Após a TV Globo revelar que o prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos), mantém um esquema de cerceamento ao trabalho da imprensa pago com dinheiro público, o Ministério Público (MP) do Rio anunciou que abriu investigação contra o mandatário. Além da Promotoria, parlamentares de oposição já anunciaram que vão pedir a abertura de um processo de impeachment e de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) para apurar os fatos.
A reportagem mostrou, na segunda-feira, 31, que a Prefeitura do Rio paga funcionários para fazer "plantões" nas portas de hospitais e impedir o trabalho de equipes de televisão. Quando os repórteres começam a gravar entrevistas com pessoas que reclamam das condições da saúde municipal, os "guardiões do Crivella", como é denominado o grupo desses servidores no WhatsApp, interrompem as gravações com gritos de "Globo lixo" ou de referência ao bolsonarismo, por exemplo.
A bancada do PSOL na Câmara Municipal vai apresentar na tarde desta terça-feira, dia 1º, um pedido de impeachment, conforme anunciou o vereador Tarcísio Motta. O partido vê crime de responsabilidade no ato do prefeito, que participava do grupo e dava incentivo aos servidores.
Já Teresa Bergher, do Cidadania, vai pedir a abertura de uma CPI e a exoneração do servidor Marcos Paulo de Oliveira Luciano, espécie de operador dos "Guardiões". Ele ganha mais de R$ 10 mil por mês dos cofres públicos para gerenciar o esquema de ataques à imprensa.
"O prefeito, que vive alegando falta de dinheiro para gerir a cidade, que está abandonada, utiliza recursos públicos para pagar uma milícia de defensores de sua péssima gestão. Paga mais de R$ 3 mil para jagunços ameaçarem jornalistas e constrangerem pacientes que vão buscar atendimento nos hospitais do município", diz a vereadora. "O funcionário que está por trás dessa milícia tem quer exonerado imediatamente, junto com todo o grupo. É caso de prisão de toda esta milícia. O prefeito deveria gastar este dinheiro com profissionais de Saúde. Uma vergonha. O Rio não merece isso."
Os pedidos de medidas contra Crivella, que vai tentar a reeleição em novembro, não se limitam à Câmara Municipal. Deputado federal e ex-adversário do prefeito na eleição de 2016, quando ficou em terceiro lugar, Pedro Paulo (DEM-RJ) afirmou que vai entrar com ação popular para apuração dos gastos com os servidores, além de apresentar os indícios de irregularidades nos âmbitos administrativo e criminal ao MP.
"O prefeito está usando dinheiro público, pagando salários e contratando militantes e cabos eleitorais para constranger os cidadãos e impedir o trabalho dos jornalistas. Além de ser uma atitude antidemocrática, é uma tentativa de escamotear a realidade. Um exemplo de truculência, em vez dar explicações e melhorar os serviços. Isso é gravíssimo", aponta o parlamentar, que é um dos principais aliados do ex-prefeito Eduardo Paes, o líder nas pesquisas para a eleição deste ano.
No MP, a investigação foi aberta pela Subprocuradoria-Geral de Justiça de Assuntos Criminais e de Direitos Humanos, com apoio do Grupo de Atribuição Originária Criminal da Procuradoria-Geral de Justiça (Gaocrim).
Procurada pela TV Globo, a Prefeitura do Rio não negou a existência dos "Guardiões". Disse que a iniciativa era uma forma de combater o que considera "fake news" sobre as condições da saúde no município.