O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro disse em depoimento à Polícia Federal que foi alvo do chamado “gabinete do ódio”, uma rede formada por pessoas que integram a ala ideológica do governo e realizam ataques via redes sociais contra pessoas e instituições. Segundo o ex-juiz federal, que ganhou destaque após atuação na Lava-Jato do Paraná, ele passou a ser atingido pelo grupo quando saiu do governo, ocasião em que apontou que o presidente Jair Bolsonaro teria tentado interferir na PF para proteger amigos e familiares.
No depoimento, Moro disse ainda que os ministros de Estado comentam sobre a ligação do vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (Republicanos), o 02 do presidente, com o grupo. As informações foram divulgadas pelo jornal O GLOBO nesta sexta-feira (27) e confirmadas pelo Correio com uma fonte ligada à investigação.
Ditadura militar
O ex-ministro foi ouvido pela PF na condição de testemunha. O inquérito em questão, que tem como relator o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, investiga organização e financiamento de atos antidemocráticos. A investigação teve início em abril deste depois de uma manifestação no Dia do Exército com a presença do presidente Jair Bolsonaro. Na época, já se tornara comum protestos com faixas pedindo o fechamento do Congresso, STF e retorno da ditadura militar.
O próprio Alexandre de Moraes já citou o gabinete do ódio no inquérito das fake news, que investiga informações falsas e ataques contra os ministros do Supremo. Em pedidos de prisões e busca e apreensão, o ministro já falou sobre o grupo e disse de suspeita de que seria uma associação criminosa.
Pelo Twitter, Carlos Bolsonaro (Republicanos) se manifestou: "Não há qualificação para mais essa tentativa boçal. Saudades de viver em um mundo onde homens eram homens", escreveu ao comentar a notícia relativa ao depoimento de Moro.
Animosidade
Ainda à PF, ao ser questionado se sabia da estrutura do “gabinete do ódio” dentro do governo, a fim de atacar outros poderes e autoridades, Moro afirmou que sabia dos ataques apenas por meio das redes sociais, mas falou sobre um “animosidade” entre Bolsonaro e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ). O ex-ministro ainda indicou à PF que fossem ouvidos outros ministros de Estado para que prestassem maiores esclarecimentos sobre o referido gabinete.