Maia diz que saída do DEM e MDB do Centrão não tem a ver com sucessão

Apesar do que afirma do presidente da Câmara, pré-candidatos já se movimentam de olho na sua cadeira, enquanto ele trabalha por um sucessor

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), se manifestou nesta terça-feira (28/7) sobre a saída do DEM e do MDB do bloco que reúne partidos Centrão na Casa. O parlamentar disse que o "desfazimento" do grupo é natural e "segue um padrão estabelecido pela prática congressual". "Nada tem a ver com a eleição para a Mesa Diretora em 2021", afirmou em nota.

Maia disse "que a formação e desfazimento dos blocos no início de cada sessão legislativa é prática reiterada na Câmara dos Deputados", e que não teria relação com divergências internas entre as siglas. O presidente da Casa afirmou que o bloco foi formado para a Comissão Mista de Orçamento (CMO), quando todo começo de ano partidos buscam se alinhar para conseguir uma melhor representatividade na comissão.

"Os blocos formados com esse propósito duram, em geral, até a publicação da composição da CMO e sua instalação. Como, em razão da pandemia, as Comissões ainda não se reuniram, a existência do bloco acabou se prolongando", ressaltou. O bloco é formado hoje pelo PL, PP, PSD, MDB, DEM, Solidariedade, PTB, PROS e Avante, e foi formalizado no ano passado para a formação da CMO.

[SAIBAMAIS]Apesar do que afirma o presidente, a saída dos partidos deixou mais evidente a divisão que já se observava no bloco liderado por Arthur Lira (PP-AL). O Palácio do Planalto se aproximou do grupo à medida que pedidos de impeachment chegavam na Casa e logo em seguida passou a buscar apoio para formar uma base para conseguir aprovar projetos. A saída dos dois partidos significa 63 parlamentares a menos nesse processo de negociação - ainda que o DEM e o MDB já atuavam de forma mais independente de Lira.

Além de Maia, os líderes dos partidos, Efraim Filho (DEM-PB) e Baleia Rossi (MDB-SP) também negam relação da saída das legendas com a sucessão na Câmara. Sabe-se, no entanto, que houve, sim, influência do processo na decisão, como se fala entre os parlamentares. Dentro do PP, há Lira e Aguinaldo Ribeiro (PB) de olho na cadeira de Maia, que quer fazer um sucessor em fevereiro do próximo ano. Enquanto alguns buscam ser o nome do Executivo para a presidência, outros atuam pelo apoio de Maia.

Autonomia

Há ainda o fator aproximação com o Executivo: enquanto Lira e outros parlamentares de partidos do Centrão se aproximaram mais do Planalto, com indicações de nomes a cargos em ministérios, outras legendas ficaram mais distantes, falando em autonomia em relação ao governo - como foi o caso do DEM e MDB.

O ápice dessa divergência se deu na semana passada, com a votação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que cria o Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb). Arthur Lira agiu como um articulador do governo e tentou retirar o texto da pauta, para o Planalto ganhar mais um tempo para emplacar suas propostas. Mas Maia queria votar a matéria e ela foi mantida em pauta.

Ao Correio, Efraim Filho admitiu que a votação contribuiu com a decisão tomada. "Ali teve um episódio, que foi um requerimento de retirada de pauta por parte do bloco. O fato de a gente ter a relator do Fundeb, a professora Dorinha (TO), gerou um ruído interno dentro da bancada, mas foi superado, tanto que logo depois foi retirado. Mas, para evitar repetição de episódios como esse, o curso natural das coisas era já ter feito a saída do bloco, e acho que esse episódio acaba simbolizando a saída, mas sem nenhum tipo de estresse", disse.