Os ataques cibernéticos contra o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no primeiro turno das eleições municipais, no domingo, estão sendo investigados pela Polícia Federal a pedido do presidente da Corte, ministro Luís Roberto Barroso. O Ministério Público Federal também atuará para identificar de onde partiram as ações que tentaram derrubar o sistema de apuração e divulgação dos votos.
O MPF vai cruzar informações obtidas pela equipe técnica do TSE com dados coletados pela organização não governamental Safernet, que atua combatendo delitos cometidos por meio virtual. Mesmo os ataques tendo sido disparados por computadores instalados no exterior, a origem pode ter sido no Brasil, com o direcionamento de endereços de IPs (computadores) e o uso da rede de outras nações.
Até que tudo seja esclarecido, o caso alimenta boatos e críticas, sem provas, sobre a segurança das eleições. A deputada Joice Hasselmann (PSL) — que, em 2018, foi eleita para a Câmara com 1 milhão de votos — teve um desempenho pífio na corrida pela Prefeitura de São Paulo e levantou suspeita sobre o pleito. “Fraude? Será? Tem todo cheiro”, escreveu nas redes sociais. A parlamentar já foi aliada do presidente Jair Bolsonaro e deixou a linha de atuação do governo após racha dentro do PSL.
No próprio domingo, o atraso na divulgação dos votos alimentou uma rede de fake news. Aliados de Bolsonaro questionaram o resultado da votação, novamente, sem provas. Pelo Twitter, a deputada Carla Zambelli (PSL-SP) também levantou suspeita sobre o pleito ao comentar o fracasso de candidatos alinhados com o Executivo federal. “O que houve com os conservadores? Erramos, nos pulverizamos ou sofremos uma fraude monumental?”, postou. Pelas redes sociais, bolsonaristas fizeram uma breve campanha pela instauração do voto impresso, sob o argumento de que a medida traria maior segurança para o processo eleitoral.
A deputada federal Bia Kicis (PSL-DF) fez quatro publicações questionando ou criticando o TSE. Em uma delas, escreveu: “Preparem-se, o TSE vai jurar que seu sistema é seguro. Aham, a gente acredita. Apuração transparente com possibilidade de recontagem já! Exigimos voto impresso”.
As postagens ocorreram enquanto os servidores do TSE registraram 431 mil tentativas de acesso no site por minuto e enquanto informações coletadas, dias antes, sobre servidores e ex-ministros eram divulgadas na internet.
No Twitter, o deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) afirmou que oficiou o ministro Barroso solicitando a anulação destas eleições, além de ter ingressado com uma notícia-crime na Procuradoria-Geral da República para que haja investigação do caso. “(As eleições) estão claramente viciadas. (...) Pressionem os deputados a fazerem o mesmo. As eleições foram fraudadas, a lei exige anulação!”, escreveu. Ele publicou um vídeo em que aparece à porta do Tribunal Regional Eleitoral do Rio, ao lado de apoiadores com a bandeira do Brasil. O parlamentar é alvo de inquérito sobre atos antidemocráticos, em andamento no Supremo Tribunal Federal.
Entre os presentes estava o vereador do Rio Major Elitusalem Freitas (PSC), que levantou suspeita sobre a quantidade de votos que obteve, dizendo que não era uma questão de “chororô de quem perdeu”. “O que a gente quer é o voto de vocês, do nosso eleitor, aparecendo na urna. É impossível um candidato que fez 8,5 mil votos na última eleição, como nós, cresceu o trabalho, monitorou esse trabalho, monitorou o seu eleitor, cair para 2.335.”