São Paulo vai reeditar, no próximo dia 29, a velha polarização entre os tucanos e a esquerda. Mas não será contra o PT, que teve um desempenho pífio no primeiro turno, e sim com o PSol — que até então era visto como uma espécie de linha auxiliar do partido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Bruno Covas (PSDB) e Guilherme Boulos decidem, no segundo turno, quem comadará a maior metrópole da América Latina.
O tucano liderou a contagem, fechando com 32,86% dos votos válidos, enquanto o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) obteve 20,24% da preferência do eleitorado, ultrapassando o ex-governador Márcio França (PSB), que ficou em terceiro lugar. A surpresa negativa foi Celso Russomanno (Republicanos), apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro, que fechou em quarto lugar –– o derretimento dele vinha sendo constatado nas pesquisas que precederam o pleito. Na sequência vieram Arthur do Val (Patriota), Jilmar Tatto (PT), Joice Hasselmann (PSL) e Andrea Matarazzo (PSD).
A apuração das urnas de São Paulo foi marcada pela lentidão. Quase cinco horas desde a primeira prévia, divulgada às 17h32 de ontem, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) fez duas atualizações confirmando, por volta das 23h, a passagem de Covas ao segundo turno acompanhado de Boulos.
Pouco antes de a apuração encerrar, Covas comemorou a nova disputa a que se submeterá. “São Paulo não quer ilusões. São Paulo quer realidade”, afirmou o tucano, ressaltando que seu governo seguirá com as obras em curso. “São Paulo foi às urnas e mostrou que não queria revanche de 2018, e nem antecipar as eleições de 2022. São Paulo quer eleger prefeito e não alguém totalitarista ou radical”, ressaltou Covas, alfinetando Boulos.
Pouco depois, o candidato do PSol também se manifestou publicamente e ressaltou que vai vencer o tucano porque terá “condições iguais de disputa” no segundo turno. “Esse é um momento histórico e podemos virar a página”, afirmou, destacando o forte crescimento da votação na periferia. “Tenho muita confiança de que a nossa onda vai crescer”, previu.
Na avaliação do cientista político André Rosa, a virada do candidato do PSol, principalmente sobre Russomanno, que começou a campanha liderando as pesquisas, mostrou uma mudança de comportamento do eleitor tradicionalmente de esquerda, que foge da pauta conservadora atual. “O voto em Boulos mostra um eleitor buscando uma alternativa à esquerda e ao PT, em busca de novos atores na política”, destacou.
Pelos cálculos da campanha de Boulos, o candidato teve 80 comerciais no primeiro turno contra 900 de Covas. “No primeiro turno eles tinham 11 jogadores e a gente, quatro. Agora vai ser pau a pau”, disse o marqueteiro Chico Malfitani, discurso que foi reproduzido pelo candidato no pronunciamento que fez pouco depois do tucano. O desconhecimento por parte da população foi considerado o maior entrave da candidatura do PSol no primeiro turno em São Paulo.
Já Covas quer fortalecer a ideia de que sua candidatura possa servir de exemplo para a formação de uma frente ampla com vistas à sucessão presidencial, em 2022. Uma expressão semelhante às de Covas e Boulos foi adotada pela campanha vitoriosa à Presidência de 2002 do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT): “A esperança venceu o medo”.
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