Num cenário bem diferente das eleições municipais de 2016, o pleito deste ano diverge em vários aspectos. O principal deles, claro, é o fato de o Brasil enfrentar a pandemia do novo coronavírus. Além de ter provocado o adiamento das eleições (de outubro para este mês), a crise sanitária escancarou as necessidades prioritárias da população. Por isso, o eleitor mira candidatos com experiência, em vez de novatos, conforme avaliam especialistas.
Cientista político e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), Ricardo Ismael afirma que um processo eleitoral mais curto favorece os candidatos já conhecidos. Para ele, a taxa de reeleição de prefeitos, ou mesmo de candidatos apoiados pela atual gestão, deve aumentar neste ano, em comparação com 2016. Isso porque, prefeitos se cacifaram com medidas de combate à covid-19.
Ismael ressalta, ainda, que, em 2016, a Operação Lava-Jato estava no auge, e o sentimento de mudança era grande. Nas eleições gerais de 2018, a população ainda mantinha a ideia de renovação política. Foi naquele ano que o Rio de Janeiro elegeu para o governo um juiz sem experiência alguma, Wilson Witzel (PSC), que passa por um processo de impeachment.
Agora, porém, a ideia de renovação foi atenuada. “O eleitor quer bons administradores. Em um momento de crise econômica e sanitária, o eleitor não quer improvisar”, ressalta o especialista, frisando que o discurso ideológico ficou em segundo plano, diferentemente do que aconteceu em 2018.
Marco Antônio Carvalho Teixeira, cientista político e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) de São Paulo, faz coro ao colega: a eleição deste ano não é da renovação ou do discurso anticorrupção, é da experiência. O prefeito que está bem, ou o candidato que representar a continuidade da gestão municipal bem-avaliada, obterá sucesso.
Analista político do portal Inteligência Política, Melillo Dinis aponta que, em 2016 e 2018, houve um grande investimento na ideia de novidade, mas nada de concreto foi entregue à população. Isso provocou a mudança de rumo do eleitor, além da pandemia, conforme argumenta.