O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Luiz Fux, pautou para quinta-feira o julgamento de recurso da Advocacia-Geral da União (AGU) sobre o depoimento por escrito do presidente Jair Bolsonaro no inquérito que apura suposta interferência política na Polícia Federal. Mais cedo, o ministro Celso de Mello, relator da investigação, liberou o caso para ser pautado para julgamento.
A decisão atende a pedido apresentado pelo decano, que liberou o recurso após o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro se manifestar sobre o recurso da AGU. O ex-juiz da Lava-Jato pediu à Corte que mantenha a ordem para Bolsonaro ser ouvido presencialmente pela PF, como ele foi em maio na Superintendência da Polícia Federal de Curitiba. Segundo Moro, isso garantiria uma “equidade de posições” –– ambos são investigados no inquérito.
Celso, porém, determinou que o presidente deveria prestar depoimento pessoalmente. Porém, após o recurso da AGU, entrou de licença médica, e o ministro Marco Aurélio Mello, que o substituiu na relatoria, enviou a contestação para análise do plenário virtual. Quando voltou, o decano retirou o recurso do plenário virtual e enviou ao plenário.
Havia a expectativa grande em relação à decisão de Fux, tendo em vista que Celso se aposentará em 13 de outubro. Assim, se o presidente da Corte pautasse o caso para depois da data, o decano não participaria do julgamento.
A determinação para Bolsonaro depor presencialmente na PF tem por base o entendimento de que o presidente é investigado, portanto sem a prerrogativa da oitiva por escrito, reservada somente para testemunhas. A decisão foi amparada em diferentes precedentes da Corte. A AGU recorreu, alegando que Bolsonaro poderia depor por escrito, como fez o ex-presidente Michel Temer (MDB), em 2017.
Prorrogação
Mais cedo, Celso de Mello prorrogou por mais 30 dias o inquérito que investiga se Bolsonaro interferiu politicamente na PF. Em seu despacho, ele autorizou o pedido feito pela instituição, que teve parecer favorável da Procuradoria-Geral da República (PGR).
É possível que o novo ministro do STF venha a assumir a relatoria do caso. O presidente indicou o desembargador Kassio Nunes Marques para ocupar a vaga de Celso, que se aposenta dia 13. É praxe no Supremo que novos ministros herdem os processos de seus antecessores.
Há, porém, a possibilidade de haver uma redistribuição de relatoria, para que o caso que ameaça Bolsonaro não fique nas mãos de seu indicado. O nome de Kassio foi enviado pelo presidente ao Senado, com apoio do Centrão.