O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, escreveu uma resposta ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), após o parlamentar criticar a visita do secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, às instalações da Operação Acolhida, em Roraima. Maia destacou a estranheza da visita do norte-americano a 46 dias de o presidente dos EUA, Donald Trump concorrer à reeleição. Em nota, divulgada ontem pelo Itamaraty, Ernesto Araújo subiu o tom contra o governo Venezuelano, disse que os EUA doaram R$ 50 milhões para a Operação Acolhida, que recebe imigrantes venezuelanos no Brasil, mas evitou falar no pleito prestes a acontecer.
Na véspera, Maia tinha dito que a visita do secretário de Estado norte-americano “não condiz com a boa prática diplomática internacional e afronta as tradições de autonomia e altivez de nossas políticas externa e de defesa”. Menos comedidos foram os comentários do senador Telmário Mota (Pros/RR). Em carta ao presidente da República, Jair Bolsonaro, ele condenou a “escalada de provocações do chanceler (Ernesto Araújo) em relação à Venezuela, usando de maneira vil e covarde o sagrado solo roraimense”. “Senhor presidente, lutarei todos os dias para que o senhor Ernesto Araújo desocupe a sagrada cadeira honrada por grandes brasileiros que comandaram a Casa de Rio Branco”, disparou. Para Telmário, Mike Pompeo “invadiu” Roraima, ciceroneado por Araújo.
O senador afirmou ao presidente da República que a visita foi um ato “indigno”, “hostil”, “desnecessário” e midiático com interesses eleitorais do Partido Republicano às vésperas das eleições americanas. “Roraima, a minha Roraima, transformada em palanque eleitoral do senhor Donald Trump é algo que eu, sinceramente, jamais imaginava que veria, não posso aceitar e não aceitarei passivamente”, queixou-se.
Solidariedade
Na nota do Itamaraty, Araújo afirmou que o brasileiro é solidário com os venezuelanos “e a Operação Acolhida representa essa solidariedade”. Em seguida, começou a disparar contra o regime de Maduro, que chamou de “um regime aliado ao narcotráfico, terrorismo e crime organizado”, que ameaça a segurança do país. “Não há ‘autonomia e altivez” em ignorar o sofrimento do povo venezuelano ou em negligenciar a segurança do povo brasileiro. Autonomia e altivez há, sim, em romper uma espiral de inércia irresponsável e silêncio cúmplice, ou de colaboração descarada, a qual, praticada durante 20 anos frente aos crescentes desmandos do regime Chávez-Maduro, contribuiu em muito para esta que é, talvez, a maior tragédia humanitária já vivida em nossa região”, justificou.
“Recordo que os Estados Unidos da América já doaram U$ 50 milhões para a Operação Acolhida e que, no dia de ontem, o Secretário Mike Pompeo anunciou a doação de mais U$ 30 milhões para essa Operação. Trata-se de quantia vultosa, tendo em vista que o governo brasileiro já despendeu U$ 400 milhões com a Operação Acolhida. Os EUA já dedicaram igualmente quantias expressivas para ajudar no acolhimento de imigrantes e refugiados venezuelanos na Colômbia e em outros países. Brasil e Estados Unidos, portanto, estão na vanguarda da solidariedade ao povo venezuelano, oprimido pela ditadura Maduro”, segue o texto.
Araújo encerrou a nota acariciando o secretário de Estado e o presidente dos Estados Unidos. “Muito me orgulho de estar contribuindo, juntamente com o secretário Mike Pompeo, sob a liderança dos presidentes Jair Bolsonaro e Donald Trump, para construir uma parceria profícua e profunda entre Brasil e Estados Unidos, as duas maiores democracias das Américas. Só quem teme essa parceria é quem teme a democracia”, escreveu.