A demora do presidente Jair Bolsonaro em reconhecer a vitória de Joe Biden sobre Donald Trump, nas eleições presidenciais norte-americanas, atrapalha o Brasil nas relações internacionais. O alerta foi feito pelo deputado Professor Israel Batista (PV-DF), em entrevista nesta quarta-feira (11/11) ao CB.Poder – uma parceria do Correio Braziliense e a TV Brasília.
“Na democracia, não é comum que o chefe de Estado demonstre preferência pela vitória de um candidato de outro país. Isso pode prejudicar as relações internacionais. E as relações entre Estados Unidos e Brasil são centenárias e independem de governantes”, explicou.
Para o deputado, a atitude de Bolsonaro é temerária, pois aumenta o isolamento internacional do Brasil. Israel ressaltou que até mesmo Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria e reconhecido como de extrema-direita, reconheceu Biden como novo presidente dos EUA, mesmo sendo um apoiador de Donald Trump. “Os negócios são mais importantes. É muito difícil o Brasil poder abrir mão do comércio com os EUA por motivos ideológicos”, salientou.
Israel considera que, por conta da atuação polêmica de Bolsonaro, é dever do Parlamento fazer frente às demandas não atendidas. “Diante da crise da imagem internacional brasileira, muitas vezes o Congresso entra em campo para dizer: 'olha, o Brasil é uma democracia, nós temos vários poderes e o Poder Legislativo tem autoridade para dar demonstrações públicas dos caminhos que o Brasil quer seguir'. Por isso, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), teve de reconhecer (Biden) antes do chefe do Poder Executivo”.
Reitores
Israel também se mostrou preocupado com a nomeação dos reitores das universidades públicas feitas por Bolsonaro. Isso porque, desde o início do mandato, o presidente nomeou 15 dirigentes que não estavam no primeiro lugar na lista tríplice, que é elaborada por docentes, alunos e funcionários. Ele lembrou que alguns dos nomeados pelo presidente tiveram apenas 5% dos votos da comunidade acadêmica, como o da Universidade Federal da Paraíba.
“Corremos o risco de a Márcia Abrahão Moura, que teve 65% dos votos na UnB (Universidade de Brasília), não seja nomeada se o governo seguir essa tendência. O principal problema disso é que, dentro de uma universidade, a legitimidade do reitor conta muito para que ele tenha liderança e consiga aplicar suas políticas”, observou.
Ele lembrou, porém, que o presidente cumpre o preceito relativo à autonomia universitária, que é exercida, também, por meio da lista tríplice. “Só que essa lei parece ser tão inconstitucional que nenhum outro presidente, antes de Bolsonaro, a aplicou. Diziam que a lei poderia ferir a Constituição e, por isso, nomeavam o primeiro colocado da lista”, lembrou.
Educação e pandemia
Sobre o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) permanente, que, embora aprovado, precisa de regulamentação, Israel disse que "falta uma lei que detalhe como deve ser aplicado, quais os valores que cada estado vai receber do Governo Federal, e como será medida a qualidade de ensino".
"Porque 2,5% do Fundeb deve ser investido em qualidade (da educação)”, frisou, acrescentando que "ano que vem, quando teremos um aprofundamento da pobreza devido a pandemia, precisamos fortalecer as estruturas de assistência social”.
O parlamentar disse que a educação é a maior política social do Brasil. “Estamos tentando convencer o Governo Federal a cortar gastos de outros setores. Hoje temos mais gastos com subsídios da produção de combustível do que com a educação. Temos uma série de gastos que podem ser revistos, pois não dá para tirar do ponto de apoio essencial à família", destacou.
*Estagiário sob a supervisão de Fabio Grecchi
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