Alexandre Garcia: os dois erros, o de Mandetta e o de não terem cancelado o carnaval

"O triste nisso, além do carnaval mantido e o mau conselho inicial do Ministério da Saúde, é a desigualdade de chances entre os que têm meios para se prevenir e se curar rapidamente e os que ficam à mercê da sorte"

Alexandre Garcia
postado em 12/08/2020 06:00 / atualizado em 12/08/2020 06:47
 (crédito:  Minervino Junior/CB/D.A Press)
(crédito: Minervino Junior/CB/D.A Press)

Segunda-feira, na Fundação Oswaldo Cruz, o ministro Pazuello disse que não é correto aconselhar a ficar em casa com sintomas, até sentir falta de ar. Lembrou que o essencial é o diagnóstico precoce e o tratamento imediato. A propósito, o maior erro de Mandetta foi ter recomendado que, ao sentir sintomas da covid, a pessoa ficasse em casa por 14 dias e só procurasse auxílio quando sentisse falta de ar. Ora, a falta de ar já indica uma fase adiantada da doença, em que os pulmões estão com líquido, e o ar inspirado não oxigena o sangue o suficiente. E houve outro grande erro anterior: o de não terem cancelado o carnaval, numa época em que era cancelado o ano-novo chinês. As aglomerações em blocos inocularam o país, principalmente a partir do Rio e de São Paulo.

Agora, as notícias sobre mais de 100 mil vidas perdidas para a covid deixam dúvidas. A Itália é o quarto país mais atingido pelo vírus — 582 mortes por milhão de habitantes (o Brasil é o nono, com 476 mortes por milhão). Estudos italianos, comparando o atestado de óbito com o prontuário, revelam que, em média, os que morreram tinham outras três doenças. É bom considerar que no Brasil morreram, no ano passado, 140 mil pessoas por infecções das vias respiratórias inferiores, como gripe e pneumonia, não contando casos crônicos.

O triste nisso, além do carnaval mantido e o mau conselho inicial do Ministério da Saúde, é a desigualdade de chances entre os que têm meios para se prevenir e se curar rapidamente e os que ficam à mercê da sorte. Há os que têm acesso a preventivos, como o zinco e a vitamina D, e à receita para ivermectina; havendo sintomas, têm acesso a receitas para hidroxicloroquina e azitromicina com o médico de família — e isso nem entra nas estatísticas. Mas a maciça maioria da população não tem essa proximidade com médicos nem recursos, por exemplo, para ir a uma farmácia de manipulação com pedido de zinco. A propósito, o ministro Pazuello disse que “a gente precisa compreender como parar o sangramento”.

Para diminuir essa desigualdade, há médicos em voluntariado. Em Brasília, dois grupos de 492 médicos estão se dedicando a comunidades carentes de prevenção e tratamento da covid. Há, inclusive, conta bancária recebendo contribuições para comprar os medicamentos para quem precisa. E evitam-se internações. Iniciativas assim se espalham pelo Brasil, para “parar o sangramento”. Mais de 100 mil vidas perdidas são uma voz que clama por respostas sobre o que se fez, o que não se fez e por quê.

“O triste nisso, além do carnaval mantido e o mau conselho inicial do Ministério da Saúde, é a desigualdade de chances entre os que têm meios para se prevenir e se curar rapidamente e os que ficam à mercê da sorte”

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação