Após ameaçar jornalista, Bolsonaro se diz perseguido pela Globo

Presidente, que disse ter vontade de "encher de porrada" a boca de jornalista, ainda publicou reportagem da RecordTV sobre supostos repasses de Dario Messer à família Marinho

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) se pronunciou, de forma oblíqua, sobre o ataque verbal a um repórter do jornal O Globo. Nesta segunda-feira (24/8), o presidente publicou nas redes sociais que vem sendo "perseguido".

"Há pelo menos 10 anos o sistema Globo me persegue e nada conseguiram provar contra mim", escreveu Bolsonaro. A publicação é acompanhada de imagens de uma reportagem da Record TV sobre supostos repasses de Dario Messer, conhecido como "doleiro dos doleiros", à família Marinho. O Grupo Globo nega as acusações.

O caso

Ao ser questionado, no domingo (23/8), sobre supostos depósitos feitos por Fabrício Queiroz — ex-assessor de Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e investigado por um esquema de "rachadinha" — na conta da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, o presidente respondeu que tinha vontade de "encher de porrada" a boca do jornalista.

A pergunta se referia a uma informação divulgada no começo do mês pela revista Crusoé, após quebra do sigilo bancário de Queiroz, de que o ex-assessor repassou R$ 72 mil em cheques a Michelle Bolsonaro entre 2011 e 2016. Além disso, o jornal Folha de S. Paulo informou que Márcia Aguiar, mulher de Queiroz, repassou R$ 17 mil para Michelle em 2011, totalizando, ao menos, R$ 89 mil depositados.

O ataque de Bolsonaro desencadeou uma onda de protestos virtuais. Jornalistas e famosos, incluindo Bruna Marquezine e Caetano Veloso, publicaram nas redes sociais a pergunta feita pelo repórter d'O Globo. A ameça do presidente também foi repudiada por diversas entidades. A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), por exemplo, disse que a reação do chefe do Executivo "foi não apenas incompatível com sua posição no mais alto cargo da República, mas até mesmo com as regras de convivência em uma sociedade democrática. Um presidente ameaçar ou agredir fisicamente um jornalista é próprio de ditaduras, não de democracias".

Já o Sindicado dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal (SJPDF) se solidarizou com o repórter e afirmou que "estudará medidas judiciais cabíveis contra o presidente da República por este crime".

Questionado, nesta segunda, sobre o episódio, o vice-presidente, Hamilton Mourão (PRTB), alegou que "coisas pessoais do presidente não competem" a ele. "Eu não comento essas coias. Eu não estava junto, não sei. Deixa para lá isso aí", respondeu. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), repudiaram as declarações e defenderam a liberdade de imprensa. Filho do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos) postou o vídeo nas redes sociais, acompanhado do versículo bíblico "e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará".