Brasília, 03 de abril de 2022 — Após dois anos de uma crise global que levou ao limite os sistemas de saúde e a poucos meses das eleições gerais no país, a Unimed do Brasil lança, nesta terça-feira (05.04), em Brasília, uma agenda para debater o futuro do setor. A programação, que reunirá representantes dos poderes públicos, lideranças políticas e as principais entidades médicas, cooperativistas e da saúde suplementar, celebra a inauguração do novo espaço de relacionamento institucional do Sistema Unimed na capital federal. Líder do mercado de planos de saúde, a marca atende a 18,5 milhões de brasileiros.
O objetivo do espaço é fortalecer a interlocução com toda a sociedade e contribuir na formulação de políticas públicas que tornem o setor de saúde mais eficiente e inclusivo. A pauta enfatiza a busca de convergência entre os diversos agentes do setor para viabilizar os avanços necessários. Entre os pontos de consenso, a Unimed destaca a garantia de acesso, a qualidade e a efetividade da assistência prestada às pessoas, a clareza na definição de direitos e obrigações e a sustentabilidade da proteção social ofertada pelos planos de saúde.
Presente em 86% dos municípios brasileiros, o sistema de cooperativas médicas Unimed aporta mais de R$ 65 bilhões por ano na rede de consultórios e serviços de saúde — que inclui cerca de 2,5 mil hospitais credenciados e 154 hospitais próprios em todo o país. Só nos últimos dois anos, a Unimed entregou 16 novas unidades, o equivalente a R$ 1,5 bilhão em investimentos estruturantes mantidos durante a pandemia. Em dezembro, a marca completará 55 anos, com projetos para fortalecer a integração e a eficiência das cooperativas, ampliar a participação no mercado, incluindo o desenvolvimento de negócios complementares, e acelerar a transformação digital, com estratégias que envolvem o UnimedLab, um hub de inovação aberta, e a Faculdade Unimed.
Para se ter ideia do tamanho desse mercado, em março, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) atualizou os números de beneficiários de planos de saúde relativos a janeiro de 2022. O setor segue em crescimento, chegando a 48,9 milhões de usuários em planos de assistência médica e a 29,2 milhões em planos exclusivamente odontológicos.
Em um ano houve crescimento de 1,4 milhão de beneficiários — 3,06% em relação a janeiro de 2021 — nos planos médico-hospitalares. Nos planos exclusivamente odontológicos, o crescimento foi de 9,04% no mesmo período, com a entrada de 2,4 milhões de beneficiários.
Pautando a discussão sobre a evolução do setor está o presidente da Unimed do Brasil, o médico Omar Abujamra Junior, alicerçado nos 38% de participação das cooperativas no mercado de planos de assistência médico-hospitalar.
O médico responde, a seguir, a algumas questões sobre os desafios da saúde suplementar e a importância do debate no atual contexto político.
A Unimed está inaugurando um espaço institucional em Brasília em um evento que debaterá os rumos da saúde suplementar no país. Na sua visão, quais são os temas relevantes para que o setor de saúde suplementar possa alavancar a saúde no Brasil, envolvendo tanto o Governo Federal quanto a iniciativa privada?
A premissa para esse debate é que sistemas de saúde bem organizados são um pilar das sociedades democráticas. Uma política de estado consistente, que vise garantir atenção à saúde de qualidade para todos os brasileiros, precisa considerar a saúde suplementar como um de seus instrumentos. Hoje, os planos de saúde cumprem um papel social relevante, atendendo a 49 milhões de pessoas, ou quase um quarto de toda a nossa população. Com um marco regulatório mais adequado seria possível incluir ainda mais pessoas, que hoje estão à margem dessa cobertura. Fundamentalmente, precisamos de mais flexibilidade e previsibilidade para ofertar produtos que atendam às diferentes necessidades das famílias, com muita clareza na definição de direitos e obrigações. Portanto, o debate sobre a ampliação do acesso à saúde suplementar, com regras bem definidas, interessa a toda a sociedade e é o caminho para aliviar a pressão sobre o sistema público de saúde.
O que é preciso melhorar no setor, tanto público quanto privado, para que a população brasileira tenha uma saúde de melhor qualidade, de fácil acesso e custo adequado?
Temos um sistema público que é referência internacional, e a crise da covid-19 fez ressaltar a relevância do SUS. Ainda assim, precisamos responder a questões como o subfinanciamento e a ineficiência na aplicação dos recursos já disponíveis, que são relevantes e poderiam resultar em melhores indicadores de saúde da população. O tema da eficiência assistencial também é crítico no setor privado, porque temos um modelo de cuidado ainda fragmentado e que, em geral, só atua sob a demanda do usuário. Esse cenário favorece, por um lado, o desperdício e a utilização desordenada dos serviços, enquanto uma parcela das pessoas deixa de buscar atendimento em tempo oportuno. Portanto, evoluir na gestão clínica, orientando ativamente as pessoas quanto às suas necessidades de saúde, é tão importante quanto garantir as coberturas e a segurança dos contratos.
Qual a contribuição da Unimed a essa discussão?
Hoje, a Unimed cuida da saúde de 18,5 milhões de brasileiros — o que é quase toda a população de um país como o Chile. Nossas cooperativas atuam em nove de cada dez cidades do país, em todas as regiões. Isso nos permite conhecer e responder às diversas realidades locais, e proporciona uma proximidade natural, que favorece parcerias com o sistema público. É a partir de todo o conhecimento acumulado nesses 55 anos que estamos propondo um grande debate em torno de uma agenda para avançarmos nos pontos críticos do setor de saúde. São temas, como o aprimoramento da regulamentação dos planos de saúde, ações compartilhadas com o sistema público, investimentos em inovação e transformação digital, além do estudo de novos modelos organizacionais e aporte de recursos para o SUS.
Um dos desafios do setor é a judicialização de demandas por parte dos clientes. Somando-se a isso, há cerca de 250 projetos de lei no Congresso Nacional, propondo mudanças nos planos de saúde. Isso demonstra uma dificuldade na gestão. Quais os principais entraves e as propostas de solução da Unimed?
O crescimento da judicialização e os inúmeros projetos de lei, que foram agrupados para a revisão do marco regulatório dos planos de saúde, mostram que o tema é sensível e precisamos discutir com mais fundamentos. Os planos de saúde funcionam em uma lógica de solidariedade entre os participantes — todos os clientes pagam para garantir assistência àqueles que precisarem. Como os recursos são finitos, sempre que uma demanda particular é concedida fora das regras contratadas, seja pela via judicial ou por uma legislação muito específica, ferimos a equidade entre os beneficiários. Além disso, outro entrave é a falta de previsibilidade nas regras e nas coberturas. Sem uma referência clara do que as operadoras devem cobrir, a tendência são produtos cada vez mais caros — e sabemos que o preço é a principal barreira que impede as pessoas de ter um plano de saúde no Brasil. Temos de avançar nesse debate com toda a sociedade, não apenas junto ao Congresso ou no Judiciário.
Estamos em um ano de eleições presidenciais em que os rumos da saúde representam um dos itens da pauta de maior relevância dos candidatos. A Unimed busca uma interlocução com os candidatos ao cargo?
Estas eleições gerais coincidem com um momento crucial para os sistemas de saúde, após dois anos de uma das mais severas crises sanitárias globais. A pandemia mostrou a relevância, mas também enfatizou as distorções do sistema e as desigualdades no acesso à saúde. Somado a isso, o cenário de baixo crescimento econômico e crise fiscal do Estado brasileiro pressiona ainda mais o setor, exatamente quando temos uma tendência de aumento na utilização dos serviços. Portanto, garantir um sistema de saúde mais efetivo e sustentável é a pauta central da agenda que vamos apresentar nesta terça-feira. Nesse contexto, pretendemos estabelecer uma interlocução ampla com todas as forças políticas e com a sociedade, sempre em conjunto com as entidades médicas, do cooperativismo e as representantes da saúde suplementar. Temos de buscar os pontos de convergência. Não vamos superar os entraves sem um nível mais profundo de cooperação, dentro e fora do setor.
Quais os desafios e os planos para os próximos anos para a Unimed no Brasil?
A Unimed já lidera o setor, com 38% do mercado nacional de planos de saúde e a maior cobertura, tanto em termos geográficos quanto na abrangência da nossa rede própria e parceira. Naturalmente, projetamos ampliar essa participação de forma sustentável e consolidar nosso modelo como referência. Repare que somos o único segmento da saúde suplementar criado a partir do olhar do médico e que preserva um alto grau de autonomia nas suas decisões assistenciais — mesmo apoiadas em evidências e protocolos. Temos grandes desafios também, como uma concorrência mais agressiva, que tem se viabilizado justamente com modelos que limitam o poder de escolha de médicos e pacientes. Diante desse cenário, focamos na maior integração das nossas cooperativas e empresas, estamos investindo em inovação, melhoria da governança e ganhos de eficiência. E digo que estamos preparados para colaborar com o poder público em iniciativas conjuntas que melhorem o acesso à saúde e promovam o bem-estar das pessoas.