
Entre abril e outubro, quando há oscilação acentuada da temperatura — ora chove muito, ora ocorre intenso calor —, aumentam os casos de gripe na população. Idosos e crianças no primeiro ano de vida são os mais suscetíveis ao ataque dos vírus, assim como gestantes e profissionais que têm muito contato com públicos diversos, como os professores. Por isso, formam o grupo prioritário nas campanhas anuais contra a influenza.
Neste ano, a campanha em âmbito nacional será iniciada no próximo dia 7, mas o Distrito Federal antecipou a iniciativa e imuniza a população contra a influenza A (H1N1 e H3N2) e B, os vírus que mais afetam os brasileiros, desde terça-feira. O primeiro lote de 80 mil doses deve ser aplicado em 1,2 milhão de indivíduos. E a expectativa é de que, em 2025, a capital federal atinja a meta estipulada pelo governo federal: vacinar ao menos 90% dos mais vulneráveis.
Há menos de um mês no cargo, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, reconheceu, no discurso de posse, que elevar a adesão dos brasileiros à vacinação tem sido um desafio no país, enfrentado com bons resultados pela sua antecessora, a sanitarista e socióloga Nísia Trindade. Padilha, que é médico de formação e ocupou a mesma pasta no governo Dilma, prometeu "impulsionar um movimento nacional pela vacinação e defesa da vida que consolidará o Brasil como o mais amplo e diverso programa público de vacinação do mundo".
O engajamento da sociedade nas campanhas de vacinação é, sem dúvidas, indispensável à saúde coletiva. Mas os quase dois anos e meio de gestão de Nísia Trindade, mesmo com avanços reconhecidos nas taxas de imunização, evidenciam a necessidade da adoção de novas estratégias para se chegar a um cenário de tranquilidade sanitária. No ano passado, por exemplo, a cobertura vacinal contra a influenza chegou a 55%. Em 2023, a 60%.
Ter dúvidas quanto à importância de vacinas, principalmente depois da pandemia da covid-19, é retrocesso. No início de 2020, o mundo se viu diante da maior tragédia sanitária dos últimos 100 anos. Quase 20 milhões de pessoas não resistiram ao Sars-Cov-2, calcula a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 700 mil no Brasil, e a onda letal provocada pelo coronavírus só começou a arrefecer com o surgimento dos imunizantes. Cientistas e médicos uniram-se e, em tempo recorde — menos de um ano —, conseguiram produzir fórmulas capazes de interromper a escalada de mortes.
Mesmo diante de um cenário macabro, negacionistas fizeram campanhas contra as vacinas e as orientações dos especialistas. Não pararam mesmo quando, por conta do aumento de vacinados, pode-se declarar o fim da crise sanitária global. Cinco anos depois do surgimento da covid-19, o vírus das fake news segue contaminando a sociedade e ceifando vidas.
Imunizantes são grandes saltos da ciência e da medicina para a vida das pessoas, desde a infância à velhice. O Brasil, reconhecido internacionalmente pela forma como usufrui desses imunizantes, por meio de um sistema complexo e eficaz de imunização de sua população, não pode perder esse status. A atual campanha da gripe pode ser um momento de volta ao passado, não para impor um retrocesso, mas para recuperar uma prática exemplar de proteger vidas e que é exemplo para muitas nações.