Nesta terça-feira (03/11) em entrevista ao CB.Poder — uma parceria do Correio Braziliense com a TV Brasília —, João Carlos Souto, professor de Direito Constitucional da UDF e autor do livro Suprema Corte dos Estados Unidos - Principais decisões; e o Conselheiro Federal da OAB Rodrigo Badaró, especialista em política dos Estados Unidos debateram sobre corrida eleitoral nos Estados Unidos.
Na avaliação de Badaró, Donald Trump teria vantagem expressiva sobre o concorrente não fosse a pandemia. “O americano é pragmático. A economia move o mundo e em todos os países ela tem influência nas eleições. O americano cuida muito bem desses valores individuais, das questões morais e tem um pragmatismo com relação à eleição. É óbvio que a pandemia e a forma como ela foi tratada pelo presidente Trump, amplamente criticado nos Estados Unidos e no exterior, trouxeram prejuízo, junto com o viés econômico, a grande locomotiva que poderia colocá-lo bem à frente de Joe Biden”, avaliou o especialista.
Apesar do impacto do novo coronavírus nos planos de reeleição de Trump, Badaró acredita que o republicano tem chances de ganhar em razão da economia e da análise histórica. “Já há um discurso da mídia, inclusive americana, dizendo que é possível que Trump ganhe. No entanto, é preciso acompanhar de perto, isso ainda é uma incógnita. Mas hoje as bolsas de aposta de Londres já começaram a rever as posições, dando a chance de 39% a 40% para Trump. E mesmo que o atual presidente seja visto por muitos como palhaço, ele nunca cometeu uma falha moral externa, uma coisa que penalizava o americano, principalmente no sentido econômico”, ressaltou ele.
Em caso de vitória de Joe Biden, Badaró olha com otimismo a relação entre Brasil e Estados Unidos. “Fora a questão do meio ambiente, uma ferida que o Biden pode explorar de forma muito efetiva, não vejo tanta mudança. É óbvio que já vemos um alinhamento automático, ligado aos Estados Unidos, e pode por um certo período ter uma instabilidade nas relações dos dois países. Mas acredito que, com o tempo, a política do Itamaraty e dos Estados Unidos vá se alinhar. Até porque os dois países são grandes parceiros históricos; a parceria é de Estado, não é governo. Acredito que ela vai se ajustar, não vai ter uma catástrofe, do ponto de vista comercial, como colocam alguns”, avaliou.
Bom senso
João Carlos Souto é mais cauteloso. “Espero que o governo Biden, se vier a ser eleito, se entenda com o governo do Brasil para o bem dos dois países. A nossa aliança natural, cultural, geográfica é com os Estados Unidos; o Brasil não pode deixar de ter essa parceria com os americanos. Mas será preciso bom senso dos dois lados, para que Biden respeite a questão da soberania do nosso país e que o governo brasileiro também reconheça se houve equívocos ambientais de nossa parte, pois essa é a pauta que pode afetar diretamente essa parceria”, pontuou.
Para Souto, caso Biden vença a corrida para a Casa Branca, terá assuntos mais urgentes para resolver: o alinhamento dos EUA com a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte); a briga comercial com a China; o problema da internet 5G com empresa de telecomunicações Huawei; o Protocolo de Paris; e o acordo Nuclear com o Irã. Ante tantas prioridades, é possível que o Brasil seja considerado uma questão menor e fique em segundo plano.
Souto também comentou sobre a possível judicialização das eleições norte-americanas. Mas ressaltou que a briga nos tribunais depende do desempenho eleitoral de Biden — se ele obterá uma votação maciça, ou se a vitória ocorrerá por uma pequena diferença. “Acredito que a Suprema Corte dos EUA vai querer se preservar. Não vejo os juízes indicados por Trump votando a favor dele, a não ser que haja uma brecha para isso. Até porque os dois juízes que ele indicou votaram contra ele recentemente. Se a eleição cair na Suprema Corte, não tem como dizer que são favas contadas”, observou.
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*Estagiário sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza