O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, buscou passar nesta segunda-feira (9/11) uma imagem de alinhamento entre Brasil e Europa em relação às pautas ambientais, apesar das recentes pressões vindas de países daquele continente devido ao aumento do desmatamento e queimadas.
Ele afirmou que o Brasil compartilha diversas características com a Europa, como preocupação maior com os mais vulneráveis e desenvolvimento sustentável. No entanto, conforme disse, existem correntes simpáticas "a um cartel político criminoso" no América do Sul que “não querem que se enxergue essa profunda sintonia” entre governo do presidente Jair Bolsonaro e Europa.
“Querem criar desacordo e animosidade entre nós. Para isso, usam um tecido muito denso e sofisticado de desinformação em torno, principalmente, do tema ambiental. É preciso entender quem são aqueles que querem nos dividir, quem são aqueles que querem que a Europa entregue o Brasil no momento por uma lente completamente distorcida”, disse, sem citar a quem interessaria colocar o país contra os europeus na seara da ecologia. As falas foram gravadas e transmitidas no 6º Simpósio sobre Segurança Regional Europa-América do Sul.
Para o ministro, as ações são, em grande parte, daqueles que não querem uma parceria entre Brasil e Europa “no combate ao crime organizado e suas conexões políticas". “Quanto mais atuarmos em conjunto no combate ao crime e em favor da segurança, mais ficará evidente a sintonia e a irmandade de sentimentos e objetivos que nos une. A diplomacia brasileira quer constituir-se, hoje, num instrumento de defesa desses valores, diante da ameaça representada pelo cartel político criminoso”, afirmou, também de maneira genérica.
No ano passado, a Alemanha e Noruega suspenderam repasses ao Fundo Amazônia, após discordar do governo Bolsonaro, alegando que não estavam vendo ações efetivas para conter os níveis de degradação ambiental. Na última semana, o vice-presidente Hamilton Mourão fez uma viagem à Amazônia com embaixadores da Alemanha, África do Sul, Espanha, França, Portugal, Reino Unido, Suécia, Canadá, Colômbia e Peru. O objetivo era, justamente, buscar reduzir a imagem de que o país não tem combatido desmatamento e queimadas na região.
Venezuela
No discurso na abertura do simpósio, Ernesto afirmou que nunca foi tão importante uma colaboração pela segurança entre Europa e América do Sul. Conforme o ministro, existe uma tendência de consolidação “de uma grande rede de todos os tipos de crime juntamente com correntes políticas totalitárias ou simpáticas ao totalitarismo”. Para o chanceler, é preciso reconhecer o problema, que também afeta a Europa, e enfrentá-lo em conjunto com o Brasil.
O primeiro fator a entender, segundo ele, “é a operação desse cartel politico criminoso”. “Que podemos classificar como um iceberg, cuja ponta apenas é na Venezuela, no regime, que lesa a humanidade, de Nicolás Maduro. A Venezuela se tornou o paraíso do crime organizado e do terrorismo”, criticou. Araújo afirmou que “esse cartel, a partir da América do Sul, afeta todas as regiões”.
“Não se trata de uma questão ideológica. Nós não nos opomos ao cartel político-criminoso porque são de esquerda, mas porque praticam crimes, querem destruir a segurança e a liberdade da nossa sociedade”, disse. O ministro frisou ser fundamental que os países de centro-esquerda democráticos da Europa entendam “e não caiam numa simpatia meramente nominal pelo cartel unicamente porque o aspecto político desse cartel é apresentado como sendo de esquerda”.
De acordo com o chanceler, não se trata de uma briga entre esquerda e direita, apesar de ver como necessário analisar “as raízes ideológicas" do grupo. “Por meio do Itamaraty, o Brasil está pronto para contribuir com todos os esforços com nossos parceiros europeus para enfrentar esse perigo em todos os seus aspectos e tentáculos”, pontuou.