O afastamento dos estudantes da educação básica das salas de aula devido à pandemia da Covid-19 deixou sequelas na educação brasileira que precisam ser solucionadas nos próximos anos. A avaliação, feita por Celso Niskier, presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), ressalta a necessidade desta pauta ser uma prioridade do novo governo.
Neste sentido, o setor educacional particular propõe a criação de um programa nacional de recuperação da aprendizagem da educação básica que envolva instituições privadas e públicas em um grande esforço nacional. Niskier defende a medida juntamente com o resgate e a melhoria de programas sociais que favoreçam a inclusão e manutenção de mais jovens no ensino superior, “é o caminho para o futuro que o país precisa”, argumenta.
Pesquisa recente divulgada pela ABMES, em parceria com a empresa Symplicity, aponta que 69% dos egressos do ensino superior estão inseridos no mercado de trabalho ao final de um ano, com renda média mensal de R$ 3,8 mil, valor acima da média recebida pelos brasileiros. Apesar disso, os dados voltados às novas matrículas nos últimos anos são preocupantes.
De acordo com o Censo da Educação Superior 2021, divulgado em novembro pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e pelo Ministério da Educação (MEC), entre 2020 e 2021, o crescimento de inscrições foi de 6,6%, variação sustentada pelo crescimento de 24,2% dos ingressantes da modalidade de cursos à distância. Ao considerar apenas os presenciais, a redução foi de 20,3% no número de novos estudantes.
Com essa realidade, a ABMES avalia que o próximo ano será de grandes debates junto ao Legislativo e Executivo para repensar e reestruturar as políticas públicas capazes de ampliar o acesso e a manutenção dos jovens no ensino superior, com o objetivo de mudar o déficit de estudantes nas instituições.
No âmbito da rede privada de ensino superior, a Associação ressalta que há um empenho em continuar com o investimento em tecnologias voltadas ao modelo híbrido de ensino, que já era trabalhado por algumas instituições, e ganhou grande relevância durante a pandemia. Há uma expectativa, no que diz respeito aos cursos a distância, de que o novo governo tenha um olhar especial sobre a regulamentação e políticas públicas que se alinhem às novas demandas do setor educacional.
Na última década, o número de ingressantes em cursos superiores de graduação, na modalidade de educação a distância (EaD), aumentou 474%, conforme levantamento do Inep e MEC. No mesmo período, a quantidade de ingressantes em cursos presenciais diminuiu 23,4%. "Precisamos entender a realidade do ensino hoje no Brasil, levando em consideração as tecnologias e os novos formatos, para pensar em políticas públicas que promovam a expansão do ensino superior com qualidade”, enfatiza Niskier.
Inclusão social
A entidade tem ainda entre suas principais pautas defendidas a ampliação e melhoria de políticas públicas de acesso ao ensino superior, garantindo mais oportunidades para os jovens de baixa renda. "Defendemos um programa de financiamento estudantil com um forte caráter social, tendo em vista que o país precisa de um modelo que atrele os pagamentos futuros à renda efetivamente recebida pelos egressos, por exemplo", pontua Niskier.
Além disso, de acordo com a ABMES, é essencial que as vagas para o financiamento público sejam ampliadas para incluir os cursos a distância, que representam 51% do total de matrículas, conforme o Censo da Educação Superior 2021. Nesse âmbito, a ABMES ainda defende a ampliação do Programa Universidade para Todos (ProUni), responsável por conceder bolsas de estudo integrais e parciais de 50% em instituições privadas de ensino superior, em cursos de graduação e sequenciais de formação específica, a estudantes brasileiros sem diploma de nível superior.
“Além da reestruturação e ampliação do acesso ao fundo de financiamento estudantil e da expansão do ProUni, também são importantes aquelas ações que colaborem para a melhoria da qualidade do ensino oferecido”, informa o presidente da Associação. Outro tema de interesse da organização está atrelado ao financiamento à inovação, necessário para as novas demandas exigidas pelo mercado de trabalho aos futuros profissionais; e a modernização do marco regulatório da avaliação e da supervisão.
#EducaçãoMaisForte
Com o objetivo de colocar a educação como prioridade na pauta política brasileira, o Fórum das Entidades Representativas do Ensino Superior Particular, do qual a ABMES e outras oito entidades fazem parte, lançou um documento com dez propostas para políticas públicas educacionais nos próximos anos. Parte do movimento #EducaçãoMaisForte, a lista de propostas é fruto de análises estratégicas e deliberação política das principais organizações que atuam para o fortalecimento da educação particular no Brasil.
Além das políticas de acesso ao ensino, entre as propostas estão temas urgentes para o setor como uma reforma tributária justa para a educação e a modernização do marco regulatório da avaliação e da supervisão das instituições.
Matéria escrita pela jornalista Gabriella Collodetti