O Itamaraty respondeu na última quarta-feira (25) a nota da embaixada da China no Brasil, na qual ela criticou as declarações do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente da República Jair Bolsonaro. O Ministério das Relações Exteriores chamou a resposta chinesa de ofensiva e desrespeitosa, dizendo não ser apropriado que “agentes diplomáticos” tratem assuntos dos dois países pelas redes sociais e que tal atitude não é construtiva e gera “fricções”.
“O tom e conteúdo ofensivo e desrespeitoso da referida ‘declaração’ prejudica a imagem da China junto à opinião pública”, pontuou o ministério em carta divulgada pela CNN Brasil. Apesar de criticar a postura chinesa em publicar repúdio ao 03 do presidente nas redes sociais, a situação toda começou na internet. O parlamentar fez uma série de publicações em sua rede social que acusava a China de espionagem via 5G.
"O Brasil apoia projeto dos EUA para o 5G e se afasta da tecnologia chinesa", dizia a publicação, que foi apagada por ele. E continuava: "O governo de Jair Bolsonaro declarou apoio à aliança Clean Network, lançada pelo governo Donald Trump, criando uma aliança global para um 5G seguro, sem espionagem da China".
Como resposta, a embaixada chinesa divulgou na última terça-feira (24) uma nota manifestando forte insatisfação e repúdio ao comportamento do deputado e disse, ao final, que as personalidades brasileiras devem "deixar de seguir a retórica da extrema direita norte-americana, cessar as desinformações e calúnias sobre a China e evitar ir longe demais no caminho equivocado".
Interesse nacional
O Itamaraty afirmou, em carta enviada à embaixada chinesa, que é inadequado que o parceiro comercial se pronuncie sobre as relações do Brasil com terceiros países, em resposta à referência chinesa de que o Brasil não deve seguir a retórica da extrema direita norte-americana. O governo brasileiro disse, ainda, que tem se abstido de falar sobre assuntos da China que atraem muita atenção da opinião pública mundial, e que espera o mesmo tratamento.
O ministério ressaltou que não cabe à embaixada chinesa opinar sobre interesses da sociedade brasileira, assim como não cabe à embaixada do Brasil opinar sobre as aspirações do povo chinês. “O governo brasileiro deseja manter e promover as excelentes relações entre o Brasil e a China. Desrespeitar a diversidade de pensamento e opinião existente no Brasil garantida por nossa Constituição democrática e por nossa legislação, não contribui para o avanço das relações”, pontuou.
O Itamaraty disse, ainda, na carta, que os países possuem relações “densas, maduras e mutuamente benéficas”, e que o Brasil é um país democrático, com separação de poderes e liberdade de expressão. “Espera-se que a embaixada da República Popular da China, em suas manifestações, respeite esses fundamentos do reordenamento constitucional brasileiro, assim como a embaixada do Brasil na República Popular da China respeita o ordenamento constitucional chinês”, escreveu.
O Ministério das Relações Exteriores ressaltou também que o respeito mútuo as respectivas soberanias é fundamental para as ótimas relações que temos desenvolvidos”.
"Ameaça velada"
Ao Correio, Eduardo Bolsonaro disse na última quarta-feira (25) que o país asiático adota uma postura agressiva e lamenta a nota publicada pela embaixada chinesa. "A China adota uma postura muito agressiva, isso é lamentável. E é lamentável que na parte final da nota ela ainda sirva da fala individual de um parlamentar (Eduardo Bolsonaro), ainda que presidente da Comissão de Relações Exteriores, para, na minha visão, fazer uma ameaça velada ao Brasil", afirmou.
Apesar de ter apagado a publicação, o parlamentar reiterou suas preocupações, dizendo ter suas convicções e suspeitas fundadas". "Não à toa está se formando, devido a essa preocupação fundada, uma aliança internacional para analisar essa questão do 5G", disse.
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