Depois da indicação de resistência no Congresso para aprovação de um Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) com previsão de gastos para o Ministério da Defesa maior do que para a Educação em 2021, o governo recuou e manteve recursos mais elevados para aplicação no ensino. A despesa total será de R$ 144,538 bilhões, contra os R$ 142,107 bilhões aprovados pelo legislativo para este ano, 1,71% superior.
Durante as discussões para elaboração da PLOA, o Executivo chegou a considerar a redução da verba para a Educação e a própria pasta reconheceu, em nota, a previsão de cortes de até R$ 4,2 bilhões nas despesas discricionárias, ou seja, aquelas que são previstas, mas cujo pagamento não é obrigatório, a depender da receita.
Na apresentação do projeto, o secretário especial de Fazenda do Ministério da Economia, Waldery Rodrigues, detalhou que a despesa primária para a Educação está orçada em R$ 114,9 bilhões, incluindo a complementação da União para o Fundeb, que deverá ser de R$ 19,604 bilhões. “Temos regras fiscais a cumprir e esse foi o possível de implementar”, justificou sobre os reajustes pouco expressivos para a área.
Capitão reformado do Exército, o presidente Jair Bolsonaro deu prioridade, contudo, às três Forças Armadas no PLOA para 2021. Em comparação com a dotação orçamentária de 2020, a proposta aumenta o orçamento total do Ministério da Defesa em 1,03%, enquanto o do Ministério da Educação sobe 1,17%. Porém, quando se trata de despesas discricionárias, cuja execução não é obrigatória, a previsão é de um aumento de 8,5% para a pasta militar e de 1,4% para o MEC — essas verbas são direcionadas ao funcionamento das universidades federais. As verbas discricionárias se destinam a investimentos, programas públicos e custeio do governo.
Tratamento diferenciado
O projeto orçamentário encaminhado ao Congresso reflete o tratamento que sempre foi dispensado pelo atual governo à Educação. Em abril do ano passado, por exemplo, o então ministro Abraham Weintraub bloqueou 30% das verbas discricionárias do setor, penalizando fortemente as federais, as quais acusou de “balbúrdia” e de impor aos estudantes uma ideologia de esquerda. Em outubro do mesmo ano, ante uma avalanche de críticas, o ministro determinou o desbloqueio dos recursos.
Para o economista Gil Castello Branco, fundador e secretário-geral da Associação Contas Abertas, a Defesa recebeu um tratamento diferenciado não só em relação à Educação, já que outros setores importantes para o desenvolvimento do país também tiveram redução de recursos. “Eu acho que esse detalhamento, essa destinação de recursos, ela poderá e, a meu ver, deverá ser alterada dentro do Congresso Nacional, porque, por mais importante que sejam os gastos da Defesa, a meu ver os nossos maiores inimigos são as deficiências em Saúde e Educação, Ciência e Tecnologia”, disse Castello Branco ao Correio.