A crise política entre o presidente da República e o ministro da Economia, Paulo Guedes, acendeu a luz amarela das reformas econômicas no Congresso. Primeiro porque o tom reformista da Câmara e do Senado coincide com o da equipe da pasta, que se desgasta com Jair Bolsonaro à medida que a crise provocada pela pandemia de coronavírus se agrava. Depois, porque para certas pautas como a reforma tributária caminharem, é preciso que o chefe do Executivo esteja “engajado”, como definiu o líder do Novo, Paulo Ganime (RJ).
Ganime lembra que a pauta liberal foi um dos motivos de Bolsonaro se eleger. “A gente quer muito que o governo mantenha a linha que o elegeu, que é liberal. O governo perdeu nomes importantes, Paulo Uebel e Salim Mattar, e esperamos não perder o Paulo Guedes e o Waldery”, afirma. “Se o presidente não está engajado com as pautas econômicas, de reforma, é difícil acreditar que a equipe econômica vai ter força para implantar”, completa.
O 1º vice-líder do Cidadania no Senado, senador Alessandro Vieira (SE) concorda. “Os projetos que dependem da iniciativa do Executivo não avançam enquanto o presidente não definir uma posição política e econômica. Mas, uma revisão do Bolsa Família pode tramitar tranquilamente”, acredita.
Líder da minoria no Congresso, o deputado Carlos Zarattini (PT-SP) vê o presidente em uma situação complicada. “A solução dos assessores tira dos aposentados. Bolsonaro sabe que não tem condições políticas de fazer isso. Tem de aumentar o imposto dos bilionários, e isso eles não querem fazer. Quem sofre é o povo”, criticou.
Os integrantes da Frente Parlamentar Mista em Defesa da Renda Básica seguem dispostos a avançar com os projetos que tentam garantir o pagamento da renda básica no Brasil. E eles dizem que é possível fazer isso por meio de projetos que já estão no Parlamento. Os parlamentares acrescentam que não é preciso criar um novo programa como o Renda Brasil para garantir a renda básica. Basta atualizar os critérios do Bolsa Família. E já há proposta nesse sentido tramitando na Câmara. É o PL 6072/2019, apresentado no ano passado.
A medida, contudo, também aumentaria a necessidade de recursos do Bolsa Família. A Frente em Defesa da Renda Básica garante que é possível bancar esses ajustes sem reduzir benefícios previdenciários. Entre as sugestões estão a taxação das grandes fortunas, a mudança na tabela do Imposto de Renda e a revisão de fundos públicos.