
A demissão do técnico Dorival Júnior e o clamor pela contratação de um técnico estrangeiro para o restante das Eliminatórias Sul-Americanas e a Copa do Mundo de 2026 é justa, mas causa arrepio nos supersticiosos: jamais um treinador estrangeiro conquistou o título em 22 edições. O austríaco Ernst Happel esteve muito próximo em 1978. Guiou a Holanda ao vice contra a Argentina
A Seleção teve três técnicos importados em 111 anos de história. O uruguaio Ramón Platero, o português Joreca e o argentino Filpo Núñez. Foram sete jogos sob o comando de donos de prancheta estrangeiros: cinco vitórias, um empate e uma derrota.
Escolher um técnico estrangeiro parece absurdo, mas é uma tendência. As potências abrem fronteiras. A Inglaterra entregou a geração de Bellingham ao alemão Thomas Tuchel — o mentor do bi do Chelsea na Liga dos Campeões da Europa na temporada de 2020/2021. O Uruguai é comandado pelo argentino Marcelo “El Loco” Bielsa. O espanhol Roberto Martínez escala Portugal. Os patrícios estão classificados para as semifinais da Uefa Nations League.
A Espanha teve coragem. Os atuais campeões da Eurocopa são liderados por Luís De La Fuente. Ele é o técnico derrotado por André Jardine na decisão do torneio de futebol masculino na conquista do ouro nos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020. Em alta no México, o maior conhecedor da safra do Brasil jamais foi sequer cogitado pela CBF. John Textor tentou levar Jardine para o Botafogo. Ele preferiu continuar no América do México. De tanto empilhar títulos nos gramados de lá, uma hora dessas ele assumirá a seleção azteca.
A escola brasileira está em baixa. O italiano Carlo Ancelotti sempre foi o preferido do presidente reeleito Ednaldo Rodrigues. Embora seja contraditório, o dirigente baiano não morre de amores por Jorge Jesus — o favorito — nem por Abel Ferreira, mas estaria disposto a engoli-los. Entre os brasileiros, Filipe Luís seria o último romântico.
A 439 dias da Copa, Dorival é o menos culpado pela crise. Tite anunciou a saída em março de 2022. Nove meses antes da caça ao hexa no Catar. Ednaldo Rodrigues foi eleito presidente da CBF no mesmo mês e procrastinou a decisão até janeiro de 2024, quando oficializou Dorival sucessor. Ramon Menezes e Fernando Diniz eram interinos.
A passagem de Dorival pela Seleção será lembrada por usar a réplica do agasalho de 1998 do Zagallo como amuleto. Bancar o Brasil na final da Copa de 2026. Pelo dedo levantado fora da roda pedindo para falar antes dos pênaltis contra o Uruguai na Copa América. Deveria estar no centro! Por escalar o Brasil no 4-2-4 contra a Argentina e tomar 4 x 1. Mas quem é tri da Copa do Brasil por Santos (2010), Flamengo (2022) e São Paulo (2023); campeão da Libertadores pelo Flamengo (2022); e vice do Brasileirão com o Santos (2016) tem valor. Não deu liga em 16 partidas na Seleção. A prancheta pesou, mas mas ele merece o meu respeito.