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Disputas por prefeituras têm brigas acirradas por vaga no segundo turno

A poucos dias das eleições para prefeitos, capitais como São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre mostram candidatos isolados na frente e briga acirrada pela segunda vaga à próxima fase do pleito. Especialistas apontam forte fragmentação de partidos nos estados

A grande expectativa para as eleições municipais é quem chegará ao segundo turno nas principais capitais. Em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, o próximo domingo, data do primeiro turno, marcará a decisão dos candidatos que concorrerão, na segunda fase do pleito, com o prefeito Bruno Covas (PSDB) e o ex-prefeito do Rio Eduardo Paes, respectivamente. De acordo com especialistas, no geral, as eleições municipais terão muita fragmentação e é grande a possibilidade de o presidente Jair Bolsonaro sair como perdedor nas grandes capitais, sem emplacar seus candidatos.

Doutor em ciência política e professor e pesquisador do Departamento de Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), Ricardo Ismael fala em uma eleição municipal sem vencedores, por conta da pulverização. “Temos uma tendência de fragmentação. Não há partido que possa se declarar vencedor”, afirma. Ele pontua que, em São Paulo, por exemplo, o PSDB lidera; no Rio, é DEM; no Recife, o PSB, de João Campos.

Marco Antônio Carvalho Teixeira, cientista político e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), ressalta que o cenário é de pulverização, pelo fato de se ter, neste ano, uma eleição muita fragmentada, reflexo, inclusive, do fim das coligações. Há muitas candidatos a prefeitos, muitos partidos diferentes, e as maiores legendas na Câmara, PT e PSL, não devem ganhar em nenhuma capital, segundo o professor, apesar de o PT ainda ter alguma chance em Vitória, no Recife e em Fortaleza.

Para ele, o que se vê é um primeiro colocado já bem definido nas grandes capitais e uma corrida para ver quem chega ao segundo turno. No Rio, por exemplo, essa disputa pela segunda vaga deve ficar entre Marcelo Crivella (Republicanos) e Martha Rocha (PDT). Já em São Paulo, uma pesquisa Ibope, divulgada ontem, mostrou Guilherme Boulos (PSol) estacionado em 13%, Celso Russomanno (Republicanos) caindo de 20% para 12% e Márcio França (PSB), de 11% para 10%. Em Porto Alegre, o cenário é o mesmo, com Manuela D’Ávila (PCdoB) em primeiro. A segunda posição é disputada por Nelson Marchezan (PSDB), Sebastião Melo (MDB) e José Fortunati (PTB).

Para o professor Marco Teixeira, quem deve sair fortalecido dessa pulverização é o DEM, que, aparentemente, vai conseguir fazer prefeito em Salvador, Florianópolis e, talvez, no Rio de Janeiro, além de estar na aliança de Covas, em São Paulo. Na capital paulista, Teixeira aponta que o cenário é mais favorável a Covas, caso Boulos vá ao segundo turno, visto que tem uma rejeição maior e consegue os votos apenas da esquerda. França teria a possibilidade de crescer na esquerda e na direita.

Nesse cenário, o PSol cresceu, conseguindo um grande destaque em São Paulo, ao tomar o espaço que um dia foi do PT — legenda tão reduzida nas capitais, inclusive nesta, onde, historicamente, tinha força.

Para o analista político Melillo Dinis, do portal Inteligência Política, além de uma eleição fragmentada, pode-se esperar muitos prefeitos com boa avaliação do combate à pandemia do novo coronavírus conseguindo se reeleger. Um dos exemplos é Alexandre Kalil (PSD), que, ao que tudo indica, vencerá no primeiro turno. Ele analista aponta o crescimento significativo de legendas como PSD, PP e PSol nas capitais.

A visão é, também, de que Bolsonaro será o grande perdedor nas grandes capitais, não conseguindo eleger seus candidatos, ou mesmo pessoas alinhadas politicamente com ele. E agora que resolveu se envolver diretamente, como pontua o professor Marco Teixeira, uma derrota daqueles a quem apoiou também significará uma derrota para ele.

O “horáro eleitoral” de Bolsonaro

O presidente Jair Bolsonaro fez, ontem, uma live para divulgar candidatos apoiados por ele nas eleições. Na transmissão, apelidada pelo chefe do Executivo de horário eleitoral, pediu para que os eleitores não votem em candidatos de esquerda. “Precisamos afastar o socialismo”, pregou. Ele afirmou que candidatos que apoiam as medidas de isolamento contra a covid-19 devem ser evitados pelos eleitores. Candidatos à prefeitura de São Paulo Orlando Silva (PCdoB) e Joice Hasselmann (PSL) acionaram a Justiça Eleitoral para impedir Bolsonaro de promover a propaganda eleitoral durante as lives semanais.