O vereador da cidade do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (Republicanos) publicou em suas redes sociais, nesta segunda-feira (24/8), um vídeo do momento em que seu pai, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), agride verbalmente um repórter do jornal O Globo.
Ao ser questionado sobre supostos depósitos feitos por Fabrício Queiroz — ex-assessor de Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e investigado por um esquema de "rachadinha" — na conta da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, o presidente respondeu que tinha vontade de "encher de porrada" a boca do jornalista.
A pergunta se referia a uma informação divulgada no começo do mês pela revista Crusoé, após quebra do sigilo bancário de Queiroz, de que o ex-assessor repassou R$ 72 mil em cheques a Michelle Bolsonaro entre 2011 e 2016. Além disso, o jornal Folha de S. Paulo informou que Márcia Aguiar, mulher de Queiroz, repassou R$ 17 mil para Michelle em 2011, totalizando, ao menos, R$ 89 mil depositados.
A postagem de Carlos, além do vídeo, inclui uma passagem bíblica comumente usada por Bolsonaro: "E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará".
Até o momento, o presidente não se pronunciou explicitamente sobre o episódio. De forma oblíqua, disse, no Twitter, que o Sistema Globo o "persegue" há pelo menos 10 anos. Também compartilhou imagens de uma reportagem da Record TV que afirma que a família Marinho teria recebido repasses de Dario Messer, conhecido como "doleiro dos doleiros". O Grupo Globo nega.
O ataque de Bolsonaro desencadeou uma onda de protestos virtuais. Jornalistas e famosos, incluindo Bruna Marquezine e Caetano Veloso, publicaram nas redes sociais a pergunta feita pelo repórter d'O Globo. A ameça do presidente também foi repudiada por diversas entidades. A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), por exemplo, disse que a reação do chefe do Executivo "foi não apenas incompatível com sua posição no mais alto cargo da República, mas até mesmo com as regras de convivência em uma sociedade democrática. Um presidente ameaçar ou agredir fisicamente um jornalista é próprio de ditaduras, não de democracias".
Já o Sindicado dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal (SJPDF) se solidarizou com o repórter e afirmou que "estudará medidas judiciais cabíveis contra o presidente da República por este crime".
Questionado, nesta segunda, sobre o episódio, o vice-presidente, Hamilton Mourão (PRTB), alegou que "coisas pessoais do presidente não competem" a ele. "Eu não comento essas coias. Eu não estava junto, não sei. Deixa para lá isso aí", respondeu. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), repudiaram as declarações e defenderam a liberdade de imprensa.