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'Não sou candidato à reeleição', garante Rodrigo Maia

Presidente da Câmara garante que não pretende continuar à frente da Câmara. Mas, como sua atuação é elogiada até mesmo pela oposição, muitos se perguntam se, de fato, levará adiante o plano de passar a cadeira, e o que fará depois de entregá-la

Diante do púlpito para falar com a imprensa, ele passa a mão na testa e ajeita a franja que insiste em cair, devido aos passos apressados na escadaria, momentos antes. O presidente da Câmara mexe na gravata, tira a máscara de proteção contra o novo coronavírus em busca de fôlego e começa a responder à bateria de perguntas dos jornalistas. Rodrigo Felinto Ibarra Epitácio Maia, 50 anos, é deputado federal pelo DEM do Rio de Janeiro, e o único na história do país três vezes seguidas presidente da Câmara. Já admitiu a amigos que gosta da cadeira de presidente. O que faz com que muitos se perguntem quais são seus planos em um momento em que a reeleição para a presidência das duas Casas do Congresso, em uma mesma legislatura, está em debate no Supremo Tribunal Federal.

A resposta conservadora é que Maia pretende fazer um sucessor e, depois, assumir o protagonismo em matérias de cunho econômico-liberal. O presidente teria quatro cartas na manga, entre elas, Baleia Rossi (MDB-SP) e Aguinaldo Ribeiro (PP-PB). Em 26 de agosto, em coletiva, foi taxativo. “Não sou candidato à reeleição. As matérias estão equivocadas. Agora, toda hora que eu encontrar o ministro, estarei tratando da ação do PTB sobre a não possibilidade do que já é proibido, da reeleição da presidência da Câmara e do Senado? Já disse várias vezes que não sou candidato à reeleição”, afirmou. Mas, na política, “não” pode significar “talvez”. E, como as eleições para a Câmara e para o Senado são decididas na última hora, a pergunta permanece: quais são os planos de Rodrigo Maia?

Existem algumas indicações para a possível resposta. Apesar de gostar do posto, “o presidente Rodrigo”, como se referem a ele os parlamentares mais próximos, está cansado. Além disso, teme que, num próximo mandato, já não tenha mais a mesma estatura e relevância que no atual. E a possível percepção de baixa rotatividade na presidência da Câmara é outro fator que preocupa. “Ele poderia ficar”, diz um amigo. “Se tivesse uma convocação de todo mundo, inclusive do próprio Arthur Lira (PP-AL, líder do Centrão). Aí, acho que ele atenderia”, observa.

Por enquanto, a resposta sobre os planos de Maia segue sendo a mais conservadora: passar o cargo e seguir como deputado. Sua postura, ainda assim, intriga. Sob permanente ataque do Palácio do Planalto, continua sentado sobre os diversos pedidos de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro, o que irrita parte da esquerda e ajuda o Executivo, por exemplo, na manutenção do Veto 17/20, a respeito do trecho da Lei Complementar 173/20 que livrava servidores da saúde e da segurança pública da proibição de reajuste salarial para 2021. Mas, para os parlamentares que acompanharam a evolução do deputado reservado, chegado em Brasília em 1999, até sua eleição para a presidência da Câmara, em 2016, e a atuação no período democrático mais conturbado desde a redemocratização, é esse comportamento independente que o faz requisitado nos vários espectros políticos.

Ascensão 

Maia chegou à presidência pela primeira vez em 14 de julho de 2016, quando a cadeira vagou com a prisão do deputado Eduardo Cunha. Ele havia perdido o cabo de guerra da articulação para ocupar o cargo de líder do governo de Michel Temer — André Moura (PSC-SE) ficou com a vaga. A derrota, porém, pavimentou o caminho da candidatura ao mais alto posto da Câmara. Na oposição, que o via com desconfiança pelo apoio ao impeachment de Dilma Rousseff, tornou-se alternativa ao líder do PSD, Rogério Rosso (DF), que fazia às vezes do candidato de Cunha na corrida ao comando da Casa. O apoio do PSDB facilitou o caminho para Maia.

O presidente do DEM à época, Pauderney Avelino (AM), lembra que houve reclamações sobre a discrição de Maia, que não sorria. Mas o cargo que hoje ocupa estava entre suas ambições. “O Rodrigo chegou jovem. Não tinha nem 30 anos quando se elegeu pela primeira vez. Tornou-se líder do partido na Câmara, depois, presidente da legenda. E tinha uma meta: ele queria ser presidente da Câmara. Eu ajudei e contribuí para que isso acontecesse, óbvio. O jeito dele é reservado. Mas é um parlamentar preparado. Sempre tem opinião sobre os assuntos importantes. E quando não tem, procura informar-se e tira as próprias conclusões”, elogia.

Pauderney destaca o poder de negociação de Maia. “Ele tem uma capacidade muito grande de ouvir as pessoas e dar importância ao que elas pensam. Isso não é pouca coisa. E o interlocutor se sente atendido quando ele ouve e dá seguimento aos pleitos. Ele assume os compromissos e cumpre. É um cumpridor de compromissos”, destaca.

Opositores ainda tentaram inviabilizar a candidatura de Maia, afirmando que ele é chileno. De fato, nasceu no Chile, em 12 de junho de 1970, mas foi registrado na Embaixada do Brasil, em Santiago. O pai, César Maia, perseguido pela ditadura, estava exilado naquele país desde 1968.

Líder do PSDB em 2016, o hoje ex-deputado Antonio Imbassahy lembra que, mesmo reservado, Maia tinha alguma penetração na esquerda, e exemplifica com a amizade que tem com o deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP). Imbassahy conta que a maturação da candidatura de Maia para a presidência ocorreu com DEM, PSDB e PPS.

“Como candidato, havia restrições a ele. Diziam que Rodrigoe não cumprimentava, não sorria, que entrava no elevador e não falava. Respondíamos que queríamos um presidente de qualidade. Ele venceu uma eleição disputada, e começou a fazer uma boa administração. Eu era líder do PSDB, fui ser ministro na articulação política no Palácio, e ele era o presidente da Câmara. Era uma convivência saudável, de bons resultados. Ele sempre se mostrou reformista, republicano, conhece a economia, tem convicções”, salienta.

Maia precisou ir ao STF para conseguir uma decisão favorável para se candidatar em 2017, já que se elegeu para presidente da Câmara pela primeira vez para encerrar o mandato de Cunha. Conseguiu. Para Imbassahy, a segunda e a terceira eleições, já na legislatura de 2019, ocorreram com naturalidade.

Ex-presidente do DEM, Jorge Bornhausen passou a presidência do partido a Maia em 2007. É quando o então PFL troca de nome e ganha um corpo programático. Mas, para o ex-senador por Santa Catarina, Maia entra na rota da presidência ao assumir a liderança na Câmara entre 2005 e 2007. “Ele soube ouvir, aprender e, depois, sobressair-se pelas suas qualidades de observador atento. Sua ascensão começou quando foi escolhido líder da bancada do PFL na Câmara, atuação que lhe permitiu galgar à Presidência do partido”, recorda.

“No atual mandato, com inteligência e firmeza, foi o maior responsável pela aprovação da reforma da Previdência. Lamento que o Congresso ainda não tenha despertado para uma mudança no nosso sistema de governo, implantando o semi-presidencialismo, que apoio com entusiasmo, defendido pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal. Se lá chegarmos, vencendo as crises inevitáveis do nosso sistema atual, certamente, Rodrigo é o brasileiro com melhores condições para ser nosso primeiro-ministro”, aponta Bornhausen.

 

“Herança” 

Também amigo de Maia, Orlando Silva (PCdoB-SP) afirma que a relação dos dois desenvolveu-se em decorrência da reverência de Maia pelo ex-ministro da Defesa Aldo Rebelo. “É curioso que muitas pessoas atribuem a minha relação ao apoio nas eleições dele. Mas, na verdade, herdei a boa relação dele com o Aldo. Ele o apoiou em todas as disputas para a presidência da Câmara. Ele tem uma relação política muito próxima do Aldo, e acabei herdando um pouco dessa relação”, explica.

“Ele tem tido uma posição firme na defesa da democracia no momento que a crise ficou mais aguda pelas posturas do presidente Bolsonaro. Foi a voz da temperança, da tranquilidade, que é um pouco a conduta que teve, também, nas crises do Temer. Não botava gasolina na fogueira, tentava sempre diminuir a dimensão que as crises alcançaram. Tem uma cabeça econômica muito distinta da nossa. Temos uma visão crítica com relação à orientação econômica liberal, a meu ver, medidas que não têm eficácia para enfrentar os problemas do Brasil. Na agenda econômica, muita diferença; na política, aproximação”, afirma Orlando.

No Palácio do Planalto, Maia é amado e odiado. Mas há o reconhecimento de que ele mais tem ajudado do que prejudicado o governo. 

 

“Ele tem tido uma posição firme na defesa da democracia no momento que a crise ficou mais aguda”
Orlando Silva, Deputado pelo PCdoB-SP

“Sempre se mostrou republicano, conhece a economia, tem convicções”
Antonio Imbasahy, Ex-deputado pelo PSDB

“Ele tem uma capacidade muito grande de ouvir as pessoas e dar importância ao que elas pensam”
Pauderney Avelino, Ex-deputado pelo DEM

“Com inteligência e firmeza, foi o maior responsável pela aprovação da reforma da Previdência" 
Jorge Bornhausen, Ex-senador e ex-presidente do DEM