POLÍTICA

Eleitor opta por dar uma chance ao centro na disputa municipal

Legendas que não se colocam nos extremos emergem das eleições como as principais forças políticas e rearranjando o jogo da conquista de prefeituras. Partido de esquerda mais bem colocado no ranking do TSE surge na 7ª colocação

Depois de uma eleição polarizada, em 2018, quando os extremos da esquerda e da direita se enfrentaram com discursos raivosos e de negação mútua, dois anos depois o radicalismo parece perder força, reacendendo no eleitor a percepção de que no centro está o ponto de equilíbrio. Isso explicaria o resultado obtido por vários partidos que se inserem nesse espectro, que inclui desde legendas orgânicas –– ou seja, com princípios programáticos sólidos, como DEM e PSDB –– e inorgânicas –– também conhecidas como fisiológicas, aquelas que compõem o chamado Centrão. E, na visão de estudiosos ouvidos pelo Correio, o resultado que emergiu das urnas no domingo passado, e que tem tudo para se confirmar no próximo dia 29, posiciona algumas peças para o tabuleiro eleitoral de 2022.

Mas, mesmo entre os partidos de centro, tendendo para direita ou para a esquerda, houve um rearranjo de forças. É o que se pode observar no ranking que emergiu das urnas, segundo o ranking fornecido pelo Tribunal Superior Eleitoral. Ainda que tenha sofrido uma redução nas suas zonas de influência, com um encolhimento de 25% (de 1.044 em 2016 vai comandar 774 municípios), o MDB continua sendo a legenda com a maior quantidade de prefeituras. O PP, que lidera o Centrão no Congresso, vem na sequência, com 682 –– salto de 37% ––, seguido do PSD, que fez 650 prefeitos. Já o PSDB, na 4ª posição, viu seu universo eleitoral se reduzir em 34%, conquistando 512 Executivos locais.

No sentido oposto ao do MDB e do PSDB, o DEM obteve um aumento de 71%, levando 459 prefeituras, três delas no primeiro turno (Curitiba, Florianópolis e Salvador) e está no segundo turno no Rio de Janeiro.

O primeiro partido de esquerda que surge no ranking do TSE, mas em 7º lugar, é o PDT, que obteve o comando de 311 cidades, seguido do PSB, que administrará 250. Assim mesmo, estão espremidos entre duas legendas de direita, como PTB e Republicanos, que, respectivamente, administrarão 212 e 208 municípios. O PT, que foi hegemônico na esquerda até a corrida presidencial de 2018, sofreu uma expressiva baixa: estará à frente de 179 prefeituras, um encolhimento de quase 30% em relação ao pleito municipal de 2016.

Rearrumação

Mas esse rearranjo era previsto por analistas. No caso do MDB, o partido não conquistou nenhuma prefeitura de capital no primeiro turno, embora esteja no segundo turno em sete e seja favorito em cinco (Maceió, Goiânia, Teresina, Porto Alegre e Boa Vista).

A Arko Advice Consultoria Política, que também fez uma análise do pleito, pontua que entre os dez partidos que mais elegeram prefeitos em todo o país, apenas dois são de esquerda: PDT e PSB. Ainda assim, é possível observar que ambos tiveram uma redução neste primeiro turno, em comparação com o primeiro turno de 2016. O PSB, por exemplo, caiu de 403 para 251 eleitos. O PSol, que disputa a prefeitura de São Paulo com Guilherme Boulos, já conseguiu um aumento, ainda que numericamente continue pequeno: saiu de duas conquistas no primeiro turno de 2016 para nove neste ano.

De acordo com a Arko Advice, “o primeiro turno foi péssimo para o PT, ruim para o presidente Jair Bolsonaro e para as esquerdas de modo geral, mas excelente para os centristas. É o que os resultados gerais revelam”, ressalta.

“Mas é notório que, composto por uma miríade de partidos, o centro político ganha tração para a sucessão a partir dos bons resultados obtidos na eleição. O fortalecimento do centro também contribui para reforçar a dependência de Bolsonaro aos partidos que integram o chamado Centrão”, reforça o estudo da Arko.

Cenário incerto

A rearrumação ficou tão diversa que especialistas divergem do cenário que enxergam. Para Antônio Augusto Queiroz, consultor e analista político, sócio-diretor das empresas Queiroz Assessoria em Relações Institucionais e Governamentais, do mesmo modo que nos Estados Unidos, onde o eleitorado fez a opção por uma candidatura mais preocupada com os direitos humanos, no Brasil ficou claro que a tendência pode ser semelhante em 2022. “Uma candidatura de extrema direita, como a do próprio Bolsonaro, é difícil de se viabilizar, porque não vai achar um contraponto extremado pela esquerda”, analisa.

Jorge Mizael, cientista político e diretor da Consultoria Metapolítica, diz que é cedo para dizer se a polarização perdeu a força. “Historicamente, o Centrão não consegue fechar um nome para encabeçar uma chapa presidencial. Será que chegou o momento?”, avalia.

Paulo Baia, sociólogo e cientista político, salienta que as eleições municipais são movidas pela pauta de cada cidade. Para ele, o que vai definir 2022 são as disputas para o Congresso. “A feição de 2022 será dada pelo tipo de arranjo político que acontecer na Câmara dos Deputados e no Senado, com o atual quadro, número e perfil dos eleitos em 2018”, assinala.