A suspensão dos testes da vacina chinesa CoronaVac é o entrave do momento na Saúde e que gera novos ruídos na corrida para encontrar um imunizante contra a covid-19. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) argumenta ter determinado a suspensão dos estudos por precaução, diante da informação “incompleta e insuficiente” oferecida pelo Butantan. O instituto, por sua vez, alega ter fornecido todos os dados necessários e reivindica a retomada imediata dos estudos.
Ontem, as instituições realizaram coletivas para dar a própria versão dos fatos e houve choque de informações. A Anvisa disse que os testes da CoronaVac foram interrompidos por falta de dados claros e precisos. “As informações levaram a área técnica a tomar a decisão da interrupção temporária”, afirmou o diretor-presidente da agência, Antonio Barra Torres. “As informações veiculadas foram consideradas insuficientes e incompletas para dar continuidade aos estudos.”.
O presidente da agência afirmou que notificou o Butantan antes de divulgar a notícia da suspensão do estudo no site do órgão. Já o presidente do instituto, Dimas Covas, disse que o aviso foi feito por e-mail e, 20 minutos antes da divulgação nacional.
“Suspenderam o estudo clínico, causando incerteza, medo nas pessoas, fomentando um ambiente que já não é muito propício pelo fato de essa vacina ser feita em associação com a China. Cometer esse descrédito gratuito a troco de quê? Não seria mais justo ligar e avisar que a reunião estava marcada para esclarecer? Não seria mais justo, mais ético, mais compreensivo?”, questionou Covas.
Ele disse que a Anvisa estava ciente de que o efeito adverso no voluntário do tinha causas externas, conforme fora avisada no último dia 6. “Os dados estão todos fornecidos à Anvisa, ela tem todas essas informações. A conclusão do relatório que está em mãos da Anvisa é exatamente esta: o efeito adverso grave foi analisado e não tem relação com a vacina.”
No entanto, segundo a diretora Alessandra Bastos, da Anvisa, em um primeiro momento, a única informação oferecida foi a de que se tratava de um evento adverso grave não esperado. “Diante disso, interrompe-se o estudo. Esse é o protocolo”, justificou.
Mesmo com as novas informações prestadas ontem, a agência mantém as suspensões, com a justificativa que elas não foram suficientes para reverter a decisão, já que teriam sido fornecidas pela parte interessada do processo. “É necessário um olhar do comitê internacional independente”, frisou Gustavo Mendes, gerente-geral de Medicamentos e Produtos Biológicos da Anvisa.
A agência recebeu o parecer técnico do Comitê Internacional Independente ontem à tarde. Fontes do Correio dão conta que a avaliação é pela volta dos estudos.
Comissão de Ética mantém estudos
A Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), responsável por regular os estudos com seres humanos no país e garantir a segurança dos participantes, foi informada sobre a morte de um voluntário da pesquisa da CoronaVac, mas decidiu manter os testes do imunizante. Na avaliação do órgão, as evidências indicam que o óbito não teve relação com a vacina. “Recebemos a notificação no dia 6 e faltavam informações, mas chamamos uma audiência com os pesquisadores para o mesmo dia, à noite, para pedir alguns esclarecimentos. Com as informações prestadas, apesar de ainda preliminares, tudo indica que não há relação com a vacina e não vimos necessidade de interromper os testes”, disse Jorge Venâncio, coordenador da Conep.