Brasília-DF

por Denise Rothenburg deniserothenburg.df@dabr.com.br

De posto Ipiranga a “lojinha de conveniência”

Apesar dos percalços na economia e das desconfianças em relação à permanência de Paulo Guedes, o empresariado se mantém firme no apoio ao presidente Jair Bolsonaro, haja visto os números da pesquisa Datafolha. A amostragem revela que 58% avaliam o governo como ótimo e bom e 27% o reprovam, índices captados antes da fala do ministro da Economia, que gerou instabilidade esta semana. O apoio é, em grande parte, lastreado em Guedes, que, neste período de pandemia, manteve um diálogo constante com todo o setor produtivo, hoje muito preocupado com o futuro. Nas rodas dos endinheirados de São Paulo, por exemplo, causa uma certa tensão a perda de espaço e a redução do tamanho do ministro dentro do governo.

Há quem diga, por exemplo, que há o risco real de Guedes, que já foi o grande “Posto Ipiranga”, virar uma “lojinha de conveniência” a que o governo recorre para mostrar uma face de responsabilidade fiscal e uma agenda mais liberal. Essa turma que elegeu Bolsonaro, de olho na agenda do ministro, não quer ver essa agenda ruir. E se o presidente der mesmo uma guinada para o eleitorado que sustentava o PT no Nordeste, até a “lojinha de conveniência” corre o risco de fechar e, com ela, a sustentação desse empresariado. O presidente sabe desse perigo. E não quer prescindir desses 58% de aprovação empresarial. Por isso, Guedes vai ficando, porém não do mesmo tamanho.

 

Plano A
A ideia dos mentores do Aliança pelo Brasil é de que o partido esteja pronto até meados de 2021, ou seja, tempo para organizar. A ideia é que, até lá, Bolsonaro continue flertando com vários partidos, para, conforme antecipou a coluna, não deixar terreno fértil para filiação de adversários.


Muita calma nessa hora
Ao mesmo tempo em que comemoram a pesquisa do Datafolha, aliados olham com uma certa apreensão a volta de Fabrício Queiroz à cadeia e torcem para o retorno à prisão domiciliar. Afinal, até aqui não houve qualquer explicação para uma parte dos depósitos na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro.


Teflon poderoso, mas...
Bolsonaro, que não pode ser investigado por fatos anteriores ao mandato, não preocupa tanto os aliados. Entretanto, o desgaste, caso Michelle seja chamada a depor, preocupa.


Aviso prévio
Perguntado, o secretário Carlos da Costa já comunicou de viva-voz que, se Guedes deixar o governo, ele sai junto. Em entrevista à CNN, declarou que não acredita nesse afastamento, porque o governo obteve vitórias importantes na economia –– reforma da Previdência, marco regulatório do saneamento. De quebra, ainda citou o diálogo que vem tendo como todo o setor empresarial.

 

CURTIDAS

 

Te cuida, Arthur/ A proximidade entre Bolsonaro e Michel Temer é vista como um ponto para o presidente e líder do MDB, Baleia Rossi (SP, foto), na disputa pela presidência da Câmara. O ex-presidente sabe como ninguém puxar a sardinha para o seu partido.

 

Mau presságio I/ Em política, reza a lenda que colocar um cocar na cabeça é abusar da sorte. Não por acaso, o supersticioso José Sarney, o mais experiente político brasileiro, sempre se esquivou do acessório. Bolsonaro, bombando na pesquisa Datafolha, não quis nem saber e esta semana usou um, em visita ao Pará.

 

Mau presságio II/ No anedotário da política, diz-se que Lula colocou um cocar na campanha de 1994 e terminou perdendo para Fernando Henrique Cardoso. Juarez Távora, outra vítima, perdeu a eleição para Juscelino Kubistchek. Tancredo Neves nem chegou a assumir.

 

Mau presságio III/ Nos bastidores, há quem diga que as denúncias desta semana contra o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos), suspeito de ter funcionários fantasmas no passado, e do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), suspeito de cobrar um preço por chocolates e colocar um valor superior nas notas fiscais, serão debitadas ao cocar. É... pois é.