As milícias controlam 57,5% do território da cidade do Rio de Janeiro, conforme estudo divulgado ontem, que analisou o cenário de 2019. Antes restritas a bairros da Zona Oeste — como Campo Grande e Rio das Pedras, considerados os berços dos grupos paramilitares —, hoje 25,5% das localidades da capital do estado estão nas mãos dessas quadrilhas, formadas, em sua maioria, por policiais militares e bombeiros da ativa, da reserva e ex-integrantes dessas corporações. A predominância abrange, no total, 2,2 milhões de habitantes, o que equivale a 12,7 % da população carioca, considerando estimativa populacional do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística de 2019. O levantamento mostra que o poderio desses grupos é maior que o de todas as demais facções criminosas juntas, se analisada a extensão territorial.
Chamada de Mapa dos Grupos Armados do Rio de Janeiro, a análise foi elaborada pelo Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (UFF), o datalab Fogo Cruzado, o Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (USP) e a plataforma digital Pista News, e o Disque-Denúncia. Conforme o estudo, as milícias controlam 686,75 quilômetros quadrados. Já as facções Comando Vermelho, Terceiro Comando e Amigo dos Amigos têm 11,4%, 3,7% e 0,3%, respectivamente. O mapa apontou que, em 2019, um quarto do território ainda estava sendo disputado e que 41,4% da população moram nestas áreas.
O estudo avalia que a extensão do domínio das milícias impressiona pelo fato de que “esses grupos passaram a se organizar no seu formato mais recente no início dos anos 2000, enquanto o Comando Vermelho se forma ainda no final dos anos 1970 e o Terceiro Comando e o Amigo dos Amigos nos anos 1990”.
Mesmo a disputa entre os quatro grupos não impediu o avanço das milícias, o que “permite afirmar que essa expansão é o fenômeno mais notável dos últimos anos”. Os pesquisadores destacam, ainda, uma mudança no cenário do crime no estado do Rio: antes essa situação estava centrada nas disputas territoriais entre facções do tráfico e os tiroteios entre esses grupos e policiais.
“Segundo o mapa, as milícias também entram em disputas territoriais violentas e atuam em territórios cada vez mais extensos”, salientou o
pesquisador da UFF Daniel Hirata.
Para a elaboração do mapa, foram analisadas 37.883 denúncias relativas às milícias ou ao tráfico recebidas pelo Disque Denúncia.
Mortes violentas
O número de mortes violentas intencionais no Brasil voltou a crescer, e durante a pandemia do novo coronavírus. No primeiro semestre deste ano, houve um aumento de 7,1% dos casos, em relação ao mesmo período do ano passado. O dado, divulgado pelo Anuário Brasileiro de Segurança Pública, ontem, representa uma morte a cada 10 minutos. Dentro deste número, houve um aumento de 6% dos óbitos registrados como confronto contra as polícias no período, em relação a 2019. Mas, houve redução de crimes contra o patrimônio, que se explica pelas medidas de isolamento social. Roubo a transeunte, por exemplo, sofreu uma queda de 34%.