Opinião

Visão do Correio: Trump deixa o mundo em transe

A coerência mais marcante da trajetória de Trump nesses 60 dias na presidência dos EUA é a imprevisibilidade. Seu retorno mergulhou novamente a maior democracia do mundo em um ciclo de tensão interna e desconfiança global

Os primeiros 60 dias de gestão são marcados por várias medidas controversas.  -  (crédito: Mandel Ngan/AFP)
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Os primeiros 60 dias de gestão são marcados por várias medidas controversas. - (crédito: Mandel Ngan/AFP)

Após a Justiça suspender várias medidas polêmicas anunciadas desde o início de seu governo, Donald Trump dirigiu ameaças, nesta quinta-feira, à Suprema Corte dos Estados Unidos com um post sem precedentes na história da democracia norte-americana: "Se o juiz Roberts e a Suprema Corte dos Estados Unidos não resolverem essa situação tóxica e sem precedentes imediatamente, nosso país terá problemas sérios!", escreveu Trump, em sua rede social, Truth.

Na véspera, o republicano havia sido repreendido pelo presidente da Suprema Corte, John Roberts, por ter pedido o impeachment de um juiz, a quem também chamou de "lunático". Ontem, o juiz atacado por Trump, James Boasberg, ordenou que o governo dê mais explicações sobre o descumprimento de sua ordem de suspensão de um voo com deportados no sábado.

Esse é mais um estresse provocado pelas decisões surpreendentes e voluntaristas do novo presidente dos Estados Unidos. Em dois meses de governo, completados também na quinta-feira, Donald Trump deixou não somente a política e a economia de seu país em transe, mas também o mundo inteiro.

Entre outras decisões polêmicas, reativou o programa Permaneça no México, que exige que solicitantes de asilo permaneçam no país latino enquanto seus casos são processados; e declarou emergência na fronteira com a nação vizinha, retomando os investimentos na construção do muro para barrar o ingresso de imigrantes.

Os EUA se retiraram da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Acordo de Paris sobre mudanças climáticas, revertendo a participação estabelecida pelo governo anterior. Trump iniciou investigações sobre supostas práticas comerciais "desleais" de países com os quais os Estados Unidos têm deficit comercial, com foco na China e em acordos com México e Canadá, principalmente.

Ordenou, ainda, a ampliação da exploração de recursos energéticos, eliminando proteções ambientais e impondo restrições à energia eólica offshore. Declarou emergência nacional no setor energético. 

Implementou uma reforma drástica na administração pública, resultando em demissões em massa e reorganização de agências federais, sob a liderança do empresário Elon Musk. Foram encerrados programas de diversidade, equidade e inclusão na administração federal.

Trump concedeu um indulto geral aos participantes do ataque ao Capitólio ocorrido em 6 de janeiro de 2021. Classificou os cartéis de drogas como organizações terroristas. 

Essas ações refletem uma guinada significativa na direção política, econômica e social dos Estados Unidos sob a liderança do republicano e que gera debates e reações tanto no âmbito doméstico quanto internacional.

No plano externo, passou a negociar diretamente com a Rússia a paz na Ucrânia, com cessão de territórios ocupados, e a apoiar a retomada das ações militares de Israel com objetivo de anexar um pedaço da Faixa de Gaza, o que rompe as negociações de paz. Praticamente rompeu o pacto de segurança com seus aliados da Europa.

A coerência mais marcante dessa trajetória de 60 dias na presidência dos EUA é a imprevisibilidade. O retorno de Trump ao poder, longe de trazer estabilidade, mergulhou novamente a maior democracia do mundo em um ciclo de tensão interna e desconfiança global. Sua popularidade em queda — captada pelas últimas pesquisas — é mais do que um dado estatístico. É o reflexo de uma turbulência que pôs o mundo em transe.

 

 

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postado em 22/03/2025 06:00