A tumultuadíssima disputa eleitoral entre Donald Trump e Joe Biden para a Casa Branca trouxe de volta um fenômeno que se tornou recorrente na crônica política: as fake news e o papel das redes sociais como instrumento de manipulação. Apenas para ficar na semana passada, emissoras de tevê norte-americanas interromperam a transmissão do discurso de Trump após o presidente denunciar, sem provas, fraudes nas eleições. O efeito nocivo da desinformação, um fenômeno que afeta o Brasil e vários países, atingiu gravidade tal que provocou um estado permanente de vigilância nas instituições, públicas ou privadas, comprometidas com a informação para o fortalecimento da democracia.
No Brasil, há movimentos para coibir as fake news. Cite-se, como exemplo, o inquérito que apura ameaças contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Há ainda uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) sobre o disparo em massa de fake news durante as eleições de 2018. Na Câmara, tramitam mais de 50 propostas para combater e criminalizar a disseminação de informações falsas. Um dos maiores produtores de notícias falsas do mundo, inclusive por agentes públicos, o Brasil ocupa um lugar relevante neste debate.
Na próxima semana, dois especialistas em fake news compartilharão suas perspectivas sobre essa realidade ao público brasileiro: Brittany Kaiser e Jaron Lanier. Eles participam do Sebrae Inova, evento on-line e gratuito que, de 12 a 14 de novembro, discutirá marketing digital, privacidade de dados e empreendedorismo. Brittany Kaiser é ex-consultora de desenvolvimento de negócios da Cambridge Analytica, empresa britânica que foi fechada por obter ilegalmente dados de milhões de pessoas, usando-os de modo indevido para beneficiar seus clientes. Em 2016, Kaiser afirmou que a Cambridge teria usado os dados dos clientes para influenciar nas eleições americanas que elegeu Donald Trump naquele ano.
Brittany Kaiser pretende falar dos limites da transparência e da ética em uma era de informação descontrolada. Autora do livro Manipulados e cofundadora da Own Your Data Foundation, a norte-americana contará como o acesso fácil aos dados pessoais de eleitores e a ausência de regulamentação permitiram influenciar a disputa presidencial dos Estados Unidos em 2016, em um dos maiores escândalos da era digital.
Jaron Lanier, por sua vez, é uma das personalidades mais respeitadas da internet. Pioneiro da computação e crítico do poder manipulador das redes sociais, recentemente participou do documentário O dilema das redes, da Netflix, no qual ele compara o abuso das redes sociais ao consumo de drogas, causando sérios danos à qualidade de vida do internauta. Lanier reflete ainda sobre os perigos de uma sociedade controlada por algoritmos, que modificam o comportamento de milhões de pessoas diariamente.
Para o superintendente do Sebrae-DF, Valdir Oliveira, é fundamental discutir sobre fake news, redes sociais e manipulação da informação. As polêmicas em torno das eleições dos Estados Unidos servem de alerta ao Brasil. “Mais uma vez as eleições americanas foram marcadas por ataques, manipulações e fake news. Nesse momento é importante alertar nossa população para que o mesmo não ocorra aqui no Brasil nas próximas eleições”, afirma.
Para o professor de ciência política André Frota, movimentos negacionistas como o de Donald Trump representam um risco à democracia. “O atual presidente teve a transmissão de um discurso interrompido pelas emissoras depois de apresentar informações falsas sobre o sistema eleitoral de seu país, isso é muito grave. A partir do momento que um candidato questiona o sistema eleitoral do seu país, simplesmente por não aceitar os resultados das urnas e sem apresentar provas, isso enfraquece a democracia”, explica o professor.
Participe
Sebrae Inova, entre 12 e 14 de novembro, on-line e gratuito. Inscrições e programação: www.sebraeinovadigital.com.br
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São pelo menos cinco dezenas de propostas em tramitação na Câmara dos Deputados para combater e criminalizar a disseminação de informações falsas