coluna

Alexandre Garcia: 'A diferença não está no sexo ou na pele, mas no que habita em cada candidato'

"Se querem quotas, por que não assim: 90% das candidaturas têm de ser para pessoas (não importa a cor nem o sexo) honestas, de caráter, patriotas, com histórico de serviços à comunidade, cumpridoras da lei e da Constituição, altruístas e competentes"

A seis semanas da eleição municipal, temos 545 mil candidatos no mínimo. Vamos eleger 5.568 prefeitos e 57.931 vereadores e, de modo indireto, abriremos as portas das prefeituras para uns 60 mil secretários municipais e das câmaras para, no mínimo, 200 mil secretários de vereadores — gente que vai ser escolhida sem concurso, para cargos de confiança de assessoramento direto. Quase 148 milhões de eleitores podem nomeá-los pelo voto.

Para estimular mulheres e negros a entrar na política, leis os tratam de modo diferente, embora o primeiro artigo do capítulo dos direitos e garantias individuais da Constituição estabeleça, em cláusula pétrea, que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”. A cabeça dos jovens jornalistas deve estar confusa com os modismos ideológicos, pois o noticiário fala de “cotas de gêneros”. Ora, como somos todos do gênero humano, percebo que querem se referir às mulheres, que precisam ser 30% das candidaturas.

Os candidatos estão classificados pela cor da pele, e as notícias falam em cotas raciais, equilibrando-se no fio da navalha do racismo. O Fundo Eleitoral, de 2 bilhões de reais, tem que ser dividido proporcionalmente à cor da pele. Seria menos apartador estabelecer que todos têm o mesmo direito na divisão do fundo. Divisões de representação por sexo e cor da pele, não estariam com o ranço de entender que branco governaria e legislaria para branco; negro para negro; mulher para mulher? Não seria um truque para nos enfraquecer, nos dividindo, negando que homens e mulheres, com peles diferentes, somos todos iguais, um único povo, o brasileiro miscigenado, unido no seu caráter nacional? Não estaríamos sendo separados pela lei, em vez de nos unirmos em objetivos e características comuns?

Se querem quotas, por que não assim: 90% das candidaturas têm de ser para pessoas (não importa a cor nem o sexo) honestas, de caráter, patriotas, com histórico de serviços à comunidade, cumpridoras da lei e da Constituição, altruístas e competentes. O partido responderia solidariamente pela candidatura que indicou, civil e criminalmente. Os restantes 10% de quota ficariam para os outros, a fim de que saibamos que eles existem e que têm voto, como as eleições têm demonstrado. Esses servirão para que nos acautelemos do mal, já que sendo do gênero humano, muitas vezes fazemos não o bem que queremos, mas o mal que não queremos — aproveitando Paulo (Romanos, 7). Pois a diferença não está no sexo ou na pele, mas no que habita em cada um dos candidatos.