o nosso papel de cobrar e fiscalizar. A gratidão é um sentimento que demonstra que a gente sempre precisa dos outros e ninguém conquista nada sozinho.”

50
Número de zonas eleitorais em que Covas venceu, das 58 existentes na cidade

"São Paulo disse ‘sim’ à democracia, São Paulo disse ‘sim’ à ciência, São Paulo disse ‘sim’ à moderação, São Paulo disse ‘sim’ ao equilíbrio. Restam poucos dias para o negacionismo e para o obscurantismo”
Bruno Covas, prefeito reeleito de São Paulo

Nelson Almeida/AFP
Covas festejou com Doria no diretório do PSDB na capital paulista, que ficou repleto de políticos e simpatizantes