Goiânia vive o cenário mais atípico das eleições municipais de 2020. É o exemplo mais contundente da complexidade do momento que enfrenta o Brasil, imerso na pandemia de covid-19 — que já levou 172.833 vidas. Intubado devido ao novo coronavírus na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, Maguito Vilela (MDB) foi eleito o novo prefeito da capital goiana, ontem, mesmo com um quadro de saúde extremamente delicado. Com 52,60% dos votos (totalizando 277.497), o emedebista venceu Vanderlan Cardoso (PSD), que somou 47,40% (250.036 votos).
Internado desde 22 de outubro devido a complicações pulmonares causadas pela covid-19 (veja o quadro), Maguito nem sequer soube que era favorito à prefeitura da capital goiana. O ex-governador de Goiás e ex-prefeito de Aparecida de Goiânia voltou a ser intubado, às pressas, na tarde de 15 de novembro, poucas horas antes do fechamento das urnas do primeiro turno. Na ocasião, ele obteve 36,02% dos votos válidos em Goiânia, enquanto Vanderlan Cardoso alcançou 24,67%.
O estado de saúde de Maguito, 71 anos, é estável, mas ele segue internado com suporte da ECMO (Oxigenação por Membrana Extracorporal, na sigla em inglês) — um aparelho que funciona como coração e pulmão artificiais. Maguito também tem sido submetido a sessões de hemodiálise. Diante da ausência do candidato na campanha eleitoral, ele foi representado no segundo turno pelo vice, Rogério Cruz (Republicanos); pela mulher, Flávia Teles; e pelo filho, Daniel Vilela, que é presidente do MDB em Goiás.
Quem assumiu o discurso da vitória foi o vice-prefeito eleito. “Nós trabalharemos por todo cidadão goianiense, levando qualidade de vida”, afirmou Rogério Cruz. O político ressaltou que Maguito buscará diálogo com o governador Ronaldo Caiado, que manifestou apoio a Vanderlan Cardoso durante a campanha. “Vamos tratar dos assuntos da nossa cidade, para fazermos trabalhos em conjunto”, acrescentou.
Rogério Cruz é vereador de Goiânia, segundo vice-presidente da Câmara Municipal da capital de Goiás e presidente da Comissão da Pessoa com Deficiência da Casa. Formado em gestão pública, acumula, no currículo, as funções de administrador e radialista. Na trajetória profissional, dirigiu rádios e foi diretor-executivo do Grupo Record, com trabalhos em vários estados brasileiros e no exterior.
Altos e baixos
Desde que foi diagnosticado com covid-19 em 20 de outubro, Maguito Vilela vem apresentando altos e baixos no quadro clínico. Dois dias depois de testar positivo para o coronavírus, o político deu entrada no Hospital Órion, em Goiânia. Em 27 de outubro, foi transferido para o Hospital Albert Einstein, em São Paulo, por decisão da família e internado na UTI com 75% dos pulmões comprometidos. Três dias depois, precisou ser intubado, com insuficiência respiratória. Após responder bem ao tratamento, chegou a ser extubado, em 8 de novembro, e teve que passar por nova intubação, uma semana depois.
Antes de sofrer na pele o lado mais cruel da doença, Maguito perdeu duas irmãs nas mesmas circunstâncias, em intervalo de nove dias, em Jataí (GO). Em 19 de agosto, Nelma Vilela Veloso, 76, perdeu a batalha para a doença. Ela tinha diabetes e problemas pulmonares, comorbidades que agravam o quadro. Segundo Maguito, a contaminação pode ter ocorrido por meio de uma cuidadora da irmã, que também faleceu por causa da doença. Em 28 de agosto, Nelita Vilela, 82, morreu devido às complicações do coronavírus. Ela não tinha doença pré-existente, apesar de fazer parte do grupo de risco, por causa da idade. As duas não moravam na mesma casa, mas mantinham contato. Goiás soma 278.940 casos da covid-19 e 6.349 mortes.