O Conselho Superior do Ministério Público Federal (MPF) elegeu nesta terça-feira (1º/9) o subprocurador-geral José Bonifácio Borges de Andrada como vice-presidente do colegiado, presidido pelo procurador-geral da República (PGR), Augusto Aras. Bonifácio recebeu 6 votos, enquanto o subprocurador Alcides Martins, então vice-presidente e buscava reeleição, obteve 4 votos.
A eleição é mais uma derrota a Aras, que perdeu a maioria no órgão colegiado e agora tem um vice sem alinhamento com o procurador-geral. Bonifácio foi vice-presidente de Aras entre setembro do ano passado e março deste ano, mas saiu após desentendimentos com o chefe do MPF. Seu lugar foi ocupado pelo atual vice-procurador, Humberto Jacques.
"Continuarei firme na trincheira, qualquer que seja a posição. Continuo aqui pra servir e agradeço aqueles que confiaram em mim", disse Martins depois que Bonifácio foi declarado novo vice-presidente.
No último dia 10 de agosto, o novo vice-presidente foi empossado como conselheiro, sendo sucessor de Hindemburgo Chateaubriand Filho. Junto com ele, foram empossados Maria Caetana (reeleição), Nicolao Dino (reeleição) e Mário Bonsaglia, sendo os dois últimos também críticos a Aras.
Reunião
Em reunião do Conselho no último dia 31, houve intenso bate-boca entre Aras e subprocuradores, em especial com Nicolao Dino, que leu uma manifestação elaborada por ele em conjunto com outros colegas (Nívio de Freitas Silva Filho, José Adonis Callou de Sá e Luiza Cristina Fonseca Frischeinsen) em crítica ao PGR por recentes declarações contrárias à Operação Lava Jato.
Dias antes, em uma transmissão ao vivo com advogados, Aras fez duras críticas à força-tarefa e disse que "é hora de corrigir os rumos para que lavajatismo não perdure".
Durante a sessão do Conselho, quando Dino começou a ler a carta criticando as declarações feitas por Aras, mas foi interrompido pelo PGR. “Não aceitaria ato político em uma sessão de orçamento. Após a sessão, teremos a sessão ordinária, e vossa excelência poderá falar à vontade”, disse. Em um momento, o subprocurador chegou a dizer a Aras: "Vossa Excelência quer estabelecer um monólogo, e não um diálogo. Isso nunca aconteceu na história deste colegiado".
Após bate-boca, a carta foi lida ao final, e o clima ficou ainda pior. O procurador-geral afirmou ter provas em relação a acusações que fez sobre eventuais irregularidades nas equipes que integram a operação Lava-Jato e disse esperar que os órgãos competentes atuem e encontrem os envolvidos. Ele acusou colegas de concederem entrevistas em anonimato, e disse que ação é "ilegal e covarde".
Ao terminar a fala, Aras declarou encerrada a sessão e se levantou, sob protesto dos demais integrantes do conselho que pediam para falar. "Doutor Nicolau, o senhor não vai gostar de ver uma fake news sobre sua família. Muito menos a doutora Luiza, que talvez não tenha família, ou talvez tenha”, disse ele se referindo aos colegas que estavam na reunião.