Segundo maior colégio eleitoral do país, o Rio de Janeiro teve a segunda maior abstenção do país, de 32,79%, atrás apenas de Porto Alegre, com 33,08%, que é apenas o oitavo colégio eleitoral. No Rio, no entanto, o agravante é que o índice de ausências, quando somado com brancos e nulos (19,23%), totaliza 52,02%. Ou seja, mais da metade dos cariocas preferiu se eximir de escolher um dos candidatos à prefeitura da capital fluminense.
Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), dos 4.851.887 de eleitores aptos a votar na cidade do Rio, 1.590.876 não compareceram às urnas. Entre os que foram a uma seção eleitoral, 413.962 optaram por anular e 213.138 apertaram a tecla do voto em branco. O total de cariocas que preferiu não escolher candidatos foi de 2.217.976.
O montante é muito superior ao número de votos dos dois candidatos que vão para o segundo turno: o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) e o atual prefeito Marcelo Crivella (Republicanos). Paes conquistou 37,01% dos votos válidos (974.804), confirmando a liderança que já era apontada desde as primeiras pesquisas. Crivella chegou a 21,90% (576.825 ). Portanto, somente a abstenção foi maior do que os votos somados (1.551.629) dos dois.
Para o presidente do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RJ), desembargador Cláudio Brandão de Oliveira, a ausência dos eleitores foi acima da média, mas isso era esperado por conta do ambiente de pandemia. “O sentimento não é de frustração, não, porque a nossa missão maior era realizar as eleições. Então, acho que o tempo é um detalhe diante do que foi entregue à população do estado do Rio de Janeiro. As pessoas puderam se deslocar para o local de votação e exercer o seu direito”, disse.
Desafio para segundo turno
Do ponto de vista político, no entanto, isso será um desafio para os candidatos que vão disputar o segundo turno, segundo Paulo Baía, sociólogo e cientista político, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Como no sistema eleitoral brasileiro, o voto é obrigatório, mais da metade não ter escolhido candidato é um sinal significativo de descontentamento com todos. Ao mesmo tempo em que essa situação torna o segundo turno difícil de fazer a previsão. Os dois candidatos vão tentar sensibilizar metade dos eleitores em suas candidaturas”, disse.
Para o especialista, é difícil cravar o motivo da abstenção em 32,79%. “Pode ter sido a pandemia, doença, não encontrar a seção eleitoral, porque isso ocorreu no Rio, onde trocaram muitas de lugar. Não dá para dizer que significa rejeição aos candidatos. Já os mais de 12% nulos e 6% de brancos são de eleitores que deliberadamente rejeitaram as opções”, avaliou. O professor disse que nem é possível arriscar que, em termos proporcionais, mais votos iriam para Eduardo Paes, porque o Rio de Janeiro guarda surpresas na sua história. “Em 1992, Benedita da Silva (PT) quase venceu no primeiro turno, com 49% dos votos, mas César Maia (DEM), que tinha tido só 10%, venceu a eleição”, lembrou.
Para o cientista político Geraldo Tadeu Monteiro, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), o aumento das abstenções ocorre desde 2004. “Esse crescimento é esperado, porque tem a ver com os registros eleitorais. Muitos eleitores faleceram, outros se mudaram e justificaram a ausência. Há problemas de cadastro e muitos idosos não são mais obrigados a votar, mas continuam registrados”, enumerou. “Este ano, ainda tivemos um fator novo que foi a pandemia”, completou.
Monteiro explicou que, geograficamente, a abstenção foi maior em bairros onde se concentram mais idosos no Rio de Janeiro, como Copacabana e Barra. “Já a questão dos brancos e nulos trata-se de protestos distintos. (Voto em) Branco, a gente entende que o eleitor está protestando contra a falta de oferta política, que nenhum dos candidatos o representa. Nulo é um protesto contra tudo e contra todos, de pessoas com aversão ao sistema político”, analisou.
Escalada da ausência
Veja a evolução da abstenção no município do Rio:
1996: 16%
2000: 19%
2004: 16%
2008: 18%
2012: 20%
2016: 24%
2020: 32,79%
Fonte: TRE-RJ
Saiba Mais
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.