Sociedade

Candidatos homens e brancos concentram 62,7% da verba do Fundo Eleitoral

Dados do TSE mostram que, apesar das regras de repartição do dinheiro público para apoio à diversidade de candidaturas, homens e brancos receberam maior parte dos recursos

Apesar da diversidade nas urnas, o privilégio de homens e brancos continua. Segundo uma análise feita pelo projeto 72 Horas, com base nos dados informados pelas legendas e pelos candidatos ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a maior parte dos 80% da verba do Fundo Eleitoral já recebidos pelos partidos, um total de R$ 1,63 bilhão, ficou na mão de candidatos homens e brancos.

Os dados mostram que 62,7% de toda verba do Fundo Eleitoral foi distribuída para candidatos brancos. Em outubro deste ano, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou que os partidos deveriam dividir o dinheiro público de forma proporcional ao número de candidatos negros e brancos que lançaram. Isso significa que os negros deveriam ter recebido 50% da verba. Essa foi a proporção de candidatos pretos e pardos que se disputaram cargos nas prefeituras e Câmaras Municipais.

As candidatas mulheres, por sua vez, representaram 33,6% do total de candidaturas, mas receberam apenas 26,7% da verba. Desde 2018 vigora a regra de distribuição proporcional às mulheres.

Perfil dos eleitos

De acordo com dados divulgados pelo TSE, algumas características comuns entre os prefeitos eleitos podem ser traçadas. O perfil médio desses candidatos são homens brancos, casados, com ensino superior completo e com média de idade de 49 anos. As mulheres são apenas 12% das prefeitas eleitas no primeiro turno.

Sobre a permanência do privilégio para brancos e homens, a professora de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Programa de Pós Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (PPGCS) Mayra Goulart explicou que há um traço social importante a ser levado em consideração.

“Uma coisa que está tão permeada na história, na tradição social como o machismo não vai acabar com uma medida institucional, com uma decisão legal. É claro que medidas institucionais, decisões legais têm impacto, reduzem, estimulam, mas elas não vão mudar o cenário de um dia para o outro. A gente precisa de mais medidas dessas do TSE, de mais fiscalização, de mais controle, de mais incentivo, ao fortalecimento das trajetórias das mulheres, mas sem a expectativa de que a sociedade vá mudar de um dia para o outro.”


Mayra Goulart disse que, por estar permeado na sociedade, o machismo aparece na cúpula dos partidos “que são predominantemente brancas e masculinas”.


*Estagiárias sob supervisão de Carlos Alexandre de Souza