Apesar de a equipe econômica ainda tentar se livrar do cartão vermelho prometido pelo presidente Jair Bolsonaro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, surpreendeu seus interlocutores, ontem, com um “bom humor extraordinário”. Ele participou de reuniões sobre a reforma tributária e a retomada econômica com “interesse, ânimo e muitos comentários espirituosos”, segundo um dos seus interlocutores. E ainda disse que o governo adotou uma nova linha política que vai trazer bons frutos para tais pautas no Congresso.
O bom humor de Guedes foi percebido por secretários municipais de finanças e por representantes do setor da saúde, que participaram de videoconferências com o ministro. E, para muitos, foi um recado de que o chefe da equipe econômica continua firme e confiante no cargo, apesar de todo o desgaste sofrido nesta semana, depois que o presidente Jair Bolsonaro se irritou com a possibilidade de congelar aposentadorias e pensões para bancar o Renda Brasil, como sugerido pelo secretário especial da Fazenda, Waldery Rodrigues.
“Mais firme, impossível”, disse um empresário ao Correio, que classificou a conversa com Guedes como um “bate-papo extremamente descontraído”. Ele contou que, apesar da irritação de Bolsonaro, o ministro estava animado porque entende que a economia está voltando para o trilho e porque está confiante na aprovação de medidas importantes para a retomada.
Mas ele e a equipe econômica foram retirados da negociação política. A ideia é de que Guedes e seus auxiliares foquem nos estudos técnicos e que os ministros palacianos e as lideranças do governo, que têm mais tato do que o ministro da Economia, conduzam os acertos com os parlamentares.
E a ordem no Ministério da Economia continua sendo a de manter silêncio. Isto é, falar apenas das propostas que têm acordo político, para evitar desgastes como o ocorrido nesta semana.
Tanto Waldery, quanto os demais auxiliares de Guedes, por sinal, têm obedientemente mantido a boca fechada. Ontem, antes das reuniões sobre a reforma tributária, o ministro voltou a reunir seus secretários, no terceiro dia de reunião presencial na Economia. E todos saíram de lá sem falar coisa alguma.
Saída honrosa
Nos bastidores, contudo, comenta-se que o governo está buscando uma saída honrosa para Waldery. A ideia é de que o secretário, que fez Bolsonaro ameaçar a equipe econômica, tenha destino semelhante ao do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub e ocupe um cargo no exterior, possivelmente no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Isso porque, ao apoiar a candidatura dos Estados Unidos à presidência da instituição, o Brasil ganhou o direito de ocupar algumas das suas diretorias. Além disso, o secretário especial de Produtividade, Emprego e Competividade, Carlos da Costa, que esteve cotado inicialmente para um desses postos, reforçou, ontem, que não vai sair da Sepec agora.
Guedes tenta, porém, construir a narrativa de que a eventual saída de Waldery do governo para uma missão no exterior não signficaria um rebaixamento. “Nossos técnicos são tão bons que são desejados por órgãos como o BID. Mas, quando saem, as pessoas dizem que é mais uma baixa do governo”, reclamou o ministro a interlocutores.
Flordelis terá de usar tornozeleira
A deputada federal Flordelis (PSD-RJ), acusada pelo Ministério Público do Estado do Rio (MP-RJ) de ser mandante do assassinato do próprio marido, o pastor Anderson do Carmo, não poderá sair de casa das 23h às 6h e terá que usar tornozeleira eletrônica, por ordem judicial. O pedido foi apresentado à Justiça pelo MP-RJ, que também solicitou a suspensão do mandato da parlamentar –– mas negada pela Justiça. O pastor foi morto a tiros em 16 de junho de 2019, na porta de casa, em Niterói (Região Metropolitana do Rio). A deputada nega envolvimento no crime. Ela só será obrigada a cumprir as medidas judiciais após ser citada da decisão, emitida ontem.