Eleições 2020

Lideranças jovens da esquerda se consolidam nas eleições municipais

Segundo turno terá disputa de candidatos com menos de 40 anos, como Guilherme Boulos, em SP, Manuela D’Ávila, em Porto Alegre, e João Campos e Marília Arraes, em Recife

Simone Kafruni
postado em 16/11/2020 19:06
Lideranças com menos de 40 anos, como Guilherme Boulos e Manuela D'Ávila, se firmam como opções de esquerda  -  (crédito: MAURO PIMENTEL/AFP)
Lideranças com menos de 40 anos, como Guilherme Boulos e Manuela D'Ávila, se firmam como opções de esquerda - (crédito: MAURO PIMENTEL/AFP)

As eleições municipais de 2020 mostraram que os partidos tradicionais de centro ganharam musculatura nas urnas, mas também consolidaram lideranças jovens de uma esquerda diferente daquela ligada a movimentos sindicais. Guilherme Boulos, do PSol, está no segundo turno, com Bruno Covas (PSDB), na briga pelo cargo de prefeito do maior colégio eleitoral do país, São Paulo. Em Porto Alegre, Manuela D’Ávila (PCdoB) também está no páreo contra Sebastião Melo (MDB). Em Pernambuco, dois jovens líderes, primos ainda por cima, disputam a prefeitura da capital: João Campos (PSB) e Marília Arraes (PT). Todos com menos de 40 anos.

Os especialistas avaliam que esses jovens da esquerda sub-40 não surgiram da luta pelo fim da ditadura militar como o PT, PDT e até a legenda de centro-esquerda PSDB, e têm postura diferente da esquerda tradicional e combativa. Como nasceu junto com a Constituição Federal de 1988, a nova geração tem outra bagagem. É ideológica e não pragmática. Luta por valores e é derivada de movimentos identitários e não da luta de classes. Os novos líderes da esquerda também crescem no contraponto ao neoconservadorismo do presidente Jair Bolsonaro e da direita tradicional.

Para Ricardo Ismael, cientista político e professor da PUC-Rio, o movimento mostra, claramente, uma mudança geracional. “Há uma nova geração da esquerda e centro-esquerda se fortalecendo, com chances reais. No caso de Recife, um dos dois será prefeito. Em Porto Alegre, Manuela tem possibilidade de vencer e Boulos sairá muito fortalecido”, avaliou.

Renovação

Isso, no entanto, não significa a aposentadoria das velhas lideranças, como Lula (PT) e Ciro Gomes (PDT), acrescentou o professor. “Esses nomes estão desgastados, porque a população quer renovação e são ligados à corrupção. Evidentemente, seria muito interessante que essa renovação chegasse à eleição de 2022. Mas o controle dos partidos ainda é feito com mão de ferro pelos caciques. Não há muita conversa no PT e PDT. Agora eles parecem satisfeitos, mas, em 2022, as jovens lideranças não devem sombrear as velhas”, comentou.

Para a cientista política Mayra Goulart, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a nova esquerda abre a possibilidade de um movimento progressista multicêntrico. “São partidos e lideranças identificadas com movimentos sociais, LGBTQIA+, dos negros e das favelas e finalmente rompem com a falta de mea culpa do PT. Buscam o fortalecimento de novos discursos”, analisou.

Temor

No entanto, a professora se diz temerosa com isso, por conta da resposta que a direita pode dar à esquerda emergente. “A velha direita tradicional, que tem compromisso com o neoliberalismo e o mercado, acabou por pressionar o Bolsonarismo. Essa velha direita nos deixa mais confortáveis porque é mais respeitosa com as instituições democráticas, enquanto o bolsonarismo é totalitário”, explicou.

Conforme a esquerda vai ganhando espaço, até mesmo com a recomposição do PT nestas eleições de 2020, a velha direita pode voltar a se unir com o bolsonarismo, continuou a professora Mayra. “O PT se recompôs, elegeu um bom número de vereadores nas principais capitais. Em São Paulo, Eduardo Suplicy foi o vereador mais votado. Nas cidades médias, a sigla teve bom resultado. Isso mostra que a esquerda não está morta”, assinalou.

Para a especialista, é aí que reside o temor. “Essa direita que já estava confrontando Bolsonaro, ao ver o ressurgimento da esquerda, com novas e velhas lideranças, vai se sentir ameaçada”, disse. Sob ameaça, a tendência, segundo Mayra, é essa ala se voltar para o autoritarismo de Bolsonaro, que foi o que ocorreu em 2018, quando se uniu em torno do atual presidente para acabar com a hegemonia do PT.

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