Ao fazer a sua defesa no processo de impeachment na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), o governador Wilson Witzel (PSC) alegou que está sendo vítima de injustiças e afirmou que, se ele é responsável por algum problema na área da Saúde, todos os deputados também o são por terem sido omissos. “Algo absolutamente injusto. Não tive chance de falar nem na Assembleia, nem nos tribunais. Estou sendo linchado politicamente, sem direito à defesa.”
Como já era previsto, o que foi inclusive pontuado por Witzel, a Alerj deu prosseguimento ao processo de impeachment por unanimidade. Agora, eles deverão escolher cinco parlamentares para integrar um tribunal misto com cinco desembargadores, que irão julgar o processo de afastamento. Depois da formação desta comissão, o governador é afastado por 180 dias — ainda que já o esteja pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) —, e o rito passa a ser comandado pelo Tribunal de Justiça.
Witzel citou, logo no início do seu discurso de 60 minutos, Tiradentes, um dos líderes da Inconfidência Mineira e que recebeu pena de morte. “Tiradentes, que foi delatado, que foi vendido, morreu enforcado e teve partes do seu corpo expostas em praça pública para servir de exemplo à tirania. A tirania escolhe suas vítimas e as expõe para que outros não mais se atrevam”, afirmou. Em seguida, evocou Jesus Cristo, dizendo que este também foi delatado e vendido pelos seus apóstolos.
A abertura foi seguida por momentos de ataques aos parlamentares, ao citar as denúncias às quais responde por fraude na área da Saúde. Witzel atacou o delator, o ex-secretário de Saúde Edmar Santos, chamando-o de “bandido”.Contou ter sido enganado. “Eu nem conhecia o Edmar. Mal sabia eu que estava colocando uma raposa para cuidar do galinheiro.”
O governador afastado destacou que os deputados deveriam ter ido investigar as Organizações Sociais (OSs) apontadas no esquema no qual ele foi denunciado. “Os senhores também são omissos pelo trabalho que deveriam fazer. E, agora, por unanimidade, querem me acusar de crime de responsabilidade. Então, todos devemos fazer a nossa mea culpa”, afirmou. E foi além: “Renunciamos todos e fazemos uma eleição para deputados e para governador, porque todos fomos omissos. Não queiram colocar só nos meus ombros a responsabilidade”, esquivou-se.
Poder da toga
Witzel frisou que as “portas” sempre estiveram abertas para que os parlamentares discutissem sobre o governo, mas que ele não era procurado por ninguém. “Se eu fui omisso, todos os senhores e senhoras também foram omissos”, bradou.
O governador pediu para que os parlamentares deixassem que ele fosse julgado antes pelo STJ, onde foi denunciado. “Esperem o STJ. Me deem a oportunidade de governar o estado e os senhores façam os seus trabalhos, porque eu nunca deixei de abrir a porta. Investiguem, abram CPI. Agora, todos nós precisamos pagar o preço da nossa omissão e corrigir os erros”, apelou.
O governador frisou que se quisesse receber por decisões, como a investigação aponta no caso da requalificação da OS Instituto Unir Saúde (que estava desqualificada por descumprimento de contrato mas foi reabilitada pelo governador), ele teria permanecido na magistratura. “Eu tive o poder da toga e decidi pela cidadania”, afirmou.
“Minha mãe chora”
Apesar de falar que não vislumbrava um cenário em que conseguiria vitória, Witzel apelou até para o lado emocional. Falou por mais de uma vez na mãe, que era empregada doméstica, e no pai, metalúrgico. “Minha mãe, hoje, chora pelo que está acontecendo comigo. Eu deixei uma magistratura de 17 anos ilibada. Encontrem uma sentença vendida”, desafiou.
Relembre o caso
O pedido de impeachment contra Witzel é baseado em investigações do Ministério Público Federal (MPF) que apontaram suspeitas de corrupção cometidas pelo político na área da Saúde. A denúncia falou em uma “sofisticada organização criminosa” no âmbito do governo do estado “encabeçada pelo governador”. O esquema usaria o escritório da primeira-dama, Helena Witzel, para lavagem de dinheiro. Um dos delatores é o ex-secretário de Saúde, Edmar Santos, que aponta que Witzel teria recebido propina de empresas ligadas ao esquema.
“Usaram esta Casa simplesmente para continuar o linchamento político e moral
ao qual eu venho sendo submetido”
Wilson Witzel (PSC), governador afastado do Rio