Opinião

Empreendedorismo feminino como vetor para a transformação social

Mulheres empreendedoras não só garantem o sustento de suas famílias, como também atuam como impulsionadoras de desenvolvimento, especialmente em periferias e grupos sociais historicamente menos favorecidos

Margarete Coelho — Diretora de Administração e Finanças do Sebrae Nacional

O empreendedorismo feminino já está consolidado como uma força transformadora no cenário econômico e social brasileiro. Com sua atividade, as mulheres empreendedoras não só garantem o sustento de suas famílias, como também atuam como impulsionadoras de desenvolvimento, especialmente em periferias e grupos sociais historicamente menos favorecidos. Ao criarem e expandirem seus negócios, elas geram emprego, renda e estimulam o crescimento local, contribuindo de forma relevante para a redução das desigualdades.

Além do impacto econômico, o empreendedorismo representa uma alternativa de emancipação para muitas mulheres, sobretudo àquelas que já sofreram ou ainda enfrentam situações de violência, seja ela física ou psicológica. Ao assumirem o comando dos próprios negócios, elas encontram na atividade empreendedora uma alternativa para romper ciclos de dependência, conquistar a autonomia, recuperar a autoestima e reafirmar a sua dignidade.

Todavia, apesar do notável crescimento do empreendedorismo feminino nas últimas décadas, os desafios persistem. Os últimos estudos realizados pelo Sebrae revelam que 25% das empreendedoras já sofreram situações de preconceito na condução do seu negócio. 

Além disso, o acúmulo de responsabilidades domésticas e o cuidado com familiares reduzem o tempo que elas poderiam dedicar ao aprimoramento e à expansão de seus negócios. As mulheres que empreendem dedicam, em média, o dobro das horas despendidas pelos homens aos cuidados com familiares e nos afazeres domésticos — o que acarreta um sentimento dominante de sobrecarga entre elas. Por óbvio, isso significa horas a menos dedicadas aos seus negócios.

Como resultado desses e outros fatores limitantes, constatamos que a taxa média de juros para empréstimos feitos para empreendedoras é aproximadamente quatro pontos percentuais mais alta que a praticada para os homens. Em algumas situações, a taxa de juros paga por mulheres pode ser ainda mais elevada, superando a marca de 60% ao ano, e esses resultados conseguem ser ainda maiores quando analisamos grupos de mulheres da Região Nordeste, por exemplo.

Em razão desses obstáculos, as donas de negócios terminam por receber uma fatia menor dos recursos que o mercado de crédito disponibiliza para o setor. Ou seja, perdem investimentos que seriam essenciais para que suas empresas pudessem ampliar a capacidade produtiva com a incorporação de novas tecnologias, por exemplo.

O Sebrae tem atuado de maneira estratégica e abrangente para contribuir com a reversão desse quadro. No ano passado, lançamos, em parceria com o governo federal, o programa Acredita Delas, que tem como principal objetivo facilitar o acesso das mulheres empreendedoras a crédito. A criação de uma política pública que assegurasse condições mais favoráveis de acesso a crédito para mulheres donas de pequenos negócios era uma medida urgente e almejada pelas empreendedoras brasileiras há décadas.

A ação está ofertando condições especiais e orientações personalizadas para que elas possam superar as dificuldades financeiras e investir no crescimento de suas atividades. O programa utiliza o Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas (FAMPE), gerido pelo Sebrae, para oferecer até 100% de garantia nas operações de crédito solicitadas por empreendedoras.

Isso propicia empréstimos com taxas de juros mais baratas e contribui para a superação de um problema estrutural, voltando o olhar para as mulheres que, inclusive, têm empreendido tanto quanto os homens e já demandam mais crédito do que eles. 

As mulheres são um pilar essencial para o desenvolvimento econômico e social. E, pelo empreendedorismo, podem conquistar ainda mais! Por isso, vamos continuar trabalhando para contribuir com a consolidação das políticas públicas necessárias para incluir mais mulheres nesse universo e para que elas possam ter condições de igualdade no mercado, construindo um futuro mais inclusivo, diverso e justo.

 


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