Opinião

O arroz brasileiro mais competitivo no contexto global

O Brasil tem uma agricultura reconhecida mundialmente, e seu arroz é sinônimo de qualidade. O diálogo entre governos e indústrias de diferentes países pode ser um caminho para construir um modelo comercial sustentável

A ampliação do comércio de arroz entre Brasil e México pode ser ainda mais fortalecida por meio de acordos comerciais que garantam condições justas de competitividade -  (crédito: Marcello Casal Júnior/Agência Brasil)
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A ampliação do comércio de arroz entre Brasil e México pode ser ainda mais fortalecida por meio de acordos comerciais que garantam condições justas de competitividade - (crédito: Marcello Casal Júnior/Agência Brasil)

ELTON DOELER, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz)

Referência em qualidade no mercado internacional, o arroz brasileiro — embarcado para mais de 100 países no ano passado — inicia 2025 com o desafio de aprimorar sua competitividade e ampliar sua participação no comércio exterior. Passada a abertura oficial da colheita da nova safra, a expectativa é de aumento de 11,4% na produção do grão em relação ao ciclo anterior. Serão 11,8 milhões de toneladas colhidas, conforme estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Somos o 10º maior produtor de arroz do mundo — e o primeiro fora da Ásia. Temos plenas condições de atender à demanda externa, com fluxo de exportação estável, sem comprometer o abastecimento interno. Mais do que isso: nossa capacidade produtiva pode ser ampliada a depender da exigência, uma vez que dispomos de áreas agricultáveis, tecnologia avançada e condições climáticas favoráveis, além de disponibilidade industrial para aumento do volume beneficiado. Somos parte do Mercosul, bloco econômico que conta com excedentes de produção, o que reforça a necessidade de exportação do grão para assegurar a sustentabilidade do setor orizícola e a manutenção da segurança alimentar mundial. 

Nesse contexto, a Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz), por meio do projeto de exportação Brazilian Rice — realizado junto à Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) —, tem trabalhado na abertura, ampliação e manutenção de mercados internacionais. O projeto favorece, entre outros aspectos, a construção de parcerias estratégicas, por meio da promoção comercial e de imagem do arroz brasileiro.

Um exemplo de parceria com potencial de expansão tem sido desenvolvida com o México — destino incluído no rol de mercados prioritários do Brazilian Rice. O país norte-americano é um grande consumidor de arroz e depende de importações para garantir a segurança alimentar de sua população. Nesse sentido, o Brasil tem se consolidado como um parceiro estratégico e confiável no suprimento de arroz de qualidade.

O Pacote contra a Inflação e a Carestia (PACIC), política doméstica do governo mexicano para garantir o acesso a alimentos essenciais a preços justos, permitiu que o arroz brasileiro ampliasse significativamente sua presença nesse mercado, a partir da isenção de tarifa de importação para o produto brasileiro. 

Com a implementação do programa, em maio de 2022, as exportações para o México cresceram mais de 10 vezes, passando de 32 mil para 450 mil toneladas. Esse avanço demonstra a confiança dos importadores e consumidores mexicanos na qualidade do nosso produto e reforça o potencial de cooperação entre os dois países no abastecimento desse item essencial.

A renovação do PACIC até o fim deste ano é uma medida positiva, mas também uma oportunidade de aprimoramento da parceria comercial. Atualmente, apenas o arroz em casca continua isento de tarifas, enquanto o grão beneficiado pela indústria voltou a ser taxado em 16%, impactando a competitividade no mercado mexicano. Nesse sentido, tem-se trabalhado por um tratamento isonômico, principalmente em relação a outros países do Mercosul.

A ampliação do comércio de arroz entre Brasil e México pode ser ainda mais fortalecida por meio de acordos comerciais que garantam condições justas de competitividade. Já possuímos Acordos de Complementação Econômica (ACEs) com o México, como o ACE 55, que prevê livre comércio de automóveis, e o ACE 53, que elimina ou reduz tarifas de importação para cerca de 800 posições tarifárias. O arroz também tem de ser considerado nessas tratativas.

O caso do México é um exemplo, mas evidencia um desafio maior enfrentado pelo Brasil: a necessidade de fortalecer políticas de abertura comercial, com ampliação e manutenção de acordos internacionais. 

Essa missão torna-se ainda mais desafiadora frente a um contexto em que o multilateralismo tem perdido terreno para o protecionismo. Temos poucos acordos comerciais vigentes que incluem o arroz, o que restringe nosso potencial exportador e reduz nossa competitividade global. Para que os produtos nacionais ganhem maior escala sem entraves desnecessários, o livre mercado é que deve reger essas relações.

O Brasil tem uma agricultura reconhecida mundialmente, e seu arroz é sinônimo de qualidade. O diálogo entre governos e indústrias de diferentes países pode ser um caminho para construir um modelo comercial sustentável, que promova o desenvolvimento econômico conjunto e favoreça a segurança alimentar. Valorizar o arroz brasileiro e defendê-lo de obstáculos vãos é valorizar uma cadeia importante da nossa economia, a nossa vocação agrícola e um comércio global mais livre e justo, que considera as aptidões de cada país.

postado em 29/03/2025 06:00