Eleições 2020

Milícias digitais atacam TSE

Barroso confirma que mais de 436 mil conexões por segundo tentaram invadir os servidores do tribunal para provocar falhas no sistema que pudessem comprometer a integridade das votações e colocar em dúvida a credibilidade

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) suspeita de que grupos extremistas foram responsáveis pelos ataques ao sistema da Corte e pela divulgação de dados de funcionários como estratégia de difamar e descredibilizar a integridade das eleições municipais de 2020. O presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, atribuiu as mais de 436 mil conexões por segundo à atuação de “milícias digitais” e negou a relação dos vazamentos de dados com falhas no sistema que pudessem comprometer a integridade das votações.

“Há suspeitas de articulação de grupos extremistas, que se empenham em desacreditar as instituições, clamam pela volta da ditadura, e muitos deles são investigados pelo STF (Supremo Tribunal Federal)”, detalhou o ministro. Ele também pediu ao diretor-geral da Polícia Federal, Rolando Alexandre de Souza, a instauração de uma investigação “séria e ampla”.

Ao comentar as reivindicações para o voto impresso e comentários de apoiadores bolsonaristas que especularam ocorrência de fraudes usando, como argumento, os atrasos nas totalizações dos votos, Barroso foi enfático: “Não costumo reclamar publicamente da demora nos outros Poderes e, portanto, não vou opinar nessa questão específica. A verdade é que o sistema se revelou totalmente confiável e íntegro desde 1996. Nunca se provou nenhum fato que pudesse desacreditar. Portanto, não há nenhuma razão para se modificar isso. Tenho recebido pedidos para se voltar a votação de cédulas. Aí, sim, havia muitas fraudes”, criticou.

Apesar da defesa do voto eletrônico, o ministro garantiu que “não somos apaixonados por urnas eletrônicas, mas por votação limpa”. E, segundo ele, caso haja provas que evidenciem erros e fraudes, destacou que a reação imediata será investigar.

Atrasos

Sobre os atrasos de mais de duas horas na divulgação dos resultados, no último domingo, Barroso explicou que, de acordo com informações que lhe foram passadas pela Secretaria de Tecnologia da Informação do TSE, a máquina que fez as contagens era nova e, em razão da pandemia, atrasou para chegar no Brasil. Com isso, dos cinco testes previstos, o equipamento só foi submetido a dois.

“Em razão das limitações nos testes prévios, no dia da eleição a inteligência artificial do equipamento demorou a realizar o aprendizado para processar os dados no volume e na velocidade com que chegavam. Daí sua lentidão e travamento, que exigiu que a totalização fosse interrompida e reiniciada”, observou.

Mesmo assim, o ministro afirmou que não houve prejuízo à integridade dos dados, nem tampouco qualquer fraude, já que as urnas funcionam fora de rede e, posteriormente, a transmissão das informações dos tribunais regionais eleitorais (TREs) ocorre por uma rede fechada. Para que o sistema esteja mais bem adaptado para o segundo turno, o TSE pretende fazer pequenos ajustes ao longo das próximas semanas.

O primeiro turno também foi marcado por problemas para acessar o aplicativo e-Título. Barroso admitiu quedas no sistema e atribuiu a falha à quantidade de acessos em um curto período de tempo.

Bolsonaro volta a desconfiar do processo

Enquanto Jair Bolsonaro colocava em xeque, mais uma vez, a confiabilidade do sistema eleitoral brasileiro como forma de corroborar a teoria que seus apoiadores disseminaram nas redes sociais de que os candidatos pelo presidente só obtiveram mau resultado nas urnas porque teria havido fraude –– voltou a citar o uso do voto impresso ao justificar que é preciso um sistema que “não deixe dúvidas” ou “margem para suposições” ––, o vice Hamilton Mourão procurou amenizar a situação afirmando que o resultado do primeiro turno das eleições municipais, do último domingo, não indica um possível enfraquecimento do movimento conservador ou do capital político de Bolsonaro.

“Não pode se debitar nada em relação ao presidente Bolsonaro porque ele não entrou de cabeça nessa eleição. Ele apoiou alguns candidatos, muito poucos. O presidente está sem partido e sem uma estrutura partidária. Fica difícil você participar de uma eleição”, observou.

Mourão reconheceu que os partidos de centro foram os “grandes vencedores” e que os eleitores optaram por candidatos “mais tradicionais e mais conhecidos”. “O que foi dado a conhecer, até o presente momento, não fiz nenhuma análise aprofundada, é que os partidos de centro tradicionais foram os grandes vencedores”, salientou.

Bolsonaro fez campanha para 59 postulantes, mas só nove se elegeram. Dos 45 candidatos a vereador que apareceram no “horário eleitoral gratuito” do presidente, apenas sete conquistaram uma vaga no Legislativo de suas cidades.

Sem culpa

Já Bolsonaro se eximiu de qualquer responsabilidade no fracasso dos seus escolhidos jogando o processo eleitoral numa nuvem de desconfiança. “Nós temos de ter um sistema de apuração que não deixe dúvidas. É só isso. Tem de ser confiável e rápido, não deixar margem para suposições. O Supremo (Tribunal Federal) disse que é inconstitucional o voto impresso. (Mas) tem proposta de emendar a Constituição na Câmara. Se não tivermos uma forma confiável de apurar as eleições, a dúvida sempre vai permanecer e nós devemos atender a população”, disse.

Mourão, por sua vez, em mais um movimento contrário ao de Bolsonaro, avaliou que o processo eleitoral brasileiro é “muito bom, sem dúvida nenhuma”.