O ministro da Justiça e Segurança Pública, André Mendonça, escolheu o delegado da Polícia Federal (PF) Thiago Marcantonio Ferreira para ser o novo chefe da Diretoria de Inteligência da Secretaria de Operações Integradas (Seopi). A nomeação foi publicada, ontem, no Diário Oficial da União. Ferreira vai substituir Gilson Libório, afastado do comando do órgão na segunda-feira, após surgirem as acusações de que a pasta monitorava 579 servidores federais e estaduais que fazem oposição ao governo de Jair Bolsonaro — a existência do dossiê foi revelada pelo portal UOL há 10 dias.
O novo chefe da Seopi vinha trabalhando como assessor especial de Mendonça. O nome dele foi escolhido em meio às repercussões negativas da revelação sobre o dossiê. Hoje, por exemplo, vence o prazo de 48 horas, dado pela ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), para que o ministério preste informações sobre o relatório sigiloso. A maioria dos alvos do monitoramento da Seopi são policiais militares, civis e federais ligados a movimentos antifascismo.
Na semana passada, o ministério afirmou, em nota, que a Seopi produz relatórios de inteligência para “prevenir situações de risco para a segurança pública”. Acrescentou que essa estrutura é mantida desde o governo Lula e que a pasta “não atua para investigar, perseguir ou punir cidadãos”, mas, segundo o comunicado, atua sempre “dentro da mais estrita legalidade”. Na segunda-feira, porém, o ministro André Mendonça abriu uma sindicância interna para apurar as denúncias envolvendo a Seopi.
Em outra mudança importante na área de informações, um decreto publicado na última sexta-feira pelo presidente Jair Bolsonaro alterou a estrutura organizacional da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), com a criação de cargos comissionados e de um órgão vinculado à agência: o Centro de Inteligência Nacional. O decreto foi assinado, também, pelo ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, a quem a Abin é subordinada.
Formalmente, a Abin tem a atribuição de fornecer subsídios ao presidente da República nos assuntos de interesse nacional. A agência é comandada por Alexandre Ramagem, que teve a nomeação para chefiar a Polícia Federal barrada, em abril deste ano, pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF.
Conforme o decreto, o Centro de Inteligência Nacional da Abin ficará responsável por planejar e executar ações para o “enfrentamento de ameaças à segurança e à estabilidade do Estado e da sociedade”; assessorar os órgãos em políticas de segurança pública e identificar “ameaças decorrentes de atividades criminosas”; implementar a “produção de inteligência corrente e a coleta estruturada de dados”; entre outras tarefas.
A equipe do novo órgão de inteligência é formada por 17 agentes — um diretor, quatro coordenadores gerais, nove coordenadores, um assessor e dois assistentes. Esses funcionários foram remanejados de outras áreas da administração federal.
Ainda segundo o decreto, o órgão é responsável por “realizar pesquisas de segurança para credenciamento e análise de integridade corporativa”, o que significa, por exemplo, analisar previamente informações sobre um indicado para compor o governo, algo que a Abin já vinha fazendo.
Órgãos afetados
O decreto presidencial traz, ainda, mudança na Escola de Inteligência, também vinculada à agência. A escola ficará responsável pela capacitação de “agentes públicos em exercício na Abin” e de “indicados pelo Sistema Brasileiro de Inteligência ou por entidades ou órgãos parceiros da Abin”.
Já o Departamento de Inteligência, pertencente à estrutura da Abin, atuará na análise “de ameaças à segurança econômica nacional nas áreas de energia, de infraestrutura, de comércio, de finanças e de política econômica”, entre outras atribuições.
O advogado constitucionalista Gustavo Dantas destacou que, apesar de estarem subordinados à atual gestão do Executivo, os órgãos de inteligência devem respeitar limites previstos na Constituição durante qualquer atuação. “Como órgão do Estado, e não do governo, esses serviços de inteligência não podem ultrapassar limites de interesse do Estado. Ou seja, o governante não pode usar esse serviço para buscar informações pessoais de opositores ou usar como forma de pressão política”, destacou. “Isso significa que, pelo princípio da impessoalidade, os serviços devem buscar informações necessárias contra qualquer atentado que envolva a segurança pública ou a soberania nacional.”
Informações de canais não oficiais
O interesse do presidente Jair Bolsonaro de promover mudanças no sistema de inteligência do governo ficou evidente a partir da divulgação do vídeo da reunião ministerial ocorrida em 22 de abril. A gravação é uma das provas apresentadas pelo ex-ministro da Justiça Sergio Moro no inquérito aberto pelo Supremo sobre possíveis interferências políticas do chefe do Executivo na Polícia Federal. Moro afirmou que Bolsonaro cobrava acesso a inquéritos e relatórios de inteligência da corporação para proteger familiares e aliados. A PF é um órgão de Estado encarregado de fazer investigações e não de fornecer relatórios de inteligência para o chefe do Executivo.
Após a divulgação do vídeo da reunião, Bolsonaro disse, em 22 de maio, que recebia informações sigilosas por canais que não eram os oficiais. Segundo afirmou, o grupo era composto por um jornalista, um sargento do Batalhão de Operações Especiais do Rio de Janeiro, um capitão do Exército em Nioaque (município de Mato Grosso do Sul) e um capitão da Polícia Civil em Manaus.
Em março deste ano, poucas semanas antes de morrer, vítima de infarto, o ex-secretário-geral da Presidência da República Gustavo Bebianno, demitido no início de 2019, afirmou que Bolsonaro tentou montar uma “Abin paralela”, com participação de um delegado da Polícia Federal.
Segundo Bebianno, o grupo responsável por obter informações sigilosas seria comandado pelo vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ). A ideia não teria prosperado por causa da interferência de ministros da época, como o próprio Bebianno e o general da reserva Santos Cruz, então chefe da Secretaria de Governo. (RS e JV)
Flávio admite: Queiroz pagava suas contas
O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) admitiu que seu ex-assessor Fabrício Queiroz pagava suas contas pessoais. Os dois são investigados por um suposto esquema de rachadinha montado na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).
Em entrevista ao jornal O Globo, publicada ontem, Flávio afirmou que os recursos usados por Queiroz para pagar as dívidas que pertenciam a ele tiveram origem lícita, mas assumiu que pedia para o então funcionário pagar despesas pessoais, exatamente como aponta o Ministério Público.
“Pode ser que, porventura, eu tenha mandado, sim, o Queiroz pagar uma conta minha. Eu pego dinheiro meu, dou para ele, ele vai ao banco e paga para mim. Querer vincular isso a alguma espécie de esquema que eu tenha com o Queiroz é como criminalizar qualquer secretário que vá pagar a conta de um patrão no banco. Não posso mandar ninguém pagar uma conta para mim no banco?”, questionou.
As investigações começaram após as autoridades identificarem transações suspeitas de R$ 1,2 milhão nas conta de Queiroz, valor incompatível com o rendimento dele no serviço público. Na entrevista, o parlamentar afirmou que o ex-assessor administrava o dinheiro da esposa e demais parentes, por isso tinha movimentações elevadas. Ele admitiu que Queiroz recebia dinheiro de outros funcionários do gabinete, para realizar subcontratações, mas alegou que não sabia desse esquema, pois teria se manifestado contra.
Flávio criticou a conduta do ex-juiz Sergio Moro na Lava-Jato e alegou que ele pode ter cometido irregularidades. O senador também defendeu o procurador-geral da República, Augusto Aras, que vem acusando a força-tarefa de ter realizado ações à margem da legalidade. “Qualquer investigação tem de acontecer dentro da lei, e os excessos precisam ser investigados (…). Aras tem feito um trabalho de fazer com que a lei valha para todos”, frisou. “Embora ache que a Lava-Jato não seja esse corpo homogêneo, considero que algumas pessoas ali têm interesse político ou financeiro (…). Com a saída de Moro, a produção do Ministério da Justiça subiu demais”, alfinetou. (RS)
Câmara soma 86 casos de covid-19
Najara Araújo/Câmara dos Deputados - 27/4/20
A Câmara registrou, desde o início da pandemia do novo coronavírus, 86 casos de infecção por covid-19 entre servidores efetivos, ocupantes de cargos de natureza especial (CNEs) e secretários parlamentares. A informação foi prestada ao Correio pela assessoria de imprensa da Casa.
Por meio de nota, o órgão informou que vem adotando, desde o começo da crise sanitária, um Protocolo de Conduta, estabelecendo uma série de medidas preventivas com o objetivo de dar segurança aos que necessitem ir às dependências da Casa para a execução de atividades parlamentares e administrativas. Entre as quais está o Sistema de Deliberação Remota, voltado aos deputados.
Em razão da pandemia, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), determinou a suspensão do funcionamento de todas as comissões. Nessa situação, a discussão e a votação de pautas importantes devem demorar a ser retomadas, como as investigações da CPMI das Fake News e a proposta de emenda à Constituição (PEC) que prevê a prisão após condenação em segunda instância.
O relator da PEC, deputado Fábio Trad (PSD-MS), disse ao Correio que seu parecer está pronto para votação. “Eu aguardo a reinstalação da comissão especial, porque, com a pandemia, houve a suspensão das atividades de todas as comissões”, frisou.
Ele relatou que o presidente da comissão, Marcelo Ramos (PL-AM), está tentando com Maia uma exceção para que só esse colegiado seja reinstalado durante a pandemia. “Então, vou aguardar o resultado dessa conversa para definir o dia da discussão e da votação do meu relatório”, afirmou.
A assessoria da Câmara informou que as medidas adotadas têm conseguido manter baixo o risco de infecção por covid-19 na Casa. “A adoção do teletrabalho, para a maior parte dos servidores, e do Sistema de Deliberação Remota, para os parlamentares, têm permitido manter o risco de contágio sob controle, com números baixos em comparação ao total de pessoas que circulariam na Casa se estivesse aberta em condições normais — mais de 20 mil por dia, entre parlamentares, servidores, terceirizados, visitantes e população flutuante em geral”, disse o comunicado da assessoria.
No Palácio do Planalto, houve um aumento de quase 65% de casos de covid-19 em julho, segundo a Secretaria-Geral da Presidência. No dia 3 do mês passado, a pasta havia contabilizado 108 servidores infectados. Já no dia 31, a quantidade saltou para 178.
De acordo com a Secretaria-Geral, 147 servidores da Presidência da República recuperaram-se da doença até o fim do mês passado, e 31 servidores seguem em tratamento. (JV)
Centro de Inteligência
Veja algumas das funções do novo órgão
Planejar e executar ações para o “enfrentamento de ameaças à segurança e à estabilidade do Estado e da sociedade”
Assessorar os órgãos em políticas de segurança pública
Identificar “ameaças decorrentes de atividades criminosas”
Implementar a “produção de inteligência corrente e a coleta estruturada de dados”