A deputada federal Tabata Amaral (PDT-SP) e a professora da Universidade de Brasília (UnB) e antropóloga Debora Diniz se desentenderam nesta sexta-feira (21/8) pelas redes sociais. A origem da rusga foi uma mensagem de Debora que convidava Tabata a debater sobre a descriminalização do aborto sob o ponto de vista feminista. A parlamentar interpretou o post como deboche, o que foi negado pela professora.
Tudo começou quando Debora Diniz publicou um texto no Instagram no qual explicava por que discordava de Tabata quando esta definia a descriminalização do aborto como um dilema. "Um dilema é quando só há duas respostas possíveis para uma questão. Para uma feminista, não há dilema: optamos por cuidar, respeitar e reconhecer o direito das mulheres à vida livre de coerção", escreveu.
Debora se referia, aparentemente, a uma declaração de Tabata dada durante entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, no ano passado. Na ocasião, ao ser perguntada como lidava com o fato de ser feminista, mas não defender a descriminalização do aborto, a deputada respondeu: "Pra mim, a legislação que a gente tem hoje sobre o aborto é suficiente (...). Para mim, é uma questão pessoal, de entender qual é o dilema ético que está posto. Pra mim, a gente tem a vida da mulher, que eu sei que fica fragilizada, porque mulheres mais pobres, negras, acabam morrendo no processo, mas também tem a vida de um feto, que eu não sei quando essa vida começa".
Mais adiante, Debora convidava Tabata a uma conversa: "Assim, respeito o desejo de Tabata Amaral de feminista na pauta educacional ou de violência contra as mulheres. Jamais faria o papel de avaliadora de feminismo de ninguém. Autointitular-se feminista já é grande passo e precisa ser celebrado. Só não há feminista que ignore que aborto é sobre a vida das mulheres. Ficaria muito honrada e feliz se a deputada aceitasse meu convite para uma conversa. Sua voz é importante à democracia. Poderíamos conversar sobre a impossibilidade de ser uma feminista e não ter posição explícita favorável à descriminalização do aborto. E pela vida das meninas e mulheres" (leia íntegra na postagem abaixo).
Charge incomodou Tabata
Tabata Amaral, porém, não interpretou o convite de Debora para o diálogo com seriedade. Para a parlamentar, a professora havia debochado, especialmente ao escolher a imagem que ilustra o post no Instagram — no desenho, Tabata é retratada em cima de um muro.
"Acabei de ser surpreendida pelo seu post no Instagram. Então você é feminista e, do seu pedestal de sororidade e empoderamento feminino, posta uma charge machista, que reforça os esteriótipos e infantilização contra os quais tanto lutamos, pra chamar atenção nas redes sociais?", indagou Tabata a Debora.
"Isso não só é ofensivo e desrespeitoso, como também extremamente triste. Meu trabalho e luta é para que todas as mulheres possam ocupar seu lugar na política, independentemente de pensarem igual a mim ou não. Acredito no diálogo e não no deboche, ridicularização e lacração que marcam o ambiente virtual e que, sim, tentam desqualificar e silenciar quem pensa diferente. Um convite sincero para o diálogo nunca viria na forma de uma charge ofensiva postada nas redes sociais", completou a deputada.
Debora diz que não houve deboche
Debora Diniz respondeu, então, no Twitter, que não debochou ao fazer a postagem, nem no texto nem na escolha da imagem, que, segundo ela, é uma alegoria sobre o dilema. "Cara deputada, não há deboche em nenhuma palavra de meu convite à conversa na publicação do Instagram. Já tinha escrito aqui e copiado a senhora para uma conversa sobre a questão do aborto. Leia cada linha, me mostre onde a desrespeitei: menos ainda o que descreve como “lacração”. Me perdoe, deve ser uma distância geracional em vocabulário minha incompreensão. Não sei como ciência pode ser tal adjetivo. Há um convite genuíno. Sobre a arte de Ramon Navarro não é uma charge, mas uma colagem com ilustração. Há uma alegoria: o dilema põe cada uma de nós no limiar de um muro—nem lá, nem cá. Há felicidade em seu rosto, o que a mim era uma representação justa de sua juventude e esperança", escreveu.
A professora também disse que a ilustração mostra Tabata feliz, "uma representação justa de sua juventude e esperança". Por fim, Debora se dispôs a mudar a ilustração e reforcçou o convite: "Apesar de achar que arte é beleza, quer que mudemos a peça? Mudo, defina como deseja ser representada. Mas a senhora conversa sobre aborto?"