Eleições

PT tenta reverter o fracasso eleitoral de 2016

De acordo com o cientista político Antonio Lavareda, partido tem a chance de recuperar o espaço perdido, há quatro anos, com o desgaste provocado por escândalos de corrupção e pelo impeachment de Dilma

Jorge Vasconcellos
postado em 13/11/2020 15:50 / atualizado em 13/11/2020 16:13
Segundo Lavareda, PT pode sair da 10ª colocação para a 7ª em matéria de prefeituras conquistadas a partir deste domingo -  (crédito: Sérgio Bernardo/Acervo JC Imagem)
Segundo Lavareda, PT pode sair da 10ª colocação para a 7ª em matéria de prefeituras conquistadas a partir deste domingo - (crédito: Sérgio Bernardo/Acervo JC Imagem)

As eleições municipais deste ano são um teste importante para o Partido dos Trabalhadores (PT), após o fracasso nas urnas em 2016. Conforme pesquisas de intenção de voto, a legenda tem chances de eleger prefeitos em Vitória (ES) e no Recife (PE), quatro anos depois de conquistar apenas uma capital - Rio Branco (AC). Além disso, a sigla pode sair da 10ª para 7ª posição em número de prefeituras, de acordo com projeções do cientista político Antônio Lavareda.

O levantamento do analista se baseou na compilação das pesquisas eleitorais das últimas semanas. A partir da tradicional relação entre o desempenho dos partidos nos municípios com mais de 200 mil habitantes e no restante do país, o trabalho projetou que o PT conquistará cerca de 7% do total de prefeituras neste ano.

"A minha projeção, que fiz com a série histórica, é de que o PT pode sair da 10ª posição que tem hoje, com 5% do total de prefeitos, para a 7ª, com 7% dos prefeitos. Não é nada espetacular, mas nós estamos falando aí de adquirir mais 100 ou 150 prefeituras", disse Lavareda, um dos pioneiros do marketing político, com participação em mais de 100 campanhas eleitorais.

Esse aumento, porém, ainda está longe de reverter as perdas verificadas em 2016, quando o PT sentiu nas urnas o peso do desgaste provocado por escândalos de corrupção e pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

Crescimento

Há quatro anos, o partido elegeu 255 prefeitos, 389 (60%) a menos que os 644 que conseguiu eleger em 2012. Também em 2016, a sigla conquistou, em Rio Branco (AC), a única prefeitura entre as 95 cidades com mais de 200 mil habitantes – em 2012, foram 17. Nas eleições deste ano, segundo Lavareda, o PT tem nove candidatos a prefeito na primeira colocação e 11 na segunda, em municípios desse porte. "É muito difícil não subsistir o meu raciocínio de que o PT vai crescer nos grandes municípios. É óbvio que há um crescimento em relação a 2016", disse.

Entre as capitais do país, o partido está na frente apenas em Vitória, onde, segundo a última pesquisa Ibope, João Coser (PT) tem 26% contra 24% de Gandini (Cidadania). No Recife, conforme a última pesquisa Datafolha, Marília Arraes (PT) está em segundo lugar na disputa, com 22% das intenções de voto, atrás de João Campos (PSB), que tem 29%.

Em muitas das demais capitais, porém, o PT apresenta baixos percentuais. Em São Paulo, por exemplo, cidade já governada pelo partido, o candidato Jilmar Tatto, segundo o último Datafolha, aparece na sexta posição, com apenas 4%.

O PT também perdeu espaço em São Bernardo do Campo (SP), berço do partido. Segundo o Ibope, o atual prefeito, Orlando Morando (PSDB), deve vencer no primeiro turno, com 65% das intenções de voto, bem a frente do petista Luiz Marinho, que tem 26%.

Outros exemplos de perda de protagonismo do PT se deram na disputa pelas prefeituras das capitais do Sul. Em Florianópolis e Porto Alegre, o partido abriu mão da candidatura a prefeito para disputar como vice. Em Curitiba, flertou com o PDT por uma coligação, mas acabou anunciando uma chapa pura, interpretada como uma maneira de marcar posição na cidade que representa o berço da Operação Lava-Jato e onde o ex-presidente Lula ficou preso até o ano passado.

Recuperação

Mesmo assim, Lavareda considera que o PT está no início de um processo de recuperação. "Você tem o PT com chances no Recife e em Vitória nesta hora em que nós estamos conversando. É só expectativa de poder. Vamos agora fazer um exercício: se a gente estivesse em 2016, no dia de hoje o PT só teria Rio Branco. Então, melhorou muito", avaliou.

Sobre os motivos dessa melhora, Lavareda afirma que o anti-petismo, que se fortaleceu a partir de 2013, vem arrefecendo.

O cientista político acrescenta que um fator importante para a queda da rejeição foi a forte reprovação do governo do ex-presidente Michel Temer (MDB), que sucedeu Dilma. A ida do petista Fernando Haddad para o segundo turno na eleição presidencial de 2018, segundo ele, já era um sinal da recuperação do prestígio.

"O anti-petismo começa a grassar em 2013 e, desde então, esse sentimento vem refluindo, em razão de alguns fatores. Por mais que o bolsonarismo insista em relembrar o anti-petismo, o tempo vai fazendo decantar todos os sentimentos, e outros sentimentos vão surgindo. Hoje você já tem o anti-bolsonarismo, por exemplo. Então, o PT vem agora para a eleição no momento em que metade aprova o presidente e metade não o aprova, e no qual o partido tem um espaço para se mexer e tentar resgatar um pouco da força que já teve", avalia Lavareda.

Ele acredita que "logo mais, no próximo ciclo eleitoral, daqui a mais dois ciclos, o PT poderá ter recuperado uma parte importante da sua imagem original".

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