Em resposta às críticas de que o governo brasileiro não tem compromisso com a preservação ambiental, o presidente Jair Bolsonaro rechaçou o que chamou de “cobiça internacional” em torno da Amazônia. Bolsonaro discursou no I Encontro de Cúpula das Organização das Nações Unidas (ONU) sobre biodiversidade, ocorrida ontem, em Nova York. Em vídeo pré-gravado, o chefe do Executivo afirmou que a região será defendida “de ações e narrativas que agridam os interesses nacionais”, referindo-se ao fato de o Brasil ser criticado pela comunidade internacional. Líderes mundiais, grandes investidores e organizações não governamentais (ONGs) mostraram preocupação com a postura do governo em relação à devastação da Amazônia e de outros biomas, como o Pantanal, e de adotar um discurso que estimularia as queimadas e a derrubada das matas nativas.
O discurso de Bolsonaro foi a resposta oficial sobre a questão ambiental no Brasil, que se tornou assunto em todo o planeta. Na noite de terça-feira, em debate com Donald Trump, o democrata Joe Biden, candidato à Presidência dos Estados Unidos, afirmou que pretende repassar US$ 20 bilhões ao Brasil para conter os incêndios na Amazônia e mencionou possíveis consequências econômicas em razão do desmatamento. (Leia mais na página 12). Ontem, foi a vez de o presidente da França, Emmanuel Macron, externar críticas ao Brasil. Ao defender, na mesma cúpula de biodiversidade, uma nova forma de consumo mundial, o chefe de Estado francês disse que “A UE (União Europeia) não assinou o acordo comercial com o Mercosul por ele ameaçar aumentar o desmatamento”. Ele ainda atacou o agronegócio brasileiro. “É a soja transgênica que nutre o desmatamento na Amazônia”, acusou Macron.
A gravação com o presidente Bolsonaro veio horas depois. “Não podemos aceitar que informações falsas e irresponsáveis sirvam de pretexto para a imposição de regras internacionais injustas, que desconsiderem as importantes conquistas ambientais que alcançamos em benefício do Brasil e do mundo”, reagiu o presidente na mensagem enviada às Nações Unidas.
Bolsonaro também afirmou que o setor agropecuário brasileiro obteve aumentos expressivos de produtividade e que o impacto no meio ambiente é “irrisório”. Nos pouco mais de cinco minutos de fala, cobrou dos demais países o cumprimento dos acordos firmados em favor da questão ambiental. “É preciso que todos os países cumpram com suas responsabilidades, arquem com a parte que lhes cabe e se unam contra males como a biopirataria, a sabotagem ambiental e o bioterrorismo. Meu governo mantém firme o compromisso com o desenvolvimento sustentável e com a gestão soberana dos recursos brasileiros”, disse o chefe do Executivo.
No momento em que o Brasil é altamente visado pela comunidade internacional por conta das queimadas na Amazônia e no Pantanal, Bolsonaro deixou claro que a prioridade da sua gestão é a exploração racional e sustentável dos recursos da região. Ele ressaltou que o governo brasileiro “mantém firme o compromisso com o desenvolvimento sustentável e com a gestão soberana dos recursos brasileiros”.
Segundo Bolsonaro, é necessário chegar a um ponto de equilíbrio em relação à sustentabilidade e ao desenvolvimento. “É preciso que cheguemos a um consenso e que saibamos combinar sustentabilidade com desenvolvimento, e preservação ambiental com inovação econômica. No Brasil, temos orgulho de pertencer ao grupo de países megadiversos, e de possuir a maior extensão de vegetação nativa do planeta, o que corresponde a 60% de nosso território nacional”, salientou.
Esse foi o segundo discurso de Bolsonaro na ONU no qual o meio ambiente foi o assunto principal. Na abertura da Assembleia-Geral, no último dia 22, o presidente afirmou que o Brasil é vítima de uma “brutal campanha de desinformação” sobre as queimadas ocorridas na Amazônia e no Pantanal.
Ataque às ONGs
Sem apresentar provas, Bolsonaro também afirmou durante a cúpula que organizações, em parceria com “algumas ONGs”, comandam “crimes ambientais” no Brasil e no exterior. Ele citou, ainda, medidas na região amazônica, como a Operação Verde Brasil 2, mas não divulgou dados. “Na Amazônia, lançamos a Operação Verde Brasil 2, que logrou reverter, até agora, a tendência de aumento da área desmatada observada nos anos anteriores. Vamos dar continuidade a esta operação para intensificar ainda mais o combate a esses problemas que favorecem as organizações, que, associadas a algumas ONGs, comandam os crimes ambientais no Brasil e no exterior”, disse. No Pantanal, enumerou o presidente, houve o fortalecimento da integração entre as agências governamentais, com o apoio das Forças Armadas, para atuar de maneira coordenada no combate aos focos de incêndio no bioma.
“É preciso que cheguemos a um consenso e que saibamos combinar sustentabilidade com desenvolvimento, e preservação ambiental com inovação econômica”
Jair Bolsonaro